domingo, 30 de agosto de 2009

Justos ou Inglórios e a cultura do medo

Não importa a que fins se prestem - justos ou inglórios - as empreasas humanas sempre conseguiram forjar justificativas que conquistassem a complacência de seus ouvintes. Os grandes feitos que impregnam a História da humanidade foram construídos a base não somente de ações, mas também de palavras. Ressalto porém, que redigir uma argumentação crítica a este respeito não significa tentar erguer uma barreira suficientemente alta que me isole do ativismo político ou dos movimentos sociais que se valem de tais métodos. Quero simplesmente manter a minha posição de contestador irrefreável, aquele típico ser "cri-cri" que não se satisfaz com nada, acredito entretanto, que se opor a uma idéia ou caminho é o primeiro passo para o início de um diálogo, processo dialético por si só e por isso, impulsionador.
Refletia quanto a frase: "o establishment obriga-nos a viver muito mais temerosos do que é necessário para sobreviver. A vantagem está em nos fazer ficar muito aquém dos limites do nosso medo." Dado a luz a este ponto, temos estar concientes do que realmente devemos temer e de até que limite esse medo não deve ultrapassar. É se utilizando do instrumento do terror que os autoritários conseguem fazer melhor controle e recuo da massa potencial de revoltosos ou do sentimento de insatisfação que eiva as ordas famintas dos desamparados. Isso é inegável e o precesso é patente; coloco como exemplo o da atual conjuntura da crise mundial - até que ponto não é possível divisar o limite do medo que nós verdadeiramente devemos ter do que o governo legitimado quer nos fazer impor? Será que as balizas deste senso são tão diáfanas que não logramos enxergar o embuste que é a tentativa de fazer a classe trabalhadora pagar por erros da classe burguesa empresária? Talvez saibamos do fato, mas apenas ignoramos a saída, não importa... O ponto em que quero tocar é exatamente do uso indiscriminado das mesmas táticas pela oposição, cito claro, a esquerda e mais especificamente o Movimentonn com o qual eu dialogo. Eles também explicitam o cancro da crise como o fim dos tempo ou o desdobramento de um processo que tem como destino natural a babárie completa; deixo sublinhado que quanto a esta questão eu não apresento qualquer discordância, antes minha intenção aqui é vislumbrar como eles postos em fileiras para a luta impunham as mesmas armas que o inimigo, o medo. Devemos nos apavarar da nuvem negra que recai sobre nós ou como eu gosto de repetir, do "fantasma que nos ronda" e por isso agir frente as possibilidades que urgem! Outro exemplo claro é o da gripe suína, de novo o establishment se aproveitou dessa desgraça epidemológica para instituir o medo e observar as prioridades nacionais, exemplo claro se encontra no México aonde o exército foi alocado às ruas para cumprir o estado de sítio. Será que realmente devemos recear essa tal pandemia com o fervor que a imprensa explora? Será que a manchete "Gripe suína Barbárie Capitalista" não é um tanto gritante e por isso apavorante? Vivemos assistenciados pelo século XXI e não no desamparo do século XIV, esse vírus não vai consumir mais vidas do que a gripe comum ou a peste negra.
É um verbete a se consultar este no dicinário o do medo para entender esta vultosa propaganda política que tapa as nossas vistas e não nos deixa descortinar um horizonte mais claro ou menos enviesado. Falo por aspiração pessoal, discurso com este espírito revolto já marcado, mas me defendo acima de tudo não como um ativista partidário, mas sim como um militante pela humanidade como diria Julio Cortázar, a quem eu tão pouco conheço, mas já gosto tanto.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

[...]

Não quero ir!...
Vai?
Não, não sei e não vou... Cá estou eu de novo no centro do vórtice.
Vc adora se repetir.
Vc morreu!
Não-não-não, me deixem em paz! Pra sempre-sempre-sempre, por favor?!
(Silêncio; sumiço)

Au au au; Auuuuuuuuuuh!

domingo, 23 de agosto de 2009

Memórias do meu Mundo

"Só é nosso aquilo que perdermos; só é nosso aquilo que vivemos, depois esquecemos e depois... lembramos."

Eu penso nas coisas, eu penso nas coisas com a angústia de quem as perdeu - mas eu as tenho - eu verdadeiramente as tenhos e ninguém pode me tirá-las! Pois, se quando eu desfrutava do contato material que elas estabeleciam comigo, essa sensação concreta que se desvanece com a quebra do laço e só pode ser devolvida com uma nova reaproximação dos corpos, o que eu tenho? Não existe impressão, à posse não pode ser dada a categoria de espiritual - existe sim, a realidade do minuto - que não nos deixa mais do que uma efêmera sensação física de calor e conforto. Esse período transitório do usufruto em que não depreedemos qualquer esforço de reflexão ou que simplesmente não estimulamos a nossa percepção tende a ser apenas o prelúdio para o esquecimento ou o que eu virei chamar aqui de "possuir sem ter". Então, essa relação que se estabelece no âmbito da materialidade não nos deve ser fonte de qualquer apreço, pois ela unicamente nos fornece uma experiência sensorial, não nos permite vivenciar aquele momento dentro da sua intesidade ou completude, somos meras marionetes de sensibilidade, esvaziadas de sentimentos. Ah, mas quem me dera comer com a mesma verdade os chocolates como aquela menina suja. Saber-me realmente satisfeito e feliz com a vida e o momento flagrante e não apenas subsistir com a consternação do "ter sem possuir". Pois, é isso que nos espera, a verdadeira posse - àquela a qual nenhum ser terreno pode nos furtá-la, àquela a qual vivenciamo-nos internamente e devemos, pelo alento intestinal a qual ela nos lega, sermos eternamente gratos. Porque só quem perdeu é que pode gozar do ter, só deste patamar saberemos como é a apreciação deste âmbito incorpóreo.
Somos assim, subservientes a nossa memória e aos agrados que ela nos reserva, exatamente por sermos dependentes desta dádiva é que precisamos elevá-la ao centro de nosso ser. Não podemos nos concentrar na intangibilidade do tempo porque abdicaremos assim de viver da eternidade do instante como o gato de Beatriz o faz. Sabe, ainda hoje me pego na doce maresia do pensamento rememorando aqueles instantes que vc hoje deve ignorar... lembra, lembra quando eu segurei sua mão? Eu sei, segurei-a tantas vezes que nem eu e vc ou Ele podemos contar, porém houve uma determinada ocasição que eu segurei na sua mão com a mesma verdade da "menina suja dos chocolates" - juro por todas aqueles diálogos em que vc demonstrou compreensão - e somente agora eu consigo perceber que eu tenho a sua mão comigo: todas as saliências, reentrência, curvas e desníveis, linhas e pequenas imperfeições, todos esses detalhes eu nutro na etérea fruição do toque e que vc não pode apagar de mim. Eu não sei até que ponto isso pode ser encarado como doloroso ou o quanto de que disso eu posso constatar estar preso como o tigre na jaula visitando e revisitando fatos mortos, entretanto minha sinceridade pode confesar o quanto é prazeiroso em alguns momentos ser esse estúpido joguete da minha própria memória; o quanto de que o que eu guardo consigo não representa nem esperança, muito menos humilhação.
Logo, o que eu devo aprender está dentro de mim mesmo, não devo sofrer com a espera, não devo me fixar no tempo ou na imortabilidade, devo apreciar o instante e resgurdá-lo com todo zelo quando o for unicamente meu. Agora eu sei que eu precisava de um pouco de ti para poder ser um pouco mais eu e que a brevidade da vida significa um número menor de agonias para explorar.

"I hurt myself today"

Eu machuquei a mim mesmo hoje; o tempo passa com grandes ventanias e mormaços insuportáveis e o que as horas dos dias me trazem são apenas mais motivos para me ferir. São cortes superficiais, às vezes este impulso se concentra em um mesmo lugar do meu corpo, tornando uma mera escoriação uma cicatriz profunda e evidente, tão claras que as pessoas que me rodeiam em alguns momentos a percebem e a apontam. Essas feridas expostas contam a minha história, faço delas os documentos comprovatórios das minhas desventuras, não que sejam infelicidades pouco críveis ou que eu as goste de rememorar, não, não é isso, simplesmente não consigo esquecê-las... Os vasos por onde transitam lâminas dão o eixo que me sustentam nessa realidade, por isso me concentro nelas e na dor que me transmitem, elas preparam a minha carne e nervos para os próximos golpes que essa existência me reserva. Não posso e nem quero deixar este mundo órfão da minha conciência, mas tenho em vista também que somente a panacéia oferecida pela loucura me fará tolerar mais algumas décadas neste espaço.
São as vicissitudes da vida que me presentearam com essas chagas, elas se espalham e deformam o meu corpo, mas a mácula maior é deixada no meu espírito; as ruas, meu domícilio e minhas companhias preenchem este quadro de extensa e intensa agonia - não são estes que seguram a faca que atravessará a epiderme e jorrará sangue deste ser agonizante que vos escreve, não de maneira fatal, claro - porque sofrimento combina a morosidade para adiar o epílogo - tenho assim uma intermitente dor que me acompanhará e me dará a justificativa para esta auto-mutilação. Justamente dessa latência que eu conquisto o direito e a sensação de estar vivo e gozo do desprazer deste privilégio. Por tudo isso me mantenho resignado e conformado com a cruz que repousaram em minhas costas e desta feita de modo algum saio apontando culpados: sejam meus pais, amigos ou anônimos. Foi a minha própria sina que me trouxe esse encargo em algum momento indizível ou indivisível que não me cabe agora precisar. Eu apenas sinto a sanha mortificadora deste utensílio enterrar mais alguns milímetros de sua folha reluzente neste tecido esquálido e gélido que é a minha pele.
O que eu me tornei meu doce amigo? Conduzirei-me assim até o final enquanto todos que eu conheço já se foram?

