sábado, 27 de novembro de 2010

Oi, ainda lembra de mim?

Por que me é tão dificultoso lembrar de vc hoje? Não é a dor que tolhe a minha memória, é antes a perda da base em que se sustentava todas essas recordações. Não te reconheço mais em suas falas e ações, as vezes penso que até mesmo a cor de seus olhos possa ter se alterado. Aqueles quadros de retina castanha escura aos quais sempre me foi possível mirar sem desviar o olhar. As pessoas mudam, eu sei, imagino então, que a efemeridade das relações atuais - ou pelo menos das minhas - esteja relacionada a essa metamorfose constante e perversa da personalidade alheia.
Quem é vc que não quer mais meus diálogos? O que fizeste com todas as cartas que, disse, me escreveria? Não é somente mais a distância que nos separa, são também nossas vidas que não nos dizem mais as mesmas coisas. Uma relação de poucos dias, intensos é verdade, são hoje material para estes escritos que eu bem sei, vc nunca os lerá. Afinal se vc já se olvidou do que fomos, te importará un carajo o que podemos ser? Ainda me são caros aqueles passeios pela plaza independecia e aqueles ternos instantes que antecediam, o que vc ingenuinamente pensava ser, o despertar do meu sono pela sua voz. Todavia, conto os dias que produzem aquela ansiedade do nosso reecontro.
Quero um último abraço, talvez um último beijo.. não, quero muito mais e vc sabe. Depois de tanto que um inverno me ofereceu, não tenho tanta certeza se o verão me será tão generoso. Quero nosso reencontro não para dizer adeus, mas para saber se ainda te conheço.

sábado, 20 de novembro de 2010

Lembrança e Esquecimento




Sobre uma superfície estofada, acomodados sob almofadas que nos envolvem em um suave odor de ervas, olhamos para o alto e o que enxergamos é uma tenda cuja cores nos elevam até a eteridade do céu. Vc sabia que um arco-ires tem muito mais do que sete tonalidades? Ele tem tantas possibilidades assim como infinitas são as possibilidades das idéias; como entidades multiformes e ao mesmo tempo metamorfosiantes. Convidativo ao corpo físico dos visitantes, esse espaço dá antes uma oportunidade à mente. O relaxamento dos músculos torna-se uma ocasião privilegiada ou antes uma porta de passagem para o campo da memória, uma ensejo de tal conveniência para a livre associação de idéias e reminicências.
Mas qual seria a relação entre lembrança e esquecimento? É possível pensar alguma coisa sem antes esquecer de todas as outras ou ainda não é imprecindível para se esquecer de um pensamento se recordar de outros? Lembrar e esquecer tornam-se logo movimentos constitutivos e indispensaveis do processo de pensar. A construção das idéias é, por excelência, uma via de duas mãos aonde existe um livre - as vezes caótico - trânsito desses excessos.
Se vc já recostou a sua cabeça e está absolvido de todas as tensões do inferno cotidiano, agora durma e sonhe, não somente sonhe, mas antes experimente em sua natureza primal o florecimento e maturação do campo das idéias. Falo obviamente, do mundo dos sonhos. Pois, é nessa esfera do onírico aonde podemos observar ou infelizmente apenas imaginar a verve deste ensaio em seu estado puro. Inconcientