terça-feira, 31 de julho de 2012

Pornopoética, Fragmento 3

Desfazendo-se na massa homogenea de uma corrente contínua, uma singela figura feminina de lenço envolto ao pescoço e longos cabelos encaracolados e seu par irropem o aparente equilibrio e mecânica daquelas engrenagens, progridem através da plataforma e se refugiam em seu último banco, quase isolados, porém ainda às vistas de quem não interrompe o passo. Ignorados, passam as indas e vindas dos trens conversando sobre o nada e o tudo, as horas registradas pelos ponteiros embalados do relógio central da estação avançam e aos poucos o ritmo do ambiente se enlerdesse; agora os intervalos entre os metros são maiores e poucos são os usuários que o esperam visto que a cidade nos pede para se rescostar após meia noite. Restam agora nossos incomuns protagonistas anônimos, trocando em confidência mãos que envolvem os quadris e beijos que aquecem e adormessem os olhos nos acentos tornados privados e emoldurados por duas pilastras de pedra cinza. Um instante depois uma pequena rixa faz levantar o garoto, mal humorado e de jaqueta de couro amarrotada, busca um dos pilares já mencionados para ocupar e recompor um novo quadro com outras cores e intenções não tão claras, desbotando o tema anterior de pura ternura e harmonia. Uma expressão desgostosa descruza as pernas da menina de cabelos morenos, expostas por uma saia de tecido vermelho pouco extensa, para leva-las até seu companheiro amuado e amparado de costas à coluna. Ambos agora, ocultos para quem egressa à plataforma pelo seu extremo oposto. Ela repousa ao seu lado e esperam juntos o próximo comboio, quem sabe tardará mais ou quiça nem tanto, mantêem-se em silêncio de igual maneira. Em um roupante ela se volta a sua frente e lhe pergunta: "vc vai ficar assim?" Oprimindo-lhe a resposta com largo e demorado beijo, devorando sua boca e comprimindo-lhe o rosto e o corpo contra o concreto. Alisando-lhe o tronco com as próprias partes do corpo, criando-lhe volume no interior da calça com a própria virília e prontamente o cobrindo com a mão que prega entre suas pernas. Aquele êxtase e sanha ainda completamente estranhos estavam ali para satisfazê-lo; seus olhos abertos nos raros intervalos permitidos denunciavam sua insaciez e loucura. Os corpos alí indivisiveis ardiam e se envolviam nos braços, percorrendo do dorso até as coxas lisas e descobertas, dos glúteos até os seios como tentáculos, coreografia de volúpia e calentura com apenas um fala em seu enredo: "eu quero te chupar!", dita em seu ouvido em voz suave e abafada antes dela arrastar sua línguas nos veios de sua orelha. No momento seguinte, abaixada, seu corpo à altura de seu cinto, abre-o com destreza e saca-lhe o membro para fora, já úmido e latente, seguro entre as duas mãos, massageando e sentindo suas veias ela o engole e o sorve, como se se prova de um doce que não se recusa e apreciando-lhe cada gota em movimentos repetitivos e delirantes! Firme, as mãos dele detidas e emaranhadas até o momento nos cachos de longos fios negros a agarram, jogando seu corpo à sua posição para enfim, deixar em seu controle o ato. Ele a abraça e levanta uma de suas pernas, deslocando a calcinha de seu lugar sacro, penetra-a com o sexo completamente ereto. Ela o sente; o gesto que impele o sexo dele contra o seu em gestos de ir e vir desdobra-se em ondas de excitação e delírio que atravessam todo o seu corpo, cada estocada o insere mais forte e profundamente, gemidos recatados em seu ouvido dão o tom daquele pecado, o tom daquele atrito generoso. A pele e os corpos de ambos vibram e a perna antes escorada sobre um braço agora puxa o quadril como se tal incitação fosse suficiente para partir os limites da carne. O clímax está na expressão de ambos e seu gozo inunda o interior do corpo feminino até então intocado  e se sobressaltando em um grito sufocado apenas pelo ruído do trem que se aproxima. É chegada a hora de recompor-se e tomar enfim o trem de regresso.

sábado, 28 de julho de 2012

Catraca

Absorto em idéias, sigo pelo trajeto habitual até o Metro de São Paulo, minha expressão assume um semblante pesado em razão mesmo dos pensamentos que ocupam a minha mente, meu passo seguro pouco ou nada se detém aos novos e velhos detalhes que assomam à vista daqueles de atenção tadicionamente sensível. O último trecho de asfalto é sucedido pelas escadas que descendem até o sistema de catracas da Estação Jardim São Paulo, antes e enfim uma longa rampa que progride segundo as lei da gravidade de Newton para quem ingressa e egressa. Acesso a uma das roletas de ferro e a trava eletrônicas me barra, sou impedindo de passar alertado pelo ruído de choque metálico e o transe em que levava a minha mente e corpo é temporariamente interrompido, retorno e me fixo sobre o sinal luminoso que informa sobre funcionamento da máquina - está liberada. Em um movimento arisco e desconfiado minha velha jaqueta, presenteada por James Dean em seu filme de 1955, e eu rejeitamos aquele aviso e acionamos a segunda catraca ao lado e nos deparamos com um novo bloqueio. Meu rosto e o das testemunhas anônimas ao redor apontam com um acento de incompreensão. Alguns segundos se passam até me dar conta de que não havia pagado a passagem, saco então o bilhete único da carteira e efetuo o depósito. Cruzo o limite e paro alguns passos a frente para novamente volver os olhos às minhas costa e àquelas dez catraca metálicas enfileiradas para me perguntar: por que tenho que pagar?

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Pornopoética, Fragmento 2

Miro com curiosidade seus olhos entre-abertos, deles uma expressão fantasmagórica de delírio parece esfumar, de sua pele lívida parece ter abandonado todo e qualquer viço; dos seus poros uma ou duas gotas de suor brotam. Apenas isso. Então, lhe pergunto "como está?" Vc suspira e segue sondando em meu rosto, talvez, buscando aquilo que pode ter-lhe roubado a vividez. Nus, desabrigados sobre a cama ainda quente, nossos corpos parecem posar um em referência ao outro; apoiando minha cabeça sobre uma das mãos reviso as curvas de um corpo em estado de suspensão. Passo meus olhos sobre os seios ainda enrijecidos, aliso em ascensão seu quadril que se extende ao horizonte de meus dedos à ampla planície de suas coxas. Meu toque de pueril e rastro sutil progressivamente passa a pesar sobre sua pele, minhas mãos que apenas roçavam suas digitais sobre seus glúteos agora desejam agarrar sua carne com mais força e ímpeto. Tomo suas pernas, firmo meus dedos nas regiões contíguas à sua virília cada uma a sua vez, jurisdicionadas pelo seu sexo, aquelas partes ardem cada vez mais e premidas contra as minhas mãos aos poucos alimentam o ânimo de seu vigor. Novamente próximos, embalo sua nuca em meu braço e beijo suavemente seus lábios, alimentando-os com a minha ânsia, embebendo-os em minha saliva. Sua postura, antes quase inerte, reanima mais uma vez a excitação de nossos sexos, regidos por nossas línguas em confronto; elas dão o tom do movimento de cada uma das partes de nossos corpos. Vc entrelaça suas pernas às minhas e naquele momento nossos sexos não estão mais tão distantes um do outro. Comprimidos, úmidos e latentes, eles apenas aspiram a ser tocados e manejados. Refaço o senda anterior e desço mais uma vez àquele rincón entre suas coxas, ali acaricio o seu sexo, afagando cada um desses lábios para enfim invadi-la com meu dedo. Sinto a correspondência de sua boca que todavia esta colada a minha, suas pernas contraindo-se acusam a mesma vibração de quase duas horas atrás. Trago e provo, destilado em minha mão, aquele sabor agridoce como testigo à sua vista. Quase abertos, seus olhos apenas me pedem "não faça isso!". E te ofereço do mesmo gosto que tu provas com insaciez e com ganas de ter de mim uma resposta similar a tua. Fujo do alcance de sua visão e experimento com a língua daquilo que estave em partilha até aquele instante. Sorvo com a mesma ventura aquele fluxo tênue e generoso, nada vejo, apenas sinto suas pernas que impelem meu rosto contra o seu sexo. Sua respiração ofegante substituirá por dias o silêncio do meu quarto vazio. Ali a sua frente, ajoelhado diante de sua mirada, pulsa o sexo do qual faço uso para te penetrar porque assim, ambiciono, de novo, ouvir a sinfonia de seu gozo.

sábado, 21 de julho de 2012

Pornopoética, Fragmento 1

Em um movimento sereno e misterioso ele retira um objeto de sua bolsa, regressa a cama depois da promessa feita sobre a surpresa que lhe havia preparado para esta noite, seguro por uma das mãos trazia um livro consigo, um volume de não muitas páginas, capa marrom, cujo título era bloqueado por dois dos dedos de sua mão. Sobre a cama, usando uma camisola quase translúcida, branca e com abertura na frente ela espera e aguarda com um ar de suspeita e doçura; assentada sobre as próprias pernas e aninhada entre os lençois de tons claros que cobriam a cama ela guarda seu entusiasmo sobre o reinicio da conversa enquanto ele se acomoda a beira do leito ainda distante do seu corpo. Abre o livro e começa sem cerimônia a leitura de uma página que ele sorteou ao acaso. "descoberta de todo pudor e tecido, ela maneja sua nudez como um império, os artificios de sua carne eram empregadas com tal destreza que aquele homem, o qual ela havia eligido para repartir aquela noite, sentia-se quase possuído apesar de empunhar seu sexo já ereto sobre uma das mãos. A malícia e o desejo no rosto daquela sedutora mulher não deixava dúvidas sobre quem dirigia as regras daquele jogo, ela despreza suas mãos em um gesto vulgar e toma ela mesma o grosso e vigoroso brinquedo do seu amante que, desnorteado, não tem mais nada a fazer do que sentir aquelas sucessivas ondas de calor e prazer em seu âmago.." Enquanto lia, sentia que sua companhia limitava as reações a postura do corpo, substituindo uma posição comoda por outra nem tanto, o roçar daqueles finos lençois denunciavam suas respostas contidas. Atento aqueles gestos ele seguiu sua narração até o "delírio irrefreavel daqueles dois amantes anônimos possuía como unica testemunha o ranger desconjuntados da estrutura da cama que os abrigava..". Fecha o livro subitamente e mira com atenção o rosto e o corpo de sua mulher, a devora naquele mesmo segundo de seu olhar, aparentemente inerte ela apenas deseja, arfante de um esforço que ainda não existe, ela segue desejando sem se mover. Então, abandonando o livro a mesa de cabeceira ele se arrasta suavemente sobre a cama até limite físico que permite encaixar sua boca as orelhas dela, à iminência daquele corpo cálido e torna ao fio da seu enredo interrompido, àquele conto de luxúria e devassidão de personagens ficticios, porém dando enfase agora não tanto aos detalhes de sua história e sim à entonação de sua voz e a vibrante correspondencia fisica de sua ouvinte. Ele passa sua língua às bordas da cartilagem, beija com toques suaves de seus lábios o seu dorso nu e o conto pornopoético que nascia não mais daquele livro, pululava sua imaginação e a realidade daquela cama de casal. Suas mãos deslizam pelo dorso dela e sob a camisola, alcançam aquele lugar proibido para todos os outros homens, menos para ele; encontram sua virilia ardente e trêmula, sua mão acaricia o sexo e seus dedos já umidos e ageis criam o prazer daquelas preliminares e o estopim de gemidos sufocados. Seus seios, seu busto, seus ombros, seu olhos todos delatam um prazer que ela intenta prorrogar internamente e infinitamente.. Não existem mais peças de confecção fria sobre seus corpos, nus e libertinos eles incendiam o único cômodo claro da casa. Ela sobre ele, não pode olhar em seus olhos porque aquele prazer e excitação querem ser vistos sem para tanto necessitarem aparência, ele agarrando com ambas as mãos as ancas daquela madonna e puxando e impelindo em movimentos repetitivos o quadril da sua garota, aquele atrito entre os sexos que dura a eternidade do gozo sexual, a petit mort dos ardorosos casais franceses.. Eles não desejam mais nada, apenas descansar por horas, um em referência ao outro, após aquela última comunhão.