Ah, quanta sujeira!...

sábado, 22 de agosto de 2009

Memórias do Mundo

Baixe, aperte o play e feche os olhos. Fe-che os olhos.
Peça Memórias do Mundo

"Feche os olhos. Fe-che os olhos.. Sei que eu perdi tantas coisas que eu não poderia contá-las e agora eu descobri que essas perdas são o que é meu, sei que os meus olhos estão perdendo o amarelo, o negro do mundo e eu penso nessas cores impossíveis como não pensam os que vêem. Meu pai está morto e ele está sempre ao meu lado, porque quando eu quero recitar um verso de qualquer poeta, todo mundo me diz que eu faço com a voz dele, assim como são nossas as mulheres que nos deixaram porque não estamos mais sujeitos à véspera que é sempre aflição, nem aos alarmes - terrores da esperança - só o que está morto é nosso. Só é nosso aquilo que perdermos; só é nosso aquilo que vivemos, depois esquecemos e depois... lembramos. Isso é nosso. Não há paraísos que não, os paraísos perdidos, aquele que não perde é aquele que não tem... Uma vez um homem viu um fogo maior de todos os fogos; pra se proteger das línguas do fogo o homem tentou se esconder nas águas do mar, mas as línguas do fogo o perseguiram-o perseguiram e o encontraram. O homem então, compreendeu o seu destino - a morte em forma de fogo ela vinha coroar a sua vida - ela o absolveu dos seus trabalhos, o homem então resignado, ele se entregou às línguas do fogo, mas as línguas do fogo não queimaram a sua cara, elas só o acariciaram sem fogo, calor, combustão... O homem - um alívio, humilhação, o terror, ele compreendeu que ele não existia, que era só uma aparência e era um outro... era um outro que o estava sonhando... Aquele que não perde é aquele que não tem. Essa história é pra vc, porque somos aquilo que perdemos. Abra os olhos. Eu ainda me lembro da manhã em que vc morreu e nem eu e nem vc estávamos sonhando. Era uma ardente manhã, eu me lembro, uma manhã de fevereiro perfumada de jasmim - eu quis te abraçar, eu quis te segurar nos meus braços... não fiz, eu apenas te disse: vc nunca me vê de onde eu vejo vc, vc não intendeu nada... eu vi o fogo em vc, o mesmo fogo que eu vi em mim desde o nosso primeiro encontro eu vi as línguas do fogo. Uma vez eu ouvi que uma rainha na hora de sua morte, ela disse que era fogo e ar... Eu só sinto que eu sou terra cansada e vc não, vc agonizava e não se rendia nem mesmo ao medo do fim. Eu observei pela janela do teu quarto que na rua os trabalhadores mudavam um anúncio velho por um novo; um anúncio de cigarros vermelho, me excitava um pouco... Eu compreendi que o universo, um excessante e vasto unviverso... ele já se afastava de vc e que a mudança do anúncio de cigarros vermelhos é a primeira de um série infinita. Mudava o universo, mas eu não, eu continuei aquela manhã, ainda agora eu contunuo naquela mesma manhã - antiga, iluminada, silenciosa, perfumada - manhã que não passa. Sabe Beatriz, mesmo agora a minha memória continua te guardando sem esperança, mas também sem humilhação... Eu estava em todos os seus aniversário, sempre com um presentinho embaixo do braço, lá eu observava todos os seus retratos: vc bem pequena colorida, vc na sua primeira comunhão, com máscara no carnaval, tão linda na pria com as amigas, no dia do seu casamento com um outro, depois do divórcio sorrindo, vc, vc , vc, vc... eu não estaria agora como das outras vezes obrigado a justificar as minhas visita com presentinhos - livros, livros cujas páginas eu finalmente aprendi a cortar para me comprovar meses depois Beatriz, que todos os livros se mantinham intactos... Ontem eu encontrei um livro que vc me deu, o único, um livro e em suas páginas a desvanecida violeta - memória de uma tarde sem dúvida inesquecível e já esquecida - quantas coisas: a madeira, o concreto, o vidro, ferro, o aço, o metal, essas coisas elas duraram bem mais do que nós; essas coisas duraram para além do nosso esquecimento e essas coisas, elas nunca saberão que nós partimos assim, em um momento. Lembra dos seus aniversário Beatriz, lembra? Vc sempre comentava dos meus atrasos e eu te falava dos meus compromissos como se eles fossem grandes labirintos que me impediam de chegar até vc... era mentira. Não tinha labirintos, atrasos; a verdade que eu chegava muito antes mas eu não entrava, eu ficava dando voltas em torno da sua praça esperando o tempo passar, eu ficava ensaiando a minha entrada, ensaiando... a minha grande entrada. Lembra do seu último aniversário? Ficamos nós dois sozinhos naquele dia e o destino me favoreceu: choveu lá um dilúvio e vc insistiu pra eu ficar; naquele dia pela primeira vez eu apertei suas mãos... Foi a última noite do nosso encontro, ficamos nós dois sozinhos em silêncio... e ainda é nosso silêncio, última noite protegida do grande vento da ausência, Beatriz, todo adeus é triste como é triste... tudo que é marcada pelo tempo. Eu me lembro que enquanto eu te olhava eu acariciava o teu pequeno gato branco, e eu pensava que aquele contato era ilusório e que nós dois estávamos como que separados por uma vidraça mesmo o gato estando no meu colo... porque o homem vive no tempo, na sucessão e sempre preocupado com o antes e o depois, o antes e o depois; o gato nada, o gato vive na atualidade, ele vive na eternidade do instante, ele vive nesse instante de eternidade. Não Beatriz, desculpe... Ah, minha memória ela sempre me leva, ela me arrasta e me leva, ela me empurra e me leva, ela me confunde, me apanha e me leva, me acompanha e me leva, me puxa e me leva, ela me acaricia e me leva... A minha memória, ela sempre me leva... pra onde? Pra onde? A minha memória sempre me leva de volta a uma certa tarde a biblioteca de meu pai, eu vejo... eu vejo o bico de gás, eu