sábado, 2 de julho de 2011

Companhia, Ausência

Nos sentíamos ligados pelo silêncio, ela sabia que nas próximas palavas estaria contida a despedida e eu pensava se a falta, ausência mesmo de discurso, coseguiria manter alguém não sozinho. Relação ambígua, diria até paradoxal, que surgia do nosso derradeiro encontro. Não sabia se tinha coragem de questionar a existência daquela companhia pela inexistência de contato, pois sim, nem nos tocar estavamos, mantinhamos afastados um do outro sentados em paralelo na beirada da cama. Sem carne, sem verbo: paganismo sem função. O que ela poderia esperar de alguém que sai de sua vida pouco tempo antes de ter entrado ou o que eu desejaria de alguém que provavelmente não voltaria a rever? Não me lembrava bem do que tinhamos conversado a poucos minutos atrás, assuntos tolos ou novidades dispensáveis, imagino que queriamos fugir do futuro, aquele tempo distante - nesse caso próximo - impronunciável. Até mesmo sua boca guardava um gosto de fel, duvidei sobre o uso de um novo batom, ela contestou dizendo ser o de sempre. Uma hora e outra acariciavamos o verso de nossas mãos, mas desistíamos logo em seguida, parecia que aspiravamos voltar ao passado. Era pela incapaciidade de se reverter as engrengens temporais que optávamos pelo seu congelamento, passara-se ao frio de verdade porque eu e ela tremiamos, porém não ventava. As pessoa sempre me interrogaram sobre essa tal mania de evitar o tchau, o até logo, o adeus; e ela nunca deixou de ser uma destas pessoas, entenderia depois de tudo isso? Já passava das dez da noite e eu estava tão longe de casa, não tinha feito nem as malas e necessitava exageradamente de algumas horas de sono antes de viajar. Queria saber que convenção social me guardava naquele lugar ou qual era minha concepção de amor naquela época. Nem um, nem outro, nada me faria sair daquele quarto e abandonar a última pessoa que me amara, ultima sim, porque eu não queria amar a mais ninguém e o motivo da minha aventura era de que não queria amar mais a ela também. Todas aqueles objetos em seu dormitória me faziam sentir se mal, parecia que as parees pintadas a mãos com motivos florais, a caixinha de música, os livros e aquela boneca de porcelana medonha me culpavam por algo que não havia feito. Meu único delito era alimentar todas aquelas mentiras. Seria preciso dispensar tantos outros itens superflulos da minha mochila para portar mais aquela carga extra.
A verdade era uma, não estava mais com ela, já a muito cruzava a BR262 em direção ao Altiplano e sabia que todas aquelas coisas ditas e não ditas pereceriam na estrada, seu destino seria o mesmo da bagagem desmedida abandonada no asfalto, me desconstruia daquela maneira para posteriormente me contruir com outras coisas que porventura encontrasse: novas relações, novas experiênicas, tudo naquele momento me parecia caber muito bem.