quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Lembranças e Nódoas

"Caminhando, pensava em quão frequentemente encontra-se na vida gente boa e como é lamentável que esses encontros não deixem nada, além das recordações. Acontece aparecerem num repente cegonhas no horizonte, a brisa ligeira traz os seus gritos entre tristonhos e eufóricos, e, um instante depois, por mais que fixemos avidamente a vista nos longes azuis, não vemos um ponto, não ouvimos um som sequer; assim também as pessoas, com seus semblantes, as suas falas, aparecem ligeiramente na vida da gente e submergem em nosso passado, não deixando mais que as pegadas insignificantes da memória"

Eu ando sozinho; dou longas passadas, arrasto-me desgastando as solas dos meus sapatos, pegadas profundas e rasas marcam o meu traçado, piso em falso ou com determinação. Meu caminho não é definido ou linear, muito menos progressivo, apenas sigo, talvez esteja perdido.. Não tenho ritmo ou pretenções, batidas em meu peito doloridas e rápidas marcam o compasso imperceptivelmente. Olho pra frente mas não consigo me desvencilhar do que está atrás, miro de soslaio o que eu nunca intendi muito bem. Sinto que ainda não sei marchar jornadear me ainda é provavelmente e sempre será um mistério mas o que posso fazer, que outra escolha me deixaram? Foi tanto já o que viajei; tantas distâncias percorridas, tantos obstáculos transpostos e ainda assim nem estou perto de saber o que significa essa eterna desventura de viver! Estava chorando agora pouco, admito, já ouvi tantas vezes a pergunta: "vc chora diante da beleza?", ela nunca foi dirigida a mim, mas sempre pensei se poderia respondê-la... Hoje chego perto de uma resolução, no entanto não tenho certeza se estas gotas que aqui verteram foram resultado da beleza que esse exerceto me trouxe ou simplesmente ao tropeço que acabo de dar e ele desgraçadamente me conduziu a memória. Penso mesmo que ambas são faces da mesma resposta que por tantas vezes ousei reivindicar ou propor. Afinal a beleza não faz distinção entre aquilo que é triste ou alegre, ela não se ampara em pólo positivo ou pólo negativo, ela é independente e autônoma. É o homem que faz juz dela por coveniência ou confusão, para ele a beleza é correlato ao yin e yang, a sua arrogância a tira de seu aparente estado de complacência e onipresença para a julgá-la. Mas não quero dar todo crédito à beleza nesse escrito; quero sim de novo volver minhas retinas para detrás, não para suspender meus passos e sim para resgatar aquilo que me foi caro e esta ficando para a insignificância como mesmo disse o russo. Rogo para os Deuses celestes ou terrestres que não usurpem isso de mim, por força da providência ou acaso; vocifero contra eles e lhes digo que não tem esse direito! Se for preciso ajoelhar, esfolarei até os ossos estas minhas falhas e alternativas humanas. Não é a destreza ou a coragem que me dominam, mas sim a angústia este sentimento que me impele carnal e psicologicamente, domina minha faculdades mentais e físicas, esse pesar dislacera minhas entranhas e não me faz esquecer, precisarei gritar? Precisarei provar o quanto esta dor lascinante me provoca? Eu jurei por ti ser bem amado, porém só sou desgostado.
É olhar para trás em que está o meu infortúnio, é colecionar esses pedaços de mim mesmo que me desgasta, não, é querer o melhor de mim e não conseguir que vai me destruir.
Vc não é dessas reminicências que se deixam para o passado com desprezo, aquelas marcas que nos deixam com um gosto de fel na boca e sangram as cicatrizes. Quero protegê-la, quero acalenté-la, quero dar-lhe a mão; não quero ser unicamente um desses nadas que a vida te dá. Serás que não percebes e zombas comigo? Não consigo carregar mais essas fixações de que é tudo em vão, de que tudo vai passar, de que nada é pra sempre. São esses os adágios que recebemos quando iniciamos a jornada: bom, com alguma coisa nós devemos ficar, não? Ah, são tantas coisas que assomam a minha vista agora e me pertubam, zombeteiros e indiferentes, se quer calculam o que posso sentir por seus gracejos; eu posso enlouquecer, fato. Sei que não sou portador das virtudes que espera, não sou e nunca serei um exemplo para convivência, entretanto tenha em vista que eu nunca menti para ti, cada palavra, dita em sussurros ou histerias, foram esforço de expressão íntima e verdadeira.
Compreendes isso?! Me ensina a lidar, pois eu não sei e tremo perante o desafio. Tudo se mistura, não sei distinguir o que sinto e presinto, estou perdido em meio a tantas lembranças e nódoas e, por fim, está tudo tão escuro! Será que devo parar aqui e esperar? Esperar que o vento me sopre outras aventuras? Então o que devo fazer com as quais eu ainda não terminei de viver? Me ensina a vivê-las!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Imagens do Inconsciente


Há muito tempo não sentia vontade de desenhar/rabiscar, já nem me lembro mais quanto.. Não estava sóbrio, estava tomado pela embriaguez, não aquela resumida a entorpecentes não, era puro arrebatamento!

domingo, 14 de dezembro de 2008

Revolução das Plantas!


"[...]

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o
ódio."


Um a extensão do outro; quem ilustra quem? ambos se completam. Fiquei tocado com o contraste dessa foto e de forma simultânea esta passagem me veio a mente; de uma unissonância sem paralelos!
De que protegem ela? Ou será que nos protegem dela? Noto na disposição de suas folhas na tentativa de transpassar as grades um desejo de liberdade; noto uma ânsia pelo exterior; noto um sofrimento condescendente do cárcere...

É um rebento e assim como a rosa do povo rompe o asfalto, essa flor se projeta além da cela.
À revolução das plantas!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Além do que se Vê

"Moça, olha só o que eu te escrevi
É preciso força pra sonhar e perceber
que a estrada vai além do que se vê

Sei que a tua solidão me dói
e que é difícil ser feliz
mas do que somos todos nós
você supõe o céu.
Sei que o vento que entortou a flor
passou também por nosso lar
e foi você quem desviou
com golpes de pincel

Eu sei, é o amor que ninguém mais vê
Deixa eu ver a moça
Toma o teu, voa mais
que o bloco da família vai atrás

Põe mais um na mesa de jantar
por que hoje eu vou pra aí te ver
e tira o som dessa TV
pra gente conversar
Diz pro bamba usar o violão
pede pro Tico me esperar
e avisa que eu só vou chegar
no último vagão

É bom te ver sorrir
Deixa vir à moça
que eu também vou atrás
e a banda diz: assim é que se faz!

Sei que a tua solidão me dói...
Sei aquela mesa de jantar..."

A letra dessa música é quase uma epopéia! A nível sentimental e habitual, claro, mesmo assim de uma força avassaladora e opressiva... não sei mais se estou pensando na letra ou na minha rotina, acho que ambas se misturam...
E aquele trompete na parte final? Ah, encerrando de maneira igualmente melancólica e com grande regozijo... eu diria mais: triunfal!

sábado, 6 de dezembro de 2008

Spleen (LXXVI)

"Eu tenho mais recordações do que há em mil anos.

Uma cômoda imensa atulhada de planos,
Versos, cartas de amor, romances, escrituras,
com grossos cachos de cabelo entre as faturas,
Guarda menos segredos que o meu coração.
É uma pirâmide, um fantástico porão,
E jazigo não há que mais mortos possua.
- Eu sou um cemitério odiado pela lua,
Onde, como remorsos, vermes atrevidos
Andam sempre a irritar meus mortos mais queridos.
Sou como um camarim onde há rosas fanadas,
Em meio a um turbilhão de modas já passadas,
Onde os tristres pastéis de um Boucher desbotado
Ainda aspiram o odor de um frasco destampado.

Nada iguala o arrastar-se dos trôpegos dias,
Quando, sob o rigor das brancas invernias,
O tédio, taciturno exílio da vontade,
Assume as proporções da própria eternidade.
- Doravante hás de ser, ó pobre e humano escombro!
Um granito açoitado por ondas de assombro,
A dormir nos confins de um Saara brumoso;
Uma esfinge que o mundo ignora, descuidoso,
Esquecida no mapa, e cujo áspero humor
Canta apenas aos raios do sol a se pôr."

Colecionando memórias...
Gosto da relação que ele faz, da recordação com a sepultura, algo estéril ou inerte, porque é o que passado é ou faz: absolutamente nada! Então por que se apegar tanto a ele? Por que eu me apego tanto a ele? Não sei, não imagino do que mais sou feito além destas memórias as outras peças que me compõe são deveras efêmeras, inconsistentes, contrastantes demais para eu me amparar sobre elas. Por isso prefiro aquilo que ainda não me esqueci, aquilo que minha caixa-amarela protege do tempo, aquilo que minha mente não faz questão de se desfazer.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

MáximasDialogum

As vezes eu queria ser como o cara que canta no caminho da República até o banheiro da fflch...

- Tá feliz, hein?
- Vivo cantando.. haha.

Até tu Brutus ?!



É refletindo sobre isso que eu vejo o quão frágeis são as relaçõoes, como anos de convivência podem ser definidos por um dia de mau humor ou um ato falho. Deve por isso que evito tanto as pessoas, me refugio dentro desse meu enclaustro de misantropia; não queria mas me sinto tão protegido claro deprimido e solitário também mas principalmente resguardado das chagas de separação/afastamento/rompimento. Algumas profundas outras benignas porém nenhuma perene, infelizmente todas me estão gravadas na memória, todas me atormentam durante a noite e fazem o som do vento se assemelhar ao barulho de fantasmas; é o que na verdade todas são: sombras vivas de um passado não muito longínquo, oras pois, são somente duas décadas de existência; quiçá aos quarenta eu não consiga a dispensa dessa obrigatoriedade de viver. Mas como dizia... nem de tudo se pode fugir para sempre (a minha porta pode ser a última do quarteirão, mas nem por isso deixário de ser tocada a companhia) iguais exigiram a minha presença, outros buscarão mais, talvez ao ponto de eu não conseguir ofertar... O que quero dizer é que minha fortaleza será rompida, minhas defesas cederão e eu não terei como faltar à imposição dessas relações, algumas de longa duração outras de epílogo indefinível, entretanto todas de reciprocidade inegável.
Desconstruirei esse trato, o que são relações? Contratos, eu digo! De cláusulas discerníveis e irrevogáveis, contudo sem estipulação de termo. Suas conclusões estão a deriva, nesse balanço da maresia elas estão revoltas em uma dinâmica social de muitas definições. Queria eu saber das respostas, mas se quer certeza de algum fato vou ter; queria intender essa insistência, será um desafio para os homens ultrapassarem essa minha barreira de reclusão social? Tantos que a vencem e se deixam largadas pelo caminho sem um suspiro ou justificativa; eu nunca acreditei nelas, nem se quer reprovo minhas inverdades, pois que exemplum posso ser/dar, então?
Por que não ficas mais um pouco? Por que tens que sumir e levar consigo meus melhores anos? Se não é eterno, não dá! Não posso me assistir nessa lapidação, não posso deixar eu morrer aos poucos: pedaços meus espalhado às ruas, sem forças para juntá-los. Queria ter, juro, mas tantas feridas abertas já me deixam fraco e desesperado, sem vontade ou receoso de gritar... Queria apenas cantar-apenas cantar, mas eu não sou como o cara que canta no caminho da República até o banheiro da fflch. É assim que vc prefere, não é? No final é assim mesmo, elas vão e vem e eu fico: um pobre diabo! Oh, até tu brutus?! Me afirmaste tanta compaixão e confiança, me furaste, veracidade, os olhos sem eu ver e da pior forma: pelas costas... Podia ao menos ter respeitado meu luto.
Escrevo isso e lágrimas acentuam as linhas do meu rosto, aquelas das quais vc ousou um dia ter dito que sonhou. Eu ainda sou seu, faça dessa carcaça oca o que quiseres, mas não recrimine minha burra de reminiscências, é rei aquele que vive de lembranças em uma nação de desmemoriados/desmonumentalizados! Por isso eu sobrevivo a mais uma calamidade, dobrando o horizonte ainda estão os invernos vindouros. Lhe faço um último pedido: se já for tempo de ir, me faça acreditar que eu dei autênticos motivos.
Não quer deixar a chuva passar antes de ir?

sábado, 22 de novembro de 2008

Diálogos

- Então vc cortou relações com alguém com quem vc desfrutava ter longos diálogos simplesmente por causa de uma interjeição, algo que faz necessáriamente parte de um diálogo ?!
- É...
- Ah, fernando, as vezes vc é tão medíocre.
- Eu sei...

Isso-isso!
Assim fernando quem sabe vc não conseguirá afastar de forma inconciênte, inadvertida e involutária todas as pessoas que algum dia chegaram a gostar de vc, meu parabéns!?

Mil vivas a seu 'dia' em sua vida 'comum'!

domingo, 9 de novembro de 2008

"As Horas"

"-Quando vc saiu daquela casa antiga e vc tinha 18 anos e eu talvez tivesse 19... Eu tinha 19 anos de idade e jamais tinha visto algo tão bonito. Vc, saindo pela porta de vidro de manhã, ainda sonolenta. Não é estranho ? Uma manhã tão comum na vida de qualquer uma pessoa..."

Entre o desejo e a recordação..

Foi a comoção de narrativas embaralhadas e entrelaçadas, foi o desapego ao mundo e o amparo das palavras ou foi uma tradução enviesada? Não, é o toque que esquenta meu corpo, é a memória que arrefece meu ânimo, é a sensação de medo e pânico que translucida minha alma! Não sei, talvez tivessem sido as lembranças despertadas, as cenas penosas ou esses instantes juntos, mas a vida não passou tão devagar ou sou eu quem está divagando ?

sábado, 8 de novembro de 2008

Máximas

"Vc é bom, quando vc é ruim!"

