domingo, 28 de junho de 2009

Máximas

"A ninguém é dado o direito de matar um homem aos poucos, apertando o laço da forca paulatinamente com o andar das horas e o passar dos dias; a isso não damos o nome de algoz, chamamos sim, de torturador - alcunha/incumbência demaseadamente inferior."

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Hymne A L'Amour

"Se o azul do céu escurecer
E a alegria na terra fenecer
Não importa, querido
Viverei do nosso amor

Se tu és o sonho dos dias meus
Se os meus beijos sempre foram teus
Não importa, querido
O amargor das dores desta vida

Um punhado de estrelas no infinito irei buscar
E a teus pés esparramar
Não importa os amigos, risos, crenças de castigos
Quero apenas te adorar

Se o destino então nos separar
Se a distante a morte te encontrar
Não importa, querido
Porque morrerei também

Um punhado de estrelas no infinito irei buscar
E a teus pés esparramar
Não importa os amigos, risos, crenças de castigos
Quero apenas te adorar

Quando enfim a vida terminar
E dos sonhos nada mais restar
Num milagre supremo
Deus fará no céu eu te encontrar"

Aqui do alto posso divisar: ela entre cores brancas e tons pastéis que imiscuiam sua alva pele à palidez daquelas paredes, as cores claras aqui não convidam à celebração ou ao prazer; guardam sim, testemunhos de amargura e sofridão. Ela, sozinha, do meu lado, a quem por tantos anos se amparou, recosta mais uma vez sua face em meu peito ainda quente, olhos vermelhos banhados de tristeza, pesares que conduzidos à tona pelo marulho de sentimentos e lembranças inundaram o quarto de luto. A dedicação a mim, consagrada por tantas vezes e nos momentos mais intensos que cruzaram sua vida a minha, agora era estendida também ao leito. Ela jurou e agora cumpria penitência por mim que rompera com a promessa de que juntos feneceriamos até a eternidade - como duas rosas plantadas no mesmo vaso que sorveram das mesmas esperanças, regadas na aurora de cada novo dia. Sonhos compartilhados desde a juventude, estariam adiados e deles - das palavras minhas que deixei escritas, do livro inacabado na escrivaninha, dos risos e conselhos - ela tomará matéria para lhe sustentar nos anos que sobrarão de solidão.
Toda esta devoção - dos braços esparramados sobre meu torso, das flores que acabavam de terem sido colhidas na mesa ao lado, daquela madona enrugada de tanto chorar - fariam do mundo um logradouro de melancolia e penúria se ele volve-se suas vistas para este quadro, para esta soturna despedida. Unidos em torno da vida, em torno de um voto, em torno dos fogos que jubilaram nosso último ano como cúmplices do crime que aparenta ser, a abnegação de um ser humano ao outro.
Daqui ela não pode enxergar a comoção que toma meus sentidos, da dor em que está mergulhada minha aura, daqui tudo que posso fazer é esperar para o reencontro e pelo instante em que eu então poderei pedir perdão.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Arquitetura Vegetal


Um rebento - ela nasce, surge e revela-se em recinto. Faço aqui nova reverência ao potencial desta entidade, filha da natureza, força onipotente da terra; não devemos teme-la e sim aclama-la. Reveste-se de exuberância e faustosidade, cobre nossos olhos e finca suas raízes no seu espaço, em ambientes hostis rompe a improbidade do concreto e dá vivacidade às cores das ruas! Sim, devemos esta dignidade, seu caráter subeversivo ainda pode ensinar muito a humanidade, não falo apenas de sobrevivência e meto-me também em questões de moralidade. É o que chamo à sua natureza insubmissa, sua destreza no combate, ao renascer das cinzas com maior liberdade; sua não sujeição às demandas congênitas e imperiosas e sim a sublevação contra os empecilhos desnaturados. De fato, ela não nega suas necessidades, seja a luz ou a sede, ela ultrapassa seus limites, impõe suas escolhas, e apresenta o remate.
Como manifestar tamanha admiração? Os homens já tentaram: entregaram-se em pinturas com palavras ou pincéis e ovacionaram seus encantos e mistérios, porém nunca alcançaram a simplicidade do florecimento de um botão na primaveram e deve-se admitir nunca serão capazes de representar em telas ou flashs a composição matinal dos mais variados tons de verde que a insolência de um gérmen fez brotar sobre o pó. Oh, como saudá-la sem petulância ou desonestidade? Eu perguntaria a ela.. A resposta sibilaria nos ventos: deita-te em meu reçago, seria sua réplica com toda a justeza.
Mas o que me traz de novo a altivez destes traços refere-se muito mais do que a sua beleza, reflete-se na espontâneadade de suas linhas, na irreverência de suas curvas, na revolta de seus caminhos! Pois o que os homens não aprenderam na sua ânsia por sobrepujar a mãe terra foi a capacidade de assimilar a portentosidade das flores e dos seus amores, os galhos, a sinuosidade de seus filhos os troncos, servidores das folhas, alimento dos seres. Pois se uma árvores tem de obter seu sustento ela o fará não de maneira milagrosa, mas geniosa. Seja nos cantos mais recônditos do recinto ela fomentará meios de atingi-lo, não de maneira reservada ou ingênua, mas sim de forma prodigiosa e mordaz. Pois assim é a arquitetura das plantas: avançam sobre as intempérias e os infortúnios e saem-se vitoriosas nas cadeias de incongruências naturais as quais não temos força para negar ou entender.
Será possivel macaquear tal planejamento, aptidão para a adaptação e engenhosidade? Abro minha janela e enxergo o maior exemplo desta idealização: projentado-se sobre a terra e os muros que me rodeiam estão os galhos desta essência, avolumando-se sob meu olhos, ou melhor, sobre o teto sob nossas cabeças! Ela ocupou o ambiente, amparando-se sobre cimento, um tronco mirrado explode em todas as direções - não importa para que lado volva às vistas - ela se engrandesse e povoa os céus e as lacunas que lhe cabem, ela é grande e se faz evidente. As edificações, por mais cal e areia que consumem, por mais que pelas alturas se elevam não podem sobrepor às eloquencia destes ramos, visto que em seu conjunto, vasto e amplo, ela mantém a sobriedade.

Ergam colunas, cresçam muralhas, construam calçadas, espalhem pedra sobre pedra, pois o tempo mostrará, o verde tomará as ruas, tomará os céus, tomará a cidade!

À Revolução da Plantas, à Arquitetura Natural da flora!

sábado, 20 de junho de 2009

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Start your own Revolution


"O intelectual, um homem que associava à uma mais profunda respeitabilidade de que um homem é capaz uma incapacidade quase ridícula de traduzir em ação os próprios principios; um homem dado à beleza moral, ao bem-estar de sua gente, ao bem-estar universal, mas incapaz de levar a cabo algo de útil em sua vida pessoal; um homem que disperdiça sua existência provinciana mergulhado numa bruma de sonhos utópicos numa bruma de sonhos utópicos; que sabe perfeitamente o que é bem e em nome de que vale a pena viver, mas ao mesmo tempo afunda cada vez mais na lama de uma vida monótona, infeliz no amor, desesperadamente ineficiente em tudo - um homem bom que não sabe agir bem. É um infeliz este homem e torna, e torna os outros infelizes; não ama os próprios irmãos, nem as pessoas que lhe são próximas, mas somente as mais distantes. A sorte de um negro num país remoto, de um trabalhador chinês, de um operário dos Urais, causa-lhe uma crise de sofrimento moral mais aguda do que as desventuras do vizinho e as desditas da mulher. Eram homens que podiam sonhar; não governar. Arruinavam a própria vida e a dos outros; eram irresponsáveis, fracos, fúteis, histéricos."

