domingo, 4 de setembro de 2011

Discípulo de Wilde e Sade

Deram-me esta face e eu humildemente a aceitei como disfarce às minhas trevas; diferentemente de meu rosto feito assim, desde a tenra idade, não nasci corrupto, mas aprendi o que a vida me ensinou. E aprendi bem, pois disfruto da glória contida na deshonra, aquele sabor prazeiroso e vil negado pelos bons de coração. Não, estavas enganada sobre mim, querida. Fui e sou bom enquanto me é conveniente, enquanto a mentira me oferece frutos, estes mais doces, quanto mais fáceis o são de serem colhidos. Passeio então, por entre trilhas e encruzilhadas que se espraiam sobre um grande pomar cujos os pomos exalam perfumes e exprimem sucos que não dependem de madurez ou carinho, mas apenas perícia para colher-los. Vejo o mundo assim, um terreno fértil de oportunidades ofertadas em um único período da vida, a juventedo. E de passos firmes e frescos analizo a candura e beleza daquelas que prendem o meu olhar, primeiramente, e meus outros sentidos de viés. Alguém tem duvidas de que as únicas coisas que importam são a beleza e juventude?
Vivo desde então, sob a escravidão dos prazeres, desde que descobri que a felicidade é algo inatingível e ausente, logo, que outro sentido poderia encontrar nessa existência oca que me concederam entre os homens? Não me deixo ludibriar pelos mesmo, somente pela beleza juvenil, esta que a duras penas sobrevive em mundo casto, tradicional e digno. Me culparias se antes de roubar-te tua inocência houvesse lhe incubado tais mandamentos? Não deves temer ou abjetar o prazer, todo o preconceito servirá apenas para adiar e tolher o gozo final, sensação inebriante e inefável, tornado vício por aqueles que o descobriram primeiro. Diga me, que quimeras despóticas criaram em tua mente para que adiasse por tanto tempo a realidade da carne? Que credo poderia se opor com tanta força a natureza humana? Não, a virtude que prego não está predescrita em textos apócrifos, as únicas confissões a serem consideradas nobres são aquelas realizadas na cama de nossos amantes. Dito no plural porque todos fazemos parte de uma única comunidade, aquela forjada no calor de suspiros e ejaculações. Toque-se, toque-nos e verás que digo a verdade, somos todos edificados em carne e passíveis de retornar à ela.
Não sou bom, o que pensavas não era verdade; jugaste antes pela aparências e descobriria mais coisas do que em anos de elocubrações. Idiotas são aqueles que não julgam pelas aparências. Quero viver o que as minhas palavras proclamam, quero me livrar dos grilhões de aconcelhamentos caquéticos, quero servir aos dois grandes formadores da minha conciência moral: Marquês de Sade e Oscar Wilde.