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

[...]

O que há ai para mim; uma mão, uma migalha ou uma troça?

domingo, 26 de outubro de 2008

O professor filósofo

"De todas as ciências que se inculca na cabeça de uma criança quando se trabalha em sua educação, os mistérios do cristianismo, ainda que uma das mais sublimes matérias dessa educação, sem dúvida não são, entretanto, aquelas que se introjetam com mais facilidade no seu jovem espírito. Persuadir, por exemplo, um jovem de catorze ou quinze anos de que Deus pai e Deus filho são apenas um, de que o filho é consubstancial com respeito ao pai e que o pai o é com respeito ao filho, etc, tudo isso, por mais necessário à felicidade da vida, é, contudo, mais difícil de fazer entender do que a álgebra, e quando queremos obter êxito, somos obrigados a empregar certos procedimentos físicos, certas explicações concretas que, por mais que desproporcionais, facultam, todavia, a um jovem, compreensão do objeto misterioso.
Ninguém estava mais profundamente afeito a esse método do que o abade Du Parquet, preceptor do jovem conde de Nerceuil, de mais ou menos quinze anos e com o mais belo rosto que é possível ver.
- Senhor abade, - dizia diariamente o pequeno conde a seu professor - na verdade, a consubstanciação é algo que está além das minhas forças; é-me absolutamente impossível compreender que duas pessoas possam formar uma só: explicai-me esse mistério, rogo-vos, ou pelo menos colocai-o a meu alcance.
O honesto abade, orgulhoso de obter êxito em sua educação, contente de poder proporcionar ao aluno tudo o que poderia fazer dele, um dia, uma pessoa de bem, imaginou um meio bastante agradável de dirimir as dificuldades que embaraçavam o conde, e esse meio, tomado à natureza, devia necessariamente surtir efeito. Mandou que buscassem em sua casa uma jovem de treze a catorze anos, e, tendo instruído bem a mimosa, fez com que se unisse a seu jovem aluno.
- Pois bem, - disse-lhe o abade - agora, meu amigo, concebas o mistério da consubstanciação: compreendes com menos dificuldade que é possível que duas pessoas constituam uma só?
- Oh! meu Deus, sim, senhor abade, - diz o encantador energúmeno - agora compreendo tudo com uma facilidade surpreendente; não me admira esse mistério constituir, segundo se diz, toda a alegria das pessoas celestiais, pois é bem agradável quando se é dois a divertir-se em fazer um só.
Dias depois, o pequeno conde pediu ao professor que lhe desse outra aula, porque, conforme afirmava, algo havia ainda “no mistério” que ele não compreendia muito bem, e que só poderia ser explicado celebrando-o uma vez mais, assim como já o fizera. O complacente abade, a quem tal cena diverte tanto quanto a seu aluno, manda trazer de volta a jovem, e a lição recomeça, mas desta vez, o abade particularmente emocionado com a deliciosa visão que lhe apresentava o belo pequeno de Nerceuil consubstanciando-se com sua companheira, não pôde evitar colocar-se como o terceiro na explicação da parábola evangélica, e as belezas por que suas mãos haviam de deslizar para tanto acabaram inflamando-o totalmente.
- Parece-me que vai demasiado rápido, - diz Du Parquet, agarrando os quadris do pequeno conde muita elasticidade nos movimentos, de onde resulta que a conjunção, não sendo mais tão íntima, apresenta bem menos a imagem do mistério que se procura aqui demonstrar... Se fixássemos, sim... dessa maneira, diz o velhaco, devolvendo a seu aluno o que este empresta à jovem.
- Ah! Oh! meu Deus, o senhor me faz mal - diz o jovem - mas essa cerimônia parece-me inútil; o que ela me acrescenta com relação ao mistério?
- Por Deus! - diz o abade, balbuciando de prazer - não vês, caro amigo, que te ensino tudo ao mesmo tempo? É a trindade, meu filho... é a trindade que hoje te explico; mais cinco ou seis lições iguais a esta e serás doutor na Sorbornne."

Sade, mais provocativo e impudico impossível, na verdade possível e sádico também...

sábado, 25 de outubro de 2008

"O que vc faria [se o mundo acabasse]?"

Faria tudo o que sempre esteve ao meu alcance mas que tanto me neguei a ter! Meus medos pessoais, meus ordenamentos morais, meu ideal de ética renegaria a tudo isto para satisfazer minhas vontades e necessidades que mais prazeirosas me fossem e para aproveitar esta última oportunidade...

[...]

Não acabaram!
Noite horrível-horrível de ontem...

domingo, 19 de outubro de 2008

Emular Lamúrias

Votei às folhas deste caderno mais cedo do que eu pensava: é pra onde eu me refugio, num canto excluído da sala à meia-luz de um abajur, no respaldo de um som inebriante e doce, me inclino sobre essas linhas que vão aos poucos ganhando contornos de autoria própria, própria de uma besta quadrada! Faz um tempo que eu falei para quem me ouve que não estou nos meus melhores dias e o pior para quem está nessa condição é olhar para trás e não sentir falta dos melhores, porventura eu ainda vá vivê-los. Quando é que valerá a pena existir? Eu já estou na segunda metade da minha vida, estou seniando e definhando dia após dia procurando algo para me apoiar, quero largar mão de revolver reminiscências ingratas, isso não pode fazer bem a ninguém e eu quero salvaguardar o orgulho que me resta. Ando tão azedo, amargo, como o dom de viver pode ser tão maldito, como a tinta desta caneta pode sustentar idéias tão invalorosas? E além de tudo só sei cuspir indecências, me escondo nessa máscara de castidade para devorar mocinhas indefesas e me esconder dos interlocutores, mas conversas as vezes me fazem bem, as vezes, né? Quando o assunto vem a propósito, quando o debatedor não é impertinente, mas momentos assim vem rareando em meu cotidiano e minha vontade por buscá-los vem seguindo o mesmo destino. Porém um diálogo inesperado nessa última madrugada me convidou à consciência de que não estou em melhores circunstâncias que aquela voz lamuriante e aguda do outro lado da linha...
O que posso dizer de bom sobre mim hoje? Não tenho sido bom filho, nem bom amigo, nem, muito menos, bom "historiador". Poucas coisas andam me satisfazendo e ando me negando a oportunidade de procurar outras. Acho que precisava de algo para ocupar minha cabeça, parar de pensar, esvaziar os anseios, apagar as incertezas, desenvolver virtudes! Na verdade eu não sei quem eu sou, é isso! Eu não sei quem eu sou; com certeza esse foi o maior conhecimento que extrai sobre mim daqueles minutos, esse e o fato de eu precisar de um psicólogo, mas disso eu já sabia, mesmo assim não conseguiria tentar: nem tentar saber que sou e muito menos procurar um.
Nessa busca entorpecida, minha única saída será insistir, sou teimoso afinal, pedra difícil de mover ou convencer, queria, no entanto um empurrãozinho... Todo pássaro precisa de um primeiro impulso, meu problema reside em saber se eu já não perdi essa sorte. Acho que nos meus últimos escritos eu deixei claro de entender qual, eu acho, é a minha sina, mas a vida não se resume a isso e eu tenho tantos outros mais complexos para debulhar que não posso perder meu tempo com esse! Às vezes me dá vontade de gritar bem alto, estourar meus próprios tímpanos, com verdades que as pessoas à minha frente aparentam não ouvir.
Repeti mais coisas do que escrevi novas... Ah, preciso conversar!

sábado, 18 de outubro de 2008

[...]