É exatamente destes homens que quero tratar, apresentam-se como a vanguarda, creem em si como a "única solução", empunhados de idealismo e bravura enfrentam o inimigo, não temem a derrota ou o retrocesso, redem-se ao final do dia para na manhã seguinte recomeçar o combate. Devo admitir, são nutridos de um valentia ímpar estes de quem eu expresso simpatia, porém ao revés dessa virtude carecem de coração. Não digo que se furtam da tarefa de transformar suas palavras em luta, entretanto assevero-me de que não sabem por onde começar, não enxergam em seus próprios âmagos a necessidade de transformação, como podem então começar a revolução se não a iniciam de seu patamar básico? Não sabem do que trato? Pois bem,lhes digo, seus próprios intimos, visto que é dali que se escondem os piores e mais vis inimigos, da onde nascem suas piores fraquezas, a fonte original que derrubou toda e qualquer forma de humanitarismo: o individualismo.
Esse egoísmo torpe os corrompem e eles o desconhecem ou simplesmente negam sua vitalidade. Fruto inato da espécie humana, esse poder negro e baixo desvirtou todos os projetos que algum dia reivindicaram um caminho/alternativa para a história, fizeram de sua matéria fruto para escárnio e deixaram para trás, após banquete e fartura, apenas mártires e insurrectos devaneios. Não gostaria de admitir nestas linhas minha índole pessimista, entretanto não pretendo me entregar a esperanças vãs.
Acredite eu sei do que digo, minhas córnias contaram testemunhos, minha memória guarda-os com decepção e amargura. Se vcs arrogam para si o papel de reformadores dessa sociedade/sistema que me façam antes acreditar que esta verdade corre também em suas veias, que sua utopia visionária fez, antes de progredir pelos prados e ruas, a mudança premente em suas mentes. "Start your own Revolution" e que ela comece de dentro e se expanda até os confins do infinito, que faça os homens sentirem e confiarem nesse novo e tantas vezes já prometido sentimento, essa meus caros é o primeiro passo a ser dado, pois tem em seu cerne o fim último.

Deve estar claro a quem esta carta ou depoimento se dirige. Não me entrego completamente, mas sigo e sirvo nas mesmas fileiras, pois as noite urgem por novas história, distoantes das que já são sabidas; declarações de paixão e comoção que venceram as adversidades e trouxeram em seus seio o fruto bem amado dos desamparados. Pois é preciso a doação própria, seja o sangue ou os bens, daqueles que querem mudar. Que mundo maravilhosos despertaria das trevas do desigualitarismo se as preces de qualquer puro coração infantil fossem ouvidas e atendidas, os pesadelos de uma noite mal dormida não seriam realidade ao despertar e as turbas famélicas não teriam mais porque ganir.
Então demos nossas mãos e cantemos porque as palavras "meu, minha" foram extirpadas de nosso vocabulário e agora só conhecemos o que é nosso!

"Não me atirarei, como Gárchin, no vão da escada, mas também não viverei na esperança de um futuro melhor."

segunda-feira, 15 de junho de 2009

"Eu acho que vi Deus."

"Þú reyndir allt
Já, þúsundfalt
Upplifðir nóg
Komin með nóg
En það varst þú sem allt
Lést í hjarta mér
Og það varst þú sem andann aftur
Kveiktir inní mér

Eg fór, þú fórst

Þú rótar í
Tilfinningum
I hrærivél
Allt úti um allt
En það varst þú sem alltaf varst
Til staðar fyrir mann
Það varst þú sem aldrei dæmdir
Sannur vinur manns

Eg fór, þú fórst
(hopelandic)

Þú siglir á fljótum
Yfir á gömlum ára
Sem skítlekur
Þú syndir að landi
Ýtir frá öldugangi
Ekkert vinnur á
Þú flýtur á sjónum
Sefur á yfirborði
Ljós í þokunni"