poderia por a minha mão nas estantes - eu sei exatamente aonde encontrar as Mil e Um Noites, a Ilíada, a Odisséia, as obras completas de Clitly, Kitz, Witzinbirds, Dante, Cervantes, os ingleses, os franceses,... embora a biblioteca não exista mais, eu volto àquela tarde sulamericana já antiga e vejo meu pai, eu ouço sua voz dizendo palabras que eu não entendia, mas no entanto eu sentia as palavras... era de Kitz, John Kitz, de sua Ode ao Rouxinol, tantas vezes eu reli, tantas vezes ele me releu... (trecho em inglês). Eu tenho pra mim que eu sou essencialmente um leitor, eu me adentrei na escrita, mas eu acho que o que eu li é muito mais importante do que o que eu escrevi, porque uma pessoa lê o que gosta, porém ela não escreve o que ela gostaria de escrever e sim o que é capaz de escrever. Que os outros se gabem dos livros que escreveram, eu me orgulho dos que eu escrevi. Eu pensava saber sobre as palavras, quando a gente é menino a gente acha que sabe muitas coisas, mas... aquelas palavras, elas foram uma revelação pra mim, sabe que eu as entendia como podia entender versos sobre pássaros que eram imortais porque viviam no presente... Agora eu sei, somos mortais porque vivemos no passado e no futuro, porque sempre lembramos de um tempo em que não existíamos e sempre antevemos um tempo em que estaremos mortos. Talvez o verdadeiro frêmito que eu senti com aqueles versos remonte ao distante momento de minha infância em Buenos Aires quando eu ouvi meu pai ler-los em voz alta... quando o fato de que a poesia não era somente um meio de comunicação, ela era música, paixão, quando eu escuto aqueles versos e eu os continuo escutando desde então... sei que algo acontecia comigo, com todo o meu ser, minha carne, meu sangue... Eu penso que a primeira leitura de um poema, a primeira - ela é a verdadeira e que depois disso nos iludimos de que a sensação, ela se repete; eu sempre me pergunto se o tal do poeta, o John Kitz, ele sentiu esse mesmo frêmito depois de que ele leu pela primeira vez o seu primeiro verso; eu sempre me pergunto se vc, Beatriz, sentiu esse mesmo frêmito depois que vc olhou pela primeira vez nos meus olhos... Beatriz, Beatriz, teu ex-marido me procurou, o grande crítico de arte, sempre que eu folheava um de seus livros eu tinha a desconfortável sensação de estar folheando a obra de um astrônomo que nunca contemplava as estrelas, ele falava de poesia, ele falava sobre poesia como se poesia fosse uma tarefa, não uma paixão... eu li com grande respeito um de seus livros em que eu aprendi: poesia e linguagem são a expressão de algo, ora se pensamos na expressão de algo não voltamos a cair naquele velho problema de forma-conteúdo, forma-conteúdo, forma, conteúdo e se pensamos na expressão de nada? Isso não rende nada? Assim, eu respeitosamente recebo essa definição e passo adiante, eu passo a vida, a poesia, a vida é feita de poesia, a poesia não é alheia, ela tá ai, ela tá aqui, ela pode saltar sobre nós a qualquer instante, mas dessa vez foi diferente Beatriz, teu ex-marido não me falou nem de livros, nem de arte; ele me disse que tinha entrado na tua casa, tinha descido até o teu porão e que lá no teu porão ele tinha visto algo secreto, um pequeno ponto no espaço da onde se podem ver todos os lugares do mundo, o Alepf. "Borges, eu não sei qual é o nome, eu só sei que vi um pequeno ponto, uma pequena esfera, um furo perdido no espaço de onde se pode ver todos os lugares, todas as coisas, todas as pessoas ao mesmo tempo." Mas não é possível eu escrevi sobre o Alepf, mas ele não existe, ele não passa de um conto... Então Beatriz, ele me puxou pela manga do paletó... Beatriz, Beatriz, vc sabia da existência real do Aleph e não havia me contado nada? Era esse o seu segredo? Será que meu destino era sonhar com o Alepf e agora, verdadeiramente encontrá-lo... Meu pai sempre me disse: todos os fatos que acontecem a um homem desde o instante do seu nascimento até o de sua morte foram pré-fixados por ele mesmo assim, todo encontro casual é um encontro combinado, toda morte é um suicídio, toda humilhação é uma penitência e todo fracasso é uma misteriosa vitória. "Borges, prepare-se para mergulhar no porão, olha, é muito importante a escuridão, a imobilidade e certa acomodação dos olhos, vc se senta no chão do porão e conta dezenove degraus, nem um a mais nem um a menos, eu saio e eu baixo o alçapão e vc vai ficar sozinho, algum ratinho te mete medo? Não tem importância... em poucos segundos vc vai ver o Aleph." Subtamente eu compreendi o perigo, eu me deixei soterrar por aquilo louco depois de cumprimentá-lo, ele pra eliminar aquele que tinha amado a mesma mulher tinha que me matar. Eu senti um mal estar que eu dava a atribuir à escuridão, eu fechei os olhos, abri-os... eu fechei os olhos mais uma vez, depois eu os abri e então, eu vi... o Aleph... eu vi meu rosto... novo, velho, rios, nuvens, caminhos, tênis, uma pedra, sombra,... amarelo, céu, fogo, cidades, muros, muralhas, fendas, frestas, galerias,... casa de meu pai, paletó de pai, mão de meu pai, braços, homens, pernas, mulheres, dançarina de tango, violeta, cabeleira, corpo perfumado, câncer no peito, letras, traços, símbolos, retas, pontos, figuras, enciclopédias, não, não, não é isso,... não é isso, Beatriz, como te falar do Alepf, como te falar deste ponto, como te falar?... Sem que a tíbia da minha memória mal e mal apaga, a questão é que nesse instante eu vi milhões de atos agradáveis e atrozes, mas nenhum me assombrou mais de que o fato de todos ocuparem o mesmo ponto, o que os meus olhos viram foi simultâneo, o que eu tenho para descrever é sucessivo, a linguagem o é. Eu vi fogo, fogo, fogo, fogo, fogo, dia-noite, dia-noite, noite-dia, noite-dia, cavalo, cavalo, cavalo, cavalo, carne-sangue, carne-sangue, carne-sangue, olho, olho, olho, olho, olha, olha, olha, chega, olha, olha, chega, olha, olha, olha, olha,... Eu vi a minha cegueira... minha modesta cegueira, modesta em primeiro lugar porque ela é cegueira total de um olho e parcial do outro, mas tem umas cores que eu consigo decifrar, o verde, o azul... tem uma cor que nunca me foi infiel, o amarelo. Eu me lembro que quando eu era menino eu me demorava na frente de uma jaula do zoológico e era justamente a jaula dos tigres... eu me demorava na frente do amarelo dos tigres. Quantas vezes eu via o vellho tigre ir e vir pelo seu caminho sem suspeitar que esse caminho era a sua prisão? To te contando dos tigres porque com o tempo me foram abandonando as cores e foi me restando uma vaga luz, a sombra e o amarelo, o amarelo dos tigres, dos poentes e dos fulgores. Fulgores, eu gosto dessa palavra! Beatriz... e agora chego ao inefável centro do meu relato - eu vi numa gaveta da escrivaninha e ao ver me fez tremer cartas obcenas, incríveis que vc dirigira a teu ex-marido e outras cartas que vc escrevera que eu tenho em mãos e outras, outras cartas a homens, muitos homes que eu não lembro as caras nem os nomes; nenhuma pra mim. Eu vi o teu fogo secreto e ardente, eu vi a tua louca obscenidade por trás da sua discreta elegância... (som de orgasmo feminino) Eu vi os teu gritos, teus músculos, teus lençóis, tuas manhãs e mais uma vez triunfaram a perplexidade, a humilhação e a inveja... eu vi a relíquia cruel do que deliciosamente fora vc e eu entendi a engrenagem do amor, depois eu vi o Alepf na Terra, a Terra e o Alepf, na Terra o Alepf e eu senti vertingem porque vc sorria, sorria e não era pra mim e eu chorei porque os meus olhos haviam visto esse objeto secreto que nenhum homem havia olhado, mas que nenhum homem esquece... o universo, o inconcebpivel universo. Eu senti em vida a veneração que inalaste, nas ruas, nas escadarias, no metro pareceram-me familiares todas as faces eu... eu tive medo que jamais me abandonasse a sensação de voltar à realidade, mas depois de algumas noites de insônia agiu outra vez sobre mim o esquecimento, mas algo parecido com um milagre aconteceu: eu lembrei de ver no fundo do Alepf uma cidade, um rio, um rio cujas as águas dão à imortalidade, um rio que purifica os homens da morte e na sua última margem se erguia a famosa cidade dos Imortais. Beatriz, eu pensei ter encontrado o remédio pra sua ausência, nada tirava vc de mim, a tua ausência - corda no pescoço, mar em que se afunda - encontrar a famosa cidade do Imortais, cheia de homens e mulheres imortais parecia me algo tão novo, grandioso, que eu pensei remotamente que eu podia te encontrar ou que pelo menos podia te esquecer... eu ignoro se eu acreditei nas imagens do Alepf, se eu acreditei nas cidade dos Imortais, eu sei que me bastou a tarefa de procurá-la, eu atravessei diversos desertos, eu não sei se foram vários dias ou um enorme dia múltiplicado pelo sol, eu sei que eu fugia do sol e agora eu demoraria a encontrá-lo. Sempre me perguntam quais são os cinco melhores poemas da literatura, quais são? Eu sempre me lembro das palavras do meu pai me dizendo que o gosto da maçã não está nem na maçã nem na boca de quem come, o gosto da maçã está no encontro das duas; eu digo isso porque isso vale pra muitas coisas, vale pra quase todas as coisas, inclusive para os cinco melhores poemas, seja lá de quem for. Ao pé da montanha me resplandecia ser algo que parecia ser a famosa cidade dos imortais... por fim. Eu medito sobre um labirinto infinito, perdido, um invisível labirinto de tempo, não um tempo uniforme e absoluto como é o nosso, não num tempo uniforme e absoluto como é o nosso, mas em inifitas séries de tempos divergentes, convergentes, paralelos, tempos que se bifurcam pra outros tempos que se reencontram em novos tempos que se transformam e se desenlaçam e se distroem e se ingnoram e se desprezam e são tempos circulares e fragmentados e ondulados, tempos que nunca se conhecem em ondas que vão não vem que vem e não vão, tempo que nasce e não morre, tempo que não morre e nasce, tempo que vai, vai e não volta, vai, vai e não volta, tempo congelado. Pra mim em um desses tempos eu existo e vc não e em outros vc e não eu... é só um acaso ser eu que conto essa história hoje e em um desses tempos eu morro agora e vc me segura nos braços, em um desses tempos eu morro agora e vc nem me conhece, em um desses tempos eu morro agora e é vc o escorpião e em um desses tempos nóis dois Beatriz, somos melhores amigos, subimos uma montanha, vc está amarrada a mim, vc cai e fica pendurada e lá do alto eu tenho que decidir se eu corto a tua corda e sobrevivo ou se ficamos nós dois assim pendurados até o fim, de toda maneira eu agradeço a sua atenção, a paciência, o silêncio, a presença, mas não em todos os tempos... num desses tempos eu e vc somos inimigos muito unidos, num desses tempos eu encontro a famosa cidade dos Imortais. Não havia ninguém, ningué, nem um único homem imortal, nem uma única mulher imortal, nenhum outro curioso além de mim, ninguém - não, eu não quero transcrever essa cidade - na saída eu encontrei um troglodita, ele me olhava, ele parecia não um homem, mas um cão, ele era pequeno de patas deixada nu, foi ele que me guio por dentro dos escuros labirintos, quando eu sai do porão ele estava lá, subtamente ele me olhou, mas ele não pareceu me reconhecer, mas era tão grande o alívio que inundava ou era tão grande e medrosa a minha solidão que eu me pus a acreditar que aquele homem, aquele troglodita, aquele cão que estava ali no chão da caverna, ele estava lá me esperando. A humildade, a miséria do troglodita me trouxeram à memória a imagem de Argos, Argos, o velho cão morimbundo da Odisséia e então eu lhe botei o nome de Argos, tratei de instruí-lo, fracassei, tornei a fracassar; eu lembrei que se dizem entre os etíopes que os macacos não falam de propósito para que ninguém os obriguem a trabalhar... Olhando então para Argos eu pensei num mundo sem tempo, olhando para Argos eu pensei em um mundo sem memória, eu me questionei se a memória é algo que se têm ou algo que se perde. Olhando pra Argos eu pensei em um mundo sem nada e ficamos nós dois assim, Argos e eu a beira da cidade dos imortais e mais ninguém e assim, foram morrendo os dias... mas algo, algo parecido com um milagre acontenceu: choveu, choveu com lentidão poderosa, eu corri pra receber a chuva nu. Argos, Argo, o troglodita não menos feliz que eu, ele também se atirava a vir os aguaceiros numa espécie de êxtase, Argos de braços erguidos pro céu gritava: aaaaahh. Então Argos, o troglodita como se descobrisse alguma coisa perdida e esquecida a muito tempo, ele balbuciou estas palavras: "Argos, cão de Ulisses" e depois sem me olhar, "Argos, esse cão atirado no esterco", facilmente aceitamos a realidade, talvez porque intuimos que nada é real! - Ei, o que vc sabe da Odisséia?! A prática do falar era penosa para Argos, eu tive que repetir a pergunta: - Ei, o que vc sabe da Odisséia?! Argos, então disse: "É, muito pouco, menos que o mais pobre dos poetas... Já terão passado mais de dez mil anos desde que eu compus a Odisséia." Tudo me foi esclarecido naquela manhã, o trogloditas eram os Imortais, o pequeno Argos, era o grande Homero, quanto a cidade do Imortais, ela foi assolada pelos imortais a séculos... Beatriz, a morte ela torna os homens preciosos e patéticos, cada ato que um homem executa pode ser o último, não há rosto humano que não esteje por dissolver-se como um rosto de um sonho, tudo para os mortais tem o calor do irrecuperável, para os imortais não, cada ato, cada gesto, cada pensamento é um eco de outros que já se repetiram no passado e um eco de outros que se repetiram no futuro... Homero e eu nos separamos nas portas de Tanger, creio que não nos dissemos adeus. Ser imortal Beatriz, é insignificante, com excessão dos homens, todas as criaturas são imortais, pois ignoram a morte - o terrível absurdo é saber-se imortal. Eu compreendi que multiplicar a vida de um homem não é multiplicar a vida de um homem, é multiplicar a suas agonias e multiplicar sim, o número de suas mortes. Ninguém é alguém, um só homem imortal é todos os homens, assim como Homero eu agora sou herói, vilão, demônio, mundo, que é um fatigante maneira de dizer que eu não sou... que morra comigo o segredo que está escrito nos tigres. Quem entreviu o universo, quem bebeu das águas daquele rio e entreviu o universo não pode pensar em um homem mesmo que este homem seja ele, vc me entende? De todos os homens só não fui o que te abraçava naquela ardente manhã - esse homem eu não sou - que me importa ele agora, que me importa a sorte daquele homem, as idéias daquele homem se ele agora não é ninguém? Vc me intende? De todos os homens só não fui o que te segurava no braços, por isso eu deixo que os dias me esqueçam deitado na solidão. Esse é o nosso labirinto, o nosso labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro que Dante... nosso labirinto cujo centro foi o Minotauro que Dante imaginou como um touro.. com cabeça... cuja rede de pedra... labirinto, Minotauro, gerações, pedras, outro labirinto: tempo. Talvez exista um Aleph numa mínima fissura na lente de seu óculos, talvez exista um Alepf dentro da sua bolça, no fundo de um olho, numa cicatriz,... talvez realmente exista um Alepf num décimo nono degrau de uma escada em um porão de um casa de Buenos Aires... eu vi todos os Alepfs quando eu vi todas as coisas e os esqueci, eu vi todas as coisas... É engraçado Beatriz, a minha mente assim como a tua, ela é porosa pro esquecimento, eu mesmo com o tempo já estou perdendo os traços do teu rosto, mas isso agora não tem mais importância - somos a mesma pessoa, vc já está em mim. Eu vivo entre formas luminosas e vagas, mas ainda não são trevas, a minha querida Buenos Aires que antes se desgarrava nos subúrbios, volta a se recolher ao retiro das pequenas casas velhas... Sempre em minha vida foram demasiadas as coisas - Demócrito de Abdera arrancou os olhos pra pensar - o tempo têm sido o meu Demócrito. Essa penumbra é lenta ela não dói, ela flui por um manso declínio, se parece com a eternidade. Meus amigos não têm cara, as mulheres são o que foram a tantos anos, não há letras nas páginas dos meus livros... tudo isso deveria me aterrorizar mas é um regresso, uma dossura... das páginas dos livros que há na Terra eu só posso ler umas poucas - àquelas que eu sigo lendo na memória - lendo e transformando, lendo e transformando e foram estes os caminhos que me trouxeram ao meu centro, estes caminhos foram ecos, passos, agonias, noites entre sonhos, sonhos, cada íntimo instante do ontem, dos ontens do mundo, o amor, as palavras e tantas coisass; agora eu posso esquecê-las, chego ao meu centro, à minha algebra, a minha chave. Olho a minha face no espelho pra saber quem eu sou, pra saber como eu me portarei dentro de algumas horas quando eu me defrontar com o fim, a minha carne pode ter medo, eu não tenho. Eu vi os ladrilhos da casa de minha vó, eu vi um menino de olhos arregalados, um menino que gostava de amanheceres, eu vi uma menina que eu nunca esquecerei - via enquanto eu pude ver, eu vi a rosa inalcansável, pela janela do meu quarto eu vi o sol brilhar em toda a sua glória..."

Assisti a primeira vez sozinho, me mantive como ouvinte único apesar das outras cadeiras ocupadas na segunda vez que compareci ao espetáculo. Sabe Beatriz, quando eu realmente gosto de uma coisa faço questão de que todos experimentem da mesma sensação, sorvam aquilo que por um instante mínino me fez sentir-se mais vivo, mas vc não estava lá, nem da primeira vez e nem da última e quiça ouvirá esse monólogo que me foi tão cara... Aonde andarás, morreste? Desceste o fino véu que lhe envolvia a cama em leve inércia e que agora cobre sua face descolorada como uma mortalha?
Ouça, lhe peço, uma única vez, sem deixar de fechar os olhos.

domingo, 9 de agosto de 2009

Eu, um Lobo da estepe

Um caminho que satisfaça a um homem não é fácil de encontrar, mas um que satisfaça a muitos é praticamente impossível. Visto que todos temos que lidar com essas muitas vozes que estão em nossa mente e que possuem a precisa certeza de que sabem como se virar; de que são as donas da verdade e de que em absoluto cogitam a idéia de estarem erradas. Entretanto a maioria das pessoas consegue dar um sentido a vida ou pelo menos não estanca na encruzilhada, pois é exatamente nesse labirinto de portas ou saídas que me detive. Longe de ser um mero obstáculo, esse trabalho hercúleo se coloca como uma das grandes desculpas para o desgosto que nutro pela vida. Como em um grande drama, temos no palco forças divergentes que se engalfinham para tomar posse da liderança/comando e nesse eterno embate (21 anos de guerra aproximadamente) colocam em risco a minha relação com o mundo real, usufruem dos prazeres da discórdia e compromente a minha estrutura perante a sociedade. O resultado final é esta criatura "dual e discordante" da qual vos fala - ser de péssimo humor e de franqueza peçonhenta - que não sabe lidar com outros homens ou simplesmente se furta de cultivar dependências.
Trataresmos pois dessas facetas subcutâneas que perfazem o espírito deste animal/homem já muito fragilizado. Ignorando a multiplicidade dos eu's que me arrematam, pretenderei dar ênfase a apenas dois deles - o homem e o lobo - frente e anverso da mesma moeda, eles criaram um grande obstáculo para a continuidade da minha existência. De particularização díficil, pois cada um deles se subdividem em novos e específicos entes, eles se destacam na turba de vozes tentando impor suas vontades e objeções, logo descrevemos uma convivência aonde não existe o diálogo, unicamente o escárnio e a hostilidade. Nesse terreno o homem aparece como um nobre côrtes e amável, disposto a expressar seus ideais e receios, dedicado as artes e as amizades, que abomina a malvadeza e o solipsismo e ama, acima de tudo, aos outros homens. Quanto ao lobo, esta fera ímproba e desrespeitosa, prefere o eremitismo, a razão e como fator último de deliberação o instinto, possue impulsos incontroláveis que lhe tornam imprevisível e perigo, não apenas a si mesmo, mas sobretudo aos outros e, em contraposição ao homem, ama com fervor a natureza, seu habitat. Como controlar duas entidade tão discrepantes dentro de um corpo só? Se antes ambas coagissem suas ordens em benefício mútuo... Mas não, "nele o homem e o lobo não caminhavam juntos, nem sequer se ajudavam reciprocamente, mas permaneciam em contínua e mortal inimizade e um vivia apenas para causar dano ao outro, e quando há dois inimigos mortais num mesmo sangue e na mesma alma, então a vida é uma desgraça."
Desta forma, assumir a direção de tal espetáculo era improvável, mesmo para o mais destemido ou destro maestro/diretor. Desta maneira seriam explicados os meus atos falhos; em circunstâncias assim lançaria mão desavergonhadamente da esquizofrenia para me explicar. E ah, a grande revelação: se fujo dos lugares e das pessoas é para mormente, uivar para a lua em trevas que tanto me atrai. Claro, vcs não acreditariam, pois já domaram este selvagem interior a muito tempo ou se quer deixaram-no viver - mas quanto a mim, o que poderia fazer se ele vive e cresce a cada dia dentro do meu âmago? Me matar? Me controlar? Ou me isolar? Não, nada disso, segundo Hesse, eu deveria aprender a ouvir amúsica além da algaravia e rir-me de todo o resto.

Imagens do Inconsciente



"O que chamamos cultura, o que chamamos espírito, alma, o que temos por belo, formoso e santo, seria simplesmente um fantasma, já morto há muito, e considerado vivo e verdadeiro só por meia dúzia de loucos como nós?"

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Morte aos mortos!

"Miserável país aquele que não tem heróis. Miserável país aquele que precisa de heróis."

"O mundo não acabou, pois que entre as ruínas
outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora,
e o hálito selvagem da liberdade
dilata os seus peitos, Stalingrado,
seus peitos que estalam e caem
enquanto outros, vingadores, se elevam."

Entre nós, os seres humanos, existem heróis que não vemos, que não conhecemos e que quiçá nunca ouviremos falar. Falo claro, destes exemplares destemidos que nascem todos os dias, que de seus pequenos atos - grandes sacrifícios - comovem um público composto de anônimos. São bravos e laboriosos, fizeram mais por nós do que nós por eles e desta feita não nos exigiram nada. Quem algum dia lamuriou a extinção destes heróis, se preocupou em procurar apenas nas manchetes e não se deteve nos fatos reais. Na História pulsante e viva que renega ao esquecimento nomes não registrados ou deificados; um redomonhio que engole e corrompe o verdadeiro processo histórico - àquele ao qual os homens não tem posse do controle, porém são donos do manche e navegam ao bel-prazer de aspirações e lucubrações. Por conseguinte, o que seria dos grandes momentos da nossa História se essa turba de aventureiros não tivesse agido? Empunhando paus e pedras, vontade e coragem, eles derrubaram a Bastilha, frearam as tropas nazistas, sobreviveram a catástrofe das explosões nucleares de 45, empreenderam três derrotas exaustivas a República sob a aragem das preces de um Concelheiro, libertaram Hanói, tantas exemplos mais que meu âmago só faz embargar..
Vivemos em um mundo de heróis e heroínas e desconhecemos a cada um deles e protestamos à sua ausência, contraditório, não? Estamos contaminados pela concepção ideal de heróis; fomos levados a crer que estes ídolos são criaturas imortais e intangíveis, semi-deuses que tem a capacidade de alterar o curso do tempo e o destino dos homens e tão pervertido que estamos por essa visão, não podemos mais abrir aos olhos ou logo estaremos cegos para a vida e suas vicissitudes pois, descansam exatamente nos detalhes a perfeição e especificidade deste quadro.
Condeno estão, àqueles que reclamam ao passado a verdadeira identidade da humanidade; execro àqueles que ressucitam os mortos para espantar seus fantasmas e finalmente excomungo a todos que negarem a seus 'eus', aquela face ímpar e etérea, que tem a capacidade de transformar visto que, é desta centelha que se propagará a chama do resnacimento humano.
Assim, nestas palavras, neste manifesto-depoimento congrego aos homens a assassinarem aos mortos! Estes que não mais estão entre nós e que não mais contribuem em nada para com nossa existência e convívio. O tempo consumiu a vossa carne, precisamos agora nos valer da mesma entidade para acondicionar a vcs que ainda teimam em desfrutar do nosso âmbito. Privamo-nos nosso espaço a quem não mais pertence a ele e deixemos que o mesmo tempo nos apresente os heróis, incógnitos na multidão, senhores de poucas palavras e muita humildade, pedestais da compaixão e da moral, cultivadores do altruísmo e da solidariedade.

Miserável país aquele que desconhece aos seus vivos heróis.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Diálogos

- Acho que vc é anti-social..
- Ah, mais isso já é um consenso.
- Mas acho que vc age assim para afastar e se proteger das pessoas..
- Será?

Pelo visto todos tem uma teoria sobre mim, mais alguém se habilita?

domingo, 2 de agosto de 2009

Máximas

"Tem momentos que nem um historiador deveria olhar para o passado."

Obviamente eu ainda não aprendi essa lição...