Um dia para coroar as últimas semanas cretinas! Ainda bem que acabaram (espero)...

"Garotos perto de uma mulher são só garotos..."

O poder da palavra é de revolucionar. A sua ação transformadora, estimulante, propagadora me faz acreditar que esta seja o principal instrumento de posse do homem, eu não sei, aliás, como nunca sei de nada, mas essa criatura me intriga: faz uso de suas habilidades das formas mais inadvertidas e imperiosas possíveis... Esse é só o prólogo das questões que estão rondando a minha mente nesse instante. Meus dedos formigam por colocar no papel idéias ainda não maturadas o suficiente, assim todas elas compõem o baluarte da minha indagação. Estou falando, é claro, das mulheres; gênero da espécie humana, filha do homem (talvez daí derive sua força) e detentora da fala. Sabe, por muito tempo pensei que encara-las fosse um desafio equilibrado, minha inexperiência me fez crer em momentos que nós estávamos em vantagem, afinal tínhamos toda a civilização a nosso favor, (in) felizmente hoje consigo enxergar melhor, me desvencilhei de paradigmas e preconceitos, vejo com clareza que todas essas sofisticações, tradições, princípios morais foram empregados com o objetivo simples de baqueá-las, suplantá-las na sua infinita astúcia e maliciosidade. Como um jogo, colocadas as regras de maneira a nos favorecer e mesmo assim perdemos, a cada movimento de suas peças, a cada expressão despreocupada e delicada de seu semblante competitivo. Talvez estejamos diante da estratégia da "terra arrasada", um blefe que terá por fim uma reviravolta inesperada no tabuleiro, mas não tenho certeza, apenas especulações, como disse de início, essa nunca foi uma das minhas virtudes: a convicção.
Creio simplesmente que somos cativos de seus engenhos e maquinações, em suas mãos somos tolos e brincalhões, agimos por instinto e nos deparamos em uma cilada, o cadafalso se abre, mergulhamos em sua teia e isso tudo antes de conseguirmos desviar de seu olhar: penetrante e incompreensível. Por tantos outros enganos acreditei piamente que os olhos fossem janelas para o interior, chaves para o desbloqueio do segredo corporal e obtenção do significado estrutural. Mas meu erro mostrou-se gritante quando percebi que em se tratando de mulheres sabemos somente a localização da porta de entrada, entrada para o labirinto; uma trama que se desenrola em caminhos e becos, fortuitos e convidativos, porém de desfecho inatingível ou inenarrável, um enigma de violação inaudito.
Por todos os séculos da existência humana estivemos a mercê de seu trato, nunca nos obrigarão a nada, mas a deriva de nossas opções as ondas da vontade foram mais fortes e nos trouxeram à sua praia, cuspindo o fel da indecisão nos entregamos às suas delícias. Acredito que por baixo da luta de classes, adjacente a seus diversos setores, nós travamos uma batalha durante todos esses séculos. Construímos as bases da civilité ocidental sobre os instrumentos de controle desta que sempre fora uma ameaça: taxadas de ingênuas e inocentes, eram na verdade dissimuladas e cruéis, utilizaram com destreza suas ferramentas, dotadas pela natureza, comandadas por um gênio inquebrantável nos fizeram tombar frente ao combate corpo a corpo, nossa saída foi o esforço coletivo para o engendramento de uma sociedade onde impomos mecanismos de subordinação - submetidas a estas instituições – as manteremos sob vigília e tardaremos a futura rendição. Quando enfim definharmos baixa por baixa e não podermos mais desfrutar deste imperium masculino poderemos encontrar em seus rostos desafiantes, dignos de admiração, a certeza da derrota, mas por enquanto não, desfilaremos ainda mais nossos sorrisos de satisfação nas mesas de decisão.
Meu principal objetivo nesse texto é registrar algo que eu sempre soube, algo que minhas últimas leituras me fizeram desconstruir e exprimir aqui algo que ainda não nos é evidente o suficiente. Não quero propor aqui, obviamente, uma mudança radical nos damos da humanidade; não quero eliminar, logicamente, a paixão na busca por um coração correspondente (tsc tsc) e não quero, finalmente, instituir um pessimismo excludente, quero somente divulgar um sobreaviso displicente. Quando o tesouro do ifrit revelou: "não há nada que nos empeça do que queremos" ela somente estava conjurando o que todos nós haveremos de saber algum dia, que todas as mulheres são na sua imagem e essência a personificação da perfídia e todas estarão destinadas, se o devir puder, ao décimo segundo círculo do inferno de Dante. Não importa de que maneira se concretize, as mulheres trazem isso por natureza, a traição de projeção voluntária é o guia para as suas atitudes impensadas. Penso mesmo que esse trato seja fruto desse egoísmo que lhe és inerente, não estou objetivando sentimentos humanos, não acredito de forma alguma que o sexo masculino escape dessa mácula, afinal, como poderia a raça humana se refugiar dessas "dádivas" que lhe são inatas? Dessa forma elas sabem, inconscientemente sabem, de seu potencial para o perjúrio e o utilizam inescrupulosamente. Somos, logo, reféns de seus artifícios, em poder das mãos do inimigo sofreremos os males de seu contrato de maneira invariavelmente irreversível. E o que hão de fazer nós os tolos homens? Qualquer resposta além do "nada" seria deveras pretensiosa e mais um desafio lançado à altura deste tempo só lhes faria arrancar escárnios...
A narrativa humana nos mostrou a realidade dos fatos, por mais que os afrescos as pitem como cândidas e doces os eventos históricos comprovam a interferência do dedo feminino no movimento das massas e dos impérios. O que a motivação de uma Joana Dárc não fez contra as tropas inglesas? O que a sedução de uma Cleópatra não fez aos comandantes romanos? E claro, também não posso deixar de ressaltar os efeitos deletérios que agripinas, carlotas e capitus tiveram para a humanidade, os desdobramentos de simples concelhos nos condenaria a séculos de percalços e feridas. Não pretendo a partir de este paragrafo traçar um cronograma das intemperanças de seus atos que com certeza remontaria do Gênese até a nossa contemporaneidade, me seriam indispensáveis novas páginas e outras tantas fontes, mas destacar que quando o senhor Deus dos cristãos disse a Eva após a 'violação': "multiplicarei os sofrimentos de teu parto; dará à luz com dores, teus desejos te impelirão para teu marido e tu estarás sob seu domínio" nossos Deuses já tentavam nos antecipar contra o mal que estaria por vir e nos cediam as primeiras armas.
Meu texto certamente não escapará de ironias, minha intenção, como já foi sublinhado, não é criar um consenso, não pretendo com isso ser decisivo em suas opiniões e definitivamente não quero me enclausurar desta existência mundana, escrevo isso de fato unicamente para preservar na memória mais uma das lições que ainda me ensinou e para ocupar minhas madrugadas desacordadas... Voltando ao ponto de partida quero tecer mais algumas considerações sobre a palavra, se as mulheres são o que são, é porque conhecem a distinção desse instrumento. Já vi muros caírem e se erguerem por simples pronunciamentos; já distingui derrotados e vencedores por meros discursos; já tive vontade de matar pessoas por tolas frases impertinentes. Esse texto acaba não só sendo por 'elas' mas também por este substantivo feminino, no entanto este tema merece um post independente e por isso ficarei por estas linhas desejando algum dia não me sentir traído quando me referir a elas, às amazonas desumanas e depravadas!
Sinto que ainda tinha tanto a escrever sobre isso...