Poucas palavras constam no nosso vocabulário e quantas mais houvessem não seriam suficentes para descrever o panorama que nossos olhos presenciaram e as imagens que se imprimiram em nossas mentes. Expiação de todos os demônios que me atormentaram durante a semana, supressão de toda a angustia e qualquer ansiedade, renovação espiritual. Apesar de não existirem registros além daqueles que ficaram na minha memória, acredito mesmo que nenhum suporte imagético seria capaz de fazer jus ou simplesmente traduzir aquela experiência, entretanto pretendo aqui utilizar algumas palavras do nosso pobre instrumenal verbal para tentar descrever ou traçar algumas humildes pinceladas: excelso, sublime, elevado, sumo, supremo, excelente, superior, primoroso, esmerado, perfeito, apurado, genial, impecável, imaculado, virtuoso, belo, bonito, formoso, lindo, nobre, grandioso, magnânimo, majestoso, imponente, suntuoso, faustoso, esplendoroso, ostentoso, luxuoso, singelo, natural, ilógico, anormal, incomum, singular, excepcional, maravilhoso, extraordinário, raro, assombroso, admirável, incrível, prodigioso, miraculoso, milagroso, espantoso, estupendo, insólito, inefável, indescritível, indizível, inexprimível, inexpressável, incalculável, encantador, agradável, delicioso, deleitoso, prazeiroso, soberbo, pitoresco, exótico, inédito, irreverente, atrevido, caprichado, digno, exacerbado, tranqüilo, sereno, sossegado, pleno, divino, etéreo, impalpável, imaterial, intangível, celeste, sobrenatural, ótimo, quieto, silêncioso, harmonioso, elegante, desproporcional, harmônico, inspirador, comovente, iluminado, invulgar, ímpar, impagável, insolúvel, precisoso, valioso, inestimável, caro, válido, legítimo, inimitável, ilimitável, influente, poderoso, essencial, fundamental, importante, prestigioso, grave, imponderável, significavo, impassível, inabalável, impávido, impertubável, intrépido, destemido, corajoso, audacioso, ousado, incontestável, desfrutável,satisfatório, alegre, jovial, feliz, contente, festivo, animado, mirabolante, fastástico, vistosos, bombástico, sedutor, atraente, notável, cativante, fascinante, excitante, frenesi, gozo, agitador, rebelde, insurreto, entusiasmante, estimulante, revolucionário, bravo, bravio, selvagem, indomável, revoltado, gentil, delicado, tempestuoso, criativo, engenhoso, fecundo, emocionante, tocante, enternecedor, intrigante, curioso, simpático, indiscreto, marcante, glorioso, honroso, célebre, famoso, renomado, extravagante, excêntrico, incapturável, recrudescedor, intenso, forte, veemente, violento, robusto, são, vivo, matreiro, astuto, forte, viciante, perverso, depravado, devasso, , respeitoso, incorruptível, corrompedor, imoral, amoral, genuíno, malicioso, cândido, irreprenssível, inocente, ingênuo, incompreensível, ininteligível, inexplicável, confuso, estranho, desordeiro, caótico, babélico, lacônico, erudito, culto, ilustrado, verdadeiro, fidedigno, honesto, real, veraz, mágico, ilustre, insigne, eminente, reticente, reservado, inebriante, embevedor, extasiante, enleante, enlouquecedor, arrebatador, apaixonante, instigante, enfurecedor, reverenciavel, venerável, adorável, puro...; eu acho que vi Deus.

sábado, 13 de junho de 2009

Simón R. Stiepánovitch

"I hurt myself today
to see if i still feel.
I focus on the pain,
the only thing thats real.

The needle tears a hole;
the old familiar sting,
try to kill it all away,
but I remember everything.

what have I become,
my sweetest friend?
Everyone I know,
goes away in the end,

and you could have it all:
my empire of dirt,
I will let you down,
I will make you hurt.

I wear this crown of thorns
upon my liars chair:
full of broken thoughts,
I cannot repair.

Beneath the stains of time,
the feelings dissapear.
You are someone else,
I am still right here."

"Naquela madrugada oficiava a missa diária da limpeza com uma violência mais frenética que a habitual, tratando de purificar o corpo e a alma de vinte anos de guerras inúteis e desenganos de poder."

"Sei perfeitamente que não tenho mais de meio ano de vida; agora, parece, deveriam ocupar-me particularmente questões sobre as trevas de além túmulo e sobre as visões que hão de visitar o meu sono sepucral. Mas, por algum motivo, minha alma não quer saber dessas questões, embora a razão compreenda toda a sua importância."


Ao levantar aquelas pesadas palpebras pela primeira vez, como as janelas de um quarto de veraneio na última manhã da primavera, o mundo se apresentou - todo ele - de um único golpe, fazendo-se presente naquela sensação de dor desafortunada que os tapas de luvas brancas davam e o clima gélido de um ambiente inóspito completava. Os dias seriam seguidos de experiências que moldariam, não somente a face, mas também o espírito deste que acabava de acordar do sono primordial. Os próximos tabefes, mais pessoais e de efeitos mais profundos seriam sentidos nos anos voejantes de sua vida faceira e ignorante, o que em um diálogo despretencioso ele ouviria chamar de "vicissitudes dos maus nascidos".
Até os suspiros dos últimos dias, empapado em seu suor febril e desvalido das forças, ele não aprendera o que a rotina cançara de tentar ensinar. Se é que o verdairo engano não era da própria vida por nunca ter entrevisto um exemplo nas ações dos que cruzaram o seu caminho - afinal a relação de aprendizado não é de mão única entre discente e doscente? Era assim por conseguinte que ele terminava os estudos: sustentado pelo leito anônimo de um quarto escuro, quando todos que o conheciam pelo nome já haviam assomados a companhia dos mortos, mantendo-se vivos apenas nos retratos amarelos que se escodiam entre seus pertences, brincava ele e criava fascínio pelos pensamentos que vinham a sua mente. Apesar de manter em seu íntimo a soberba, não haveriam mais de ouvir contar as histórias que tanto fizeram escarner as passagens da sua juventude; não se lembrava mais ou simplesmente não se importava - o certo era que não poderia ser difícil para qualquer um notar a dor que aquele homem transbordava em sua expressão.
Se ele não papeava mais com estranhos e aos poucos a rispidez e a laconia foi da mesma forma apercebida pelo conhecidos era porque ele sentia que não poderia revelar o fruto de suas meditações. Os devaneios que o avizinhamento da morte sucitava em sua cabeça deveriam por alguma razão moral, que era desconhecida nos tempos modernos, serem preservadas do conhecimento alheio. Era a febre ou a ansiedade que fazia tremer-lhe o corpo inteiro? Era o cotidiano infernal dos dias ou a compreensão de que eles se findavam que o tornavam mais taciturno e desalmado? Se as respostas faltavam, ninguém da mesma maneira demonstrava empenho para procura-las..
Aquele ancião generoso e vicejante de compaixão era apenas sombra da figura que agora esbravejava e atirava objetos para fora do aposento, gestos repentinos que o machucavam muito mais do que aos outros; a loucura que enegrecia suas retinas só era substituida depois que a porta voltava a se fechar por algumas horas... as cortinas sempre cerradas nada ocultavam porque suas condições físicas limitantes o faziam preso a seus lençóis, o movimento todo logo, estava em sua cuca. Sua memória falha não tinha mais a capacidade de lhe comover, o que o assustava estava então, era sua atividade criativa ainda viva - e nestes instantes finais - inquientante.
A morte para muitos é repelida com extrema violência, mas somente àqueles que tem muito ainda a provar da vida tem este tipo de reação, para o nosso protagonista essa idéia ensejava certa atração. Se ela não era algo cruel e maligno neste momento, era pintada com doçura e resignação. Um estágio desconhecido da existência que de ninguém nunca antes derivara um depoimento convincente. Portanto, morrer para o nosso personagem era encarado como uma instância diferenciada da vida, cuja a passagem lhe daria vitalidade e entusiasmo renovados. O que aquele vulto carcomido e pálido queria era viver, exatamente por isso ele se concentrava no óbito.
Os lampejos na memória de uma vida branca e fresca afloravam de modo inconcluso e rasteiro, seus feitos inglórios eram despachados junto com todas as venturas que ele não sabia distinguir entre a literatura lida da noites enfadonhas ou das madrugadas quentes e aconchegantes que envolviam dois corpos nus. Todas as mentiras em um instante seriam verdade, todas as pilhérias deveriam perder a graça, pois não havia comicidade em paredes brancas de um asilo e a única musica que tocava era a do desprezo das falas ouvidas nos quartos contiguos ao dele, aonde outros se aventuravam pelas mesmas contingências.
Então ele esperava e imaginava, deixaria para trás todos os desenganos e as penitências de uma vida de promessas vazia - tanto feitas como recebidas - o sofrimento que latejava em seus ossos era como o retumbar que prenunciava um novo horizonte ou pelo menos uma nova chance, suas pupilas dilatavam como por ordem natural das grandes imagens que se multiplicavam à sua frente. Era um imenso portal, a transição por um longo tunel do qual uma luz forte em seu final parecia lhe chamar, lhe convocar!...
O corpo foi encontrado algunas horas depois já sem vida, contudo um semblante pujante, repleto de esperanças, nutria o que para muitos não passavam de delírios.

Os três excertos acima são apenas um montante de impressões, estímulos eloquentes que me impulsionaram de novo para as linhas em branco do meu caderno; comichões que formigavam meus dedos ávidos por lápis e papel, como se fosse possível uma tramissão/digestão natural do que é lido, pensado e escrito.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Como eu não me importei com ninguém

(Foto: no front eu dando uma de baderneiro na ponta de cinza)


"Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo."