sábado, 27 de setembro de 2008

Máximas

Se apenas a sensação de ser incoveniente me faria refrear os modos, o que achas que faria a certeza comigo ?

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Monochrome

"Anyway, I can try
Anything it's the same circle
That leads to nowhere and I'm tired now.

Anyway, I've lost my face,
My dignity, my look,
Everything is gone
And I'm tired now.

But don't be scared,
I found a good job and I go to work
Every day on my old bicycle you loved.

I am pilling up some unread books under my bed
And I really think I'll never read again.

No concentration,
Just a white disorder
Everywhere around me,
You know I'm so tired now.

But don't worry
I often go to dinners and parties
With some old friends who care for me,
Take me back home and stay.

Monochrome floors, monochrome walls,
Only absence near me,
Nothing but silence around me.
Monochrome flat, monochrome life,
Only absence near me,
Nothing but silence around me.

Sometimes I search an event
Or something to remind,
But I've really got nothing in mind.

Sometimes I open the windows
And listen people walking in the down streets.
There is a life out there."

Melodia tão penetrante! Ah, vida tão massante, monocromática..

sábado, 13 de setembro de 2008

Diálogos

- Fer, vc age como aquela frase de uma música do Caetano: "Narciso acha feio o que não é espelho". Qual é o nome daquela que fala sobre São Paulo?
- É, tens razão...
- Qual o nome da música?!
- Sampa, mas a frase é de Podres Poderes, HA!
- Não é não!
- Ah é, tens razão.

haha
Como eu amo conversar com essa garota! Percebi algo que já pensava sobre, afinal o Dali está não esta ai por acaso..

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

No mundo não há pessoas como eu, há sim, pessoas que não se interessam pelo que eu sou.

Deveras, amo as madrugadas! Quando as luzes minguam, quando as pessoas que desfrutam de uma vida de verdade ou não vão dormir, quando o tempo silencia e as minhas confidências começam... Estava pensando nisso, conversando com um amigo, certos questionamentos afloraram; exatamente sobre isso: o ato de confessar. Obviamente que não começarei aqui a explanar sobre meus segredos mais íntimos (mais pessoas do que eu pensava lêem isso aqui), infelizmente a experiência me ensinou o quão contra-indicado isto é; portanto não é sobre o que confessar e sim sobre o ato em si que quero falar. Confissão é uma forma de expressão e o que é expressão? Segundo o dicionário é o ato de expressar-se; dar a entender, dar a conhecer algo, revelar, logo, expressar significar, antes de tudo, tornar conhecido algo. Para mim isso quase sempre foi tornar sabido algo que se pretendia esconder, sendo assim, chegamos ao cerne do texto e não ao seu fim como minhas pálpebras gostariam... No final eu nunca vou chegar à certeza, vou sempre me refugiar na duvida e todo esse inquerimento etimológico só vai servir pra eu descobrir o que eu já sei: eu vou ser sempre aquele mesmo garoto...
Por que é tão difícil para eu expor algo que sinto, de fato, nem é tudo, algumas coisas largo a público com a maior facilidade, porém quase sempre são resultados da minha insatisfação, do meu egoísmo, da minha inconstância, em suma daquilo que mais vil os seres humanos tem a oferecer. E todo resto, vcs perguntam, pra onde vai? Eu guardo, eu reprimo, eu esqueço; a última “opção” é com certeza a mais difícil, em função, claro, dessa memória prodigiosa para reminiscências ingratas da qual eu fui dotado e para a qual a ação de recordar é involuntária. Então da mesma forma que se lembrar me é doloroso, compartilhar com os outros me parece mil vezes pior, mesmo assim sinto necessidade do mesmo. Este blog é uma resposta para isso, uma válvula de escape que pretendo eu, me fará suportar mais alguns anos sem enlouquecer. Talvez esse seja o meu fim mais certo e seria nobre da minha parte aceita-lo de vez, mas eu não posso viver só de talvezes.
Será que alguém pode viver assim, se escondendo? Eu sou o eterno curioso, dono das mil críticas, me conhecer significa me ouvir reclamar. Já exaltaram essa qualidade em mim e eu insisto em credita-la como benéfica, enxergar nela um caminho para soluções, inshallah! Mas tudo isso é sobre o mundo no qual eu vivo: meu persistente debate com o externo, mas minha primeira impressão já deixa isso patente, às vezes até de forma rude eu marco minha presença, no entanto, não é isso neste instante o que me inculca. Talvez essa dissimulação seja nada mais do que minha tendência natural para demover meu coração destas intenções; aparecer em público, para ele, é impensável. Discorrer sobre um labirinto onde o fio de Ariadne não vai me salvar; nada, não vejo luz nem mesmo na penumbra dessas linhas reticentes-linhas reticentes...
O que me incomoda? Será a vulnerabilidade do confessionário, será o sossego do ouvinte, será o descompromisso das más línguas? Tenho tantas memórias lúcidas a relatar, tantos traumas a entronizar, tantas improbidades a comungar; não posso começar com a certeza que carrego, da agonia e da tortura em sentir o ressentimento por um feito impensado! Oh, eterna desventura de viver, só é preciso traquejo social, dizem, ham. Dói; eu juro sobre a contundência dessa ferida, não consigo e não quero tentar! Mortificar a alma, uma existência ascética talvez me fizesse eliminar o desejo, afinal é ele que move as ações humanas, não?
Uma vez eu disse pra mim mesmo, estar com outra pessoa é a possibilidade de contar com alguém para descarregar todas as verdades e até hoje não encontrei a tal criatura, deve estar aonde eu menos imagino, onde eu nunca vou encontrar; no mundo não há pessoas como eu, há sim, pessoas que não se interessam pelo que eu sou. Ainda não encontrei meu caminho-ainda não encontrei meu caminho-ainda não encontrei meu caminho...

Chegamos ao final e não foi como eu havia dito ?

domingo, 7 de setembro de 2008

"Labirinto"


-"O único jeito de sair daqui é tentando uma dessas portas, uma delas te leva ao centro do labirinto aonde se encontra o castelo e a outra para a morte certa.. uuuhh .(cabeças de baixo iniciam o alerta)
- E qual delas é o que ?
- Ah, eu não posso dizer.
- Por que não ?
- Ah, olha.. Não sabemos. Mas eles sabem !(passam o jogo para as cabeças de cima)
- Ah, então eu pergunto a elas..
- Err, não pode perguntar a nós, só pode perguntar a um de nós ... (vermelho falando)
- São as regras e eu devo avisar que um de nós sempre diz a verdade e outro sempre mente, também são as regras. Ele sempre mente!(azul completa apontando para o vermelho)
- Eu não, eu digo a verdade!
- Ah, que mentira..
- Tabom, responde sim ou não. Ele me diria que essa porta leva ao castelo ?(garota perguntando para o vermelho e apontando para a porta a direita)
- Sim.
- Então a outra porta leva ao castelo e essa à morte certa!
- Ohhhh, como vc sabe? Ele pode estar falando a verdade...(vermelho retruca)
- Mas vc estaria mentindo, então se vc me disse que ele diria sim, é não.
- Mas eu posso estar falando a verdade.
- Ai ele que estaria mentindo, então se vc me disse que ele diria sim, eu sei que a resposta seria não..
- Pera ai, será que isso tá certo ?(vermlho pergunta para o azul)
- Eu não sei.. eu não intendi absolutamente nada!
- hahahahha .(coro das cabeças)
- Não, está certo. Eu descobri!"

haha
Muito bom!

Película ensaia o embate entre a lógica e o imaginário humano em um cenário quimérico ao som de David Bowie! No lugar aonde as coisas nem sempre são o que aparentam ser, uma garota simplória insiste no uso do raciocínio para ludibriar a fantasia em seu território.

sábado, 6 de setembro de 2008

Mais uma dose dessa, por favor...

O poder da palavra, sua qualidade curadora e encolerizante, penso mesmo que ela deveria ser vendida em frasco com uma bula, assim como a bela música! Este livro me foi caro a primeira vez em que eu li, como sua pré-indicação atestava, o sofrimento alheio fez apaziguar o meu espírito. Hoje não o procuro com as mesmas aspirações, simplesmente o apologizo!

"21 de agosto
Em vão estendo meus braços para ela, de manhã, ao despertar de um penoso sonho; em vão a procuro à noite em minha cama, quando um devaneio feliz e puro me iludiu, quando julgava estar sentado ao lado dela na relva, e lhe pegava na mão cobrindo-a de mil beijos.
Ah, quando, ainda meio tonto de sono, a procuro e a seguir desperto, uma torrente de lágrimas brota de meu coração e choro, desolado com o futuro sombrio a minha frente!
19 de outubro
Ah, esse vácuo medonho que sinto no meu seio! Muitas vezes penso... Se pudesse uma vez, uma só vez, apertá-la ao peito, todo esse vácuo haveria de se encher."

É... Esse foi o ano dos casos efêmeros; um deles arrebatador e o outro cretino, mas ambos em suspenso. Sabe, queria mesmo era provar um dedo a mais de cada um antes da última despedida.

sábado, 30 de agosto de 2008

Pessoas e Textos.

Sabe aqueles textos que vc lê e se sente bem ? Melhor ainda são as pessoas, apesar de suas infinitas limitações, lhe fazem um bem maior ainda.. Esse post não é para algo, é para alguém.

"Se

Se, ao final desta existência,
Alguma ansiedade me restar
E conseguir me perturbar;
Se eu me debater aflito
No conflito, na discórdia...
Se ainda ocultar verdades
Para ocultar-me,
Para ofuscar-me com fantasias por mim criadas...
Se restar abatimento e revolta
Pelo que não consegui
Possuir, fazer, dizer e mesmo ser...
Se eu retiver um pouco mais
Do pouco que é necessário
E persistir indiferente ao grande pranto do mundo...
Se algum ressentimento,
Algum ferimento
Impedir-me do imenso alívio
Que é o irrestritamente perdoar,
E, mais ainda,
Se ainda não souber sinceramente orar
Por quem me agrediu e injustiçou...
Se continuar a mediocremente
Denunciar o cisco no olho do outro
Sem conseguir vencer a treva e a trave
Em meu próprio...
Se seguir protestando
Reclamando, contestando,
Exigindo que o mundo mude
Sem qualquer esforço para mudar eu...
Se, indigente da incondicional alegria interior,
Em queixas, ais e lamúrias,
Persistir e buscar consolo, conforto, simpatia
Para a minha ainda imperiosa angústia...
Se, ainda incapaz para a beatitude das almas santas,
Precisar dos prazeres medíocres que o mundo vende...
Se insistir ainda que o mundo silencie
Para que possa embeber-me de silêncio,
Sem saber realizá-lo em mim...
Se minha fortaleza e segurança
São ainda construídas com os materiais
Grosseiros e frágeis
Que o mundo empresta,
E eu neles ainda acredito...
Se, imprudente e cegamente,
Continuar desejando
Adquirir,
Multiplicar,
E reter Valores, coisas, pessoas, posições, ideologias,
Na ânsia de ser feliz...
Se, ainda presa do grande embuste,
Insistir e persistir iludido
Com a importância que me dou...
Se, ao fim de meus dias,
Continuar
Sem escutar, sem entender, sem atender,
Sem realizar o Cristo, que,
Dentro de mim,
Eu Sou,
Terei me perdido na multidão abortada
Dos perdulários dos divinos talentos,
Os talentos que a Vida
A todos confia,
E serei um fraco a mais,
Um traidor da própria vida,
Da Vida que investe em mim,
Que de mim espera
E que se vê frustrada
Diante de meu fim.

Se tudo isto acontecer
Terei parasitado a Vida
E inutilmente ocupado
O tempo
E o espaço
De Deus.

Terei meramente sido vencido
Pelo fim,
Sem ter atingido a Meta."

Passado, passado, passado...

"Eu me tornei o que sou hoje aos doze anos, em um dia nublado e gélido do inverno de 1975. Lembro do momento exato em que isso aconteceu, quando estava agachado por detrás de uma parede de barro parcialmente desmoronada, espiando o beco que ficava perto do riacho congelado. Foi há muito tempo, mas descobri que não é verdade o que dizem a respeito do passado, essa história de que podemos enterrá-lo. Porque, de um jeito ou de outro, ele sempre consegue escapar. Olhando para trás, agora, percebo que passei os últimos vinte e seis anos da minha vida espiando aquele beco deserto."

Li, chorei, envolvi-me, mas não gostei desse livro e não poderia ser diferente. No entanto essa frase me pegou pelo calcanhar de aquiles, acho que sou, no fundo, traumatizado pelo passado, não nesse nível/tipo de pisique, da qual sofre o personagem, mas mesmo assim o temo, ele me espreita e eu tremo... Não quero mais saber disso e nem de nada, quero sim um caminho florido, um pouco de ar puro e uma pêra pra um eu sozinho lembrar do que for conveniente.

Crônica para uma [história] Cretina ou coisa que o valha...

Voltou a chover, depois de um maldito mês seco, gostas de água voltaram a verter o solo. Refrescaram o ar empoeirado e intragável, umedeceram as folhas e limparam a fumaça dos meus olhos. Não sei, mas acho que minha vista esteve por algum tempo embaralhada por emoções inulteis, sentimentos desproporcionais e travessos que me arrastaram para um fosso de improbidades. Nele, meu tato e audição me revelaram o que tanto minhas retinas se esforçaram para esconder. Na espessura das convicções, nos devaneios de fantasias, no doce sabor da carne eu demorei pra enxergar uma verdade patente, me ludibriei com um mistério que talvez não exista, eu o inventei, eu o moldei, eu me propus a desvenda-lo... Oh, pra minha surpresa ele não passava de fabulações tolas em noites de carência (é, essa música que vem agora não diz nenhuma mentira), são todas consequências de se gostar de alguèm, os incovenientes, os malefícios e claro os benditos benefícios. Talvez esse seja mais um desafio, mais uma pedra no meu caminho, mais um tempo de aprendizado. Eu não sei, mas já está notei que será difícil, já está sendo aliás, ela concerteza não é uma das pessoas mais fáceis de se lidar, pode ser esse inclusive o fator de estímulo para mim, o simples anúncio de um desafio me faz enlaçar o objetivo com paixão e intensidade, é, é isso que vai me fazer fixar os olhos no final do trajeto e me impedir de desistir, isso se ela não desistir... Outra possibilidade é claro, é me deixar guiar pelos instintos, pela tentação do sexo e por todos os outros frutos da árvores proibida, mas não, não acho que seja isso, acredito e me ampararei na primeira opção: o calor da aventura e não do pecado.
"- Nunca encontrarás alguém que, como eu, demonstre tanto comprometimento, esforço e consideração...
- Eu sei."
Faltou dedicação, na verdade só ela seria o suficiente, pois é, essa palavra que me fugiu naquela tarde, que em todas as vezes na qual eu revisava esse discurso quase certo, meu senso dizia inevitável, me faltava... Bom, agora não posso mais dizer, voltar atrás, evitar minhas mágoas e disgraças, então vai para o papel. Sua complacência me acalma os ânimos e explora a minha verborragia, meu confessor favorito, a despeito dos outros, este não me chama de idiota, apesar de eu merecer tal alcunha. Em silêncio nos compriendemos, sendo assim em silêncio ficaremos. A publicação é mero fetiche de vingança, oras, o que seria mais digno mais digno a um pedido de remição público? Tropeçar tem sido para mim nos últimos anos uma grande robe, talvez uma distração dessa rotina mórbida e lúgubre, deveria ocupar minha mente com o que eu realmente gosto, mas ando sem paciência até para isso. Nem uma fotografia sua ao lado da minha suavisaria meu pranto, ele é seco e infencivo, as vezes até silencioso, qualidade de sorrateiro, mas este é diferente, ele quer estar em paz e só, se digna apenas a ser frequênte/persistente... Oras, to ficando impaciente, sinto que falta algo ao desfecho realmente, de repente só queria os meus livros de volta, não-não, eu sei que é só mais uma desculpa para ve-la novamente, isso não sai da minha mente-mente.
"Queria fugir, me perder"; é verdade o que me disseram, ouvir isso em alto e bom som reanima a gente. Tenho certeza, a solução é sumir, evaporar no ar, emergir em realidades mais convincentes ou menos indiferentes, onde amuletos de solidão não toquem a toda hora, onde ser passivo de regras seja crime, onde o sucessego da comodidade não me sufoque. De novo-de novo, pensando alto-alto demais, melhor que viver o de menos... E la vêm o turbilhão, vórtice de incertezas e dúvidas, de obrigações e vontade, de desilusões e inverdades! Um dia eu escrevo um lvro e queimo todos os meus podres e acredite, eu tenho muitos, acredite, eu não presto. Ah, prefiro viver no submundo grotesco, do baixo carnavalesco ambivalente. Estou falando demais, nem sei se isso é tão bom quanto soa ser; renascer, eu posso, eu tenho que ter!
Por enquanto resta divagar, alimentar sonhos impossíveis, caçar memórias incólumes e progredir para não regressar, entretanto viver para a pessoa que vos escreve, assim como minha paixão pessoal, é volver o passado e em ambas as vertentes, tanto a profissional como a pessoal, não há nada para se orgulhar...

28/07-08/08/08

Esse texto tem destinos diversos, mas foi escrito a uma única destinatária.

Isso tudo é tão efêmero e nós somos tão tolos, estamos apenas de passagem, mas temos que marcar tudo com nosso rastro de dúvidas, opiniões e atos. Acreditamos nos extremos, nos sacrificamos para alcança-los e ainda assim perdemos, nossa insatisfação, nosso egoísmo, aquele vazio impreenchível não nos deixa ganhar. Nós nascemos livres! Nossa liberdade conciste em poder escolher os próprios objetivos. Pintamos nosso quadro de vida, como artistas anônimos e estreantes; alguns finda a vida se tornam famosos, mas a grande massa de reijetados continuará desconhecida. Tivemos e temos apoio, é claro, nossas primeiras pinceladas e as últimas a menear a tela foram e serão auxiliadas, por alguéns - tão, sem ou igual talento como o nosso - e sendo assim, estes circulos de convivência que nos rodeiam fazem-nos ser como somos. Diferentes níveis/tons/graus de intensidade povoam nossas relações humanas, nos eivam de esperanças e temores, semeiam nossos conceitos e ideais. Por duros golpes nos será forçada a independência, nossos passos largos rumaram a destinos imprevistos, registrados por nossos olhos, renegados por nossa memória, sentidos em nossa carne por toda a eternidade. Contaram nossas histórias ? Celebraram nossas vitórias ?

Nessa multidão de rostos nos sentimos tão sozinhos, as vezes queremos ainda nos isolarmos mais... Damos gritos mudos de desespero e negamos ofertas de ajuda, somos complacentes com nosso sofrimento. O tempo zombeteiro nos deixa sorrisos de escárnio e rugas no rosto e as coisas parecem tender a piorar. O pessismo humano, o mal do século não nos deixa ver, através da névoa espessa de pré-julgamentos e privações, não nos deixamos ser notados e maldizemos aqueles que tentam. O olhar humano pode penetrar tão mais fundo que uma adaga cravada em peito não o faria sombra. A dor pode ser suprimida, mas o calor humano pode aquecer até as almas mais incrédulas. Esse sentimento já emergiu seres da perdição, já deu fim a richas brutais..