Conflito deflagrado, peitos nus e palavras de ordem. Se nós jogamos flores eles respondem com bombas, se corremos eles nos perseguem. "O mundo entrou na USP" disseram, "isso nunca antes havia sido visto" redarguiram. "Nós levamos tiros e vcs querem fazer uma festa", vociferei! E pela segunda vez na minha vida ouvi aquela frase, filha das mesmas vicissitudes: "esse foi o pior dia da minha vida/nunca me senti tão mal." Serão as almas pusilânimes que negaram combate ou quiçá os tolos que ficaram e enfrentaram o fogo que me provocam essas idéias abjetas? O dia seguinte nasceu, alguns juraram que suas cores seriam diferentes, o que pude ver foram as vozes que não sabiam diferenciar entre o que ouviram e o que viram. "A FAU é pau-no-cu e seu componentes são uns escrotos" sentenciaram, pois a tarde seguinte veio a me ensinar que o MAE também era. Contudo, seria realmente possível divisar entre a comoção, revolta e ímpetos o que seria lógico e pragmático ou apático?
A noite custava a se definir, as horas definhavam meus nervos e a vontade de esconder meu rosto, aquele capuz que ocultava minhas expressões de amargura e ângustia - como as trevas carregadas das nuvens que toldaram os protestos do porvir - eram fruto dos pesares a que meu corpo esquálido era imposto carregar, aquele fardo era a preleção final da noite: sua negativa, sua ausência, sua indiferença com os sofrimentos de quem prometera compartilhar foram o rompimento dos últimos vínculos, aqueles laços, construídos desde de tempos imemoriais, que eu tanto demorei a me desapegar. Estava sozinho, assim como o Movimento, (das minorias radicais ou dos vãos esperançosos? eu não sei mais) que respirava ainda com dificuldade, pois o gás lacrimogênio não apenas sufocava os últimos atos desesperados como também anuviava as vistas dos que estavam além-muro. Reverberava por todas as barricadas, por todas as vanguardas, nas pedras que eram atiradas e nos corpos que gotejavam o brado surdo dos derrotados...
A ruína, o prejuízo e os retrocessos avançam-avançam, assim como as guardas negras do autoritarismo subservientista, dos tiros de borracha e granadas defensores do status quo das elites enclausuradas, arautos da nova ordem mundial reacionária. Entrincheirado, desprotegido no cadafalso de nossas salas de aula, só pudemos enxergar os últimos explosivos que caiam do céu, como em um destes infernos que o mundo moderno criou.

Se Brecht disse e os maus dias reanunciam por todos os cantos que estariam sozinhos aqueles que não se mobilizassem pelos outros, como posso chamar aos 78 mil ou a única que me importava que se mantiveram na letargia e inércia, inoperantes e insensíveis com seus irmãos?

domingo, 7 de junho de 2009

Isolation

In fear every day, every evening
It calls here aloud from above
Carefully watched for a reason
Mistaking devotion and love
Surrendered to self-preservation
From others who care for themselves
A blindness that touches perfection
Appears just like anything else
Isolation - isolation - isolation

Mother I tried, please believe me
I'm doing the best that I can, I'm ashamed of the things
I've been put through; I'm ashamed of the person I am

But if you could just see the beauty
These things I could never discribe
This is my one consolation
This is my wonderful prize

Se a estranheza domina o meu espírito, sinto isso e me envergonho profundamente, pois o que me faz tremer os ossos mais do que essa massa de frio polar é o fato de eu nunca me ter tido como normal. Eu juro, eu tentei. Se vou sucumbir aos tapas que a vida me dá, que seja da melhor maneira, que sintam orgulho das lembranças que preservei nas memórias alheias, que meu nome seja pronunciado sem expressões de escárnio ou desgosto, que não derrubem lágrimas, pois eu mantive até os ultimos intantes da minha vida a certeza nestes corações apartados de eu ter vencido. Sempre fui sensível aos meus erros, sempre fui temeroso aos efeitos que eles provocariam em quem realmente se importava. Não me julgues mal, pois não sabes de toda a verdade, não imaginas minhas condenações e injúrias; nunca alcançaram a satisfação dos meus desejos e eu nunca reprovei as tentativas pedantes. Chamem de medo, covardia ou ingratidão, contudo eu não gosto de ninguém, quiçá nunca gostei - de fato triste, admito - jamais vou gostar.
Por isso me esqueçam aos poucos até eu desaparecer, até os vestígios se apagarem, até as memórias cessarem, tendo em vista que seria de muito mal gosto a falta de um aceno ou cumprimento ao ver a minha casca vazia, perseverando no maldito costume de perambular.