Por horas, a compania dos que nos gostam pode se fazer cura para todos os males, o silêncio pitoresco de dois exemplares da raça mais impetuosa que a natureza poderia gerar dão a máxima que pode fazer deles unidos e únicos. O mergulho em si mesmo pode te trazer essa resposta, mas de mãos dadas, obstáculos inesperados podem ser superados com facilidade. Um sorriso pode iluminar o dia e um simples olhar pode guiar à verdade, a desventura estará fardada ao passado.

Minha mão nem sempre e não mais poderá estar presente fisicamente, mas espiritualmente ela estará estendida...

Eu sem poder ser.

Crônica de Robert Walser: me representou um impulso, me estimulou um desejo, me acordou para a necessidade dessa vávula de escape virtual. Agradeço a pessoa que me repassou.

CARTA DE UM POETA A UM SENHOR

"Meu mui prezado senhor, com respeito à sua carta, que eu encontrei hoje à noite sobre a mesa, por meio da qual o senhor me solicita que indique hora e lugar em que possa conhecer-me, devo responder que não sei exatamente o que lhe dizer. Acodem-me este e aquele pensamento, pois sou uma pessoa, o senhor precisa sabê-lo, com a qual não vale a pena travar conhecimento.
Sou extraordinariamente descortês e, quando a bons modos, tenho-os tanto quanto nada. Conceder-lhe a oportunidade de me ver significa fazê-lo conhecido de alguém que corta a aba de seu chapéu de feltro com a tesoura, de forma a emprestar-lhe uma aparência selvagem. O senhor gostaria de ter diante de seus olhos um tipo assim esquisito?
A sua amável carta alegrou-me sobremaneira. O senhor, contudo, errou no endereço. Não sou aquele que merece receber esse tipo de cortesia. Peço-lhe: abandone imediatamente o desejo de me conhecer. A gentileza não combina comigo. Eu teria de retribuí-la; e exatamente isso eu gostaria de evitar, pois sei que a conduta cortês e bem-educada não me cabem. E também não gosto de ser gentil; isso me entedia.
Suponho que o senhor tenha uma mulher, que sua mulher seja elegante, e que na casa dos senhores haja algo como um salão. Alguém que se utiliza de expressões tão finas e tão belas quanto as suas tem um salão.
Eu, contudo, somente sou alguém na rua, no mato e no campo, na taberna e em meu próprio quarto; num salão, eu me apresentaria como um parvo. Jamais estive num salão - tenho medo de salões; e, como homem em pleno uso da razão, devo evitar o que me atemoriza.

Casa Velha
Como o senhor vê, sou sincero. O senhor é provavelmente um homem de posses e se expressa com palavras opulentas. Eu, ao contrário, sou pobre e tudo o que digo soa a pobreza.
Das duas uma: ou o senhor iria me aborrecer com os seus modos, ou eu iria aborrecê-lo com os meus. O senhor não faz idéia do quão sinceramente eu aprecio e prefiro a situação em que vivo. Mesmo pobre como sou, até hoje não me ocorreu de queixar da vida; pelo contrário: valorizo a tal ponto o que está à minha volta que sempre me esforço zelosamente por protegê-lo.
Moro numa casa velha e desordenada, numa espécie de ruína. Ela, no entanto, me faz feliz. A visão da gente pobre e de casa depauperadas torna-me feliz. Fico a pensar em quão poucos motivos o senhor tem para compreender isto. Preciso ter à minha volta um determinado peso e uma certa quantidade de abandono, degradação e desunião. Caso contrário, a respiração se me torna penosa.

Sou o que sou
A vida seria uma tortura se eu tivesse de ser fino, esmerado e elegante. A elegância é minha inimiga, e eu prefiro passar três dias sem nada comer a me enredar na temerária operação de faze uma vênia.
Prezado senhor, desse modo fala não o orgulho, mas uma pronunciada sensibilidade para a harmonia e a comodidade. Por que eu deveria ser o que não sou e não ser o que sou? Isso seria estúpido. Quando sou o que sou, estou contente comigo mesmo; e então tudo reverbera, tudo está bem à minha volta.
Veja o senhor, tudo se passa assim: um casaco novo é o bastante para tornar-me descontente e infeliz; compreenda, portanto, que eu odeio tudo aquilo que é belo, novo e refinado, e aprecio tudo o que é velho, surrado e gasto.
Não gosto de parasitas em particular; não gostaria de comer os bichos assim de repente, mas eles não me perturbam. Na casa em que moro há uma porção de parasitas, e no entanto eu gosto de morar aqui. A casa tem o aspecto de uma casa de ladrões. Quando tudo no mundo for novo e estiver em ordem então eu não vou querer viver, eu vou me matar.
Tenho receio semelhante quando tenho de pensar que preciso conhecer um homem distinto e instruído. Ao temer que eu vá apenas perturbá-lo e não venha a representar-lhe utilidade nenhuma nem entretenimento, um outro temor se aviva, qual seja (para falar abertamente e francamente), o de que o senhor venha a me perturbar e não possa ser simpático e agradável comigo.
Há uma alma na condição de cada pessoa; o senhor deve sabê-lo imediatamente, e eu devo imediatamente informá-lo: prezo muito o que eu sou, tão insuficiente e pobre quanto eu possa ser. Tomo toda inveja por estupidez. A inveja é uma espécie de loucura.
Respeite cada um a situação em que se encontra: assim cada um estará servido.
Temo ainda a influência que o senhor poderia exercer sobre mim, ou seja, receio o supérfluo trabalho interior que haveria de ser realizado para defender-me de sua influência.

Sobre mim paira o céu
Por isso, não corro atrás de novas relações pessoais, não posso correr atrás delas. Conhecer uma nova pessoa: isso demanda no mínimo um quê de trabalho, e eu acabo de me permitir dizer-lhe que eu aprecio e conforto. O que o senhor há de pensar de mim? E no entanto a questão me é indiferente. Eu quero que isso me seja indiferente.
Não desejo tampouco pedir-lhe desculpas por estas palavras. Isso seria retórico. Sempre se é indelicado quando se diz a verdade. Amo as estrelas, e a Lua é minha amiga secreta.
Sobre mim paira o céu. Tanto tempo quanto eu viva, não desaprenderei jamais de olhar para ele. Encontro-me na Terra: este é meu ponto de vista. As horas troçam de mim e eu troço delas. Não posso imaginar um colóquio mais aprazível. O dia e a noite são a minha companhia.
Privo da confiança do entardecer e do amanhecer. E com isso saúda-o cordialmente o pobre jovem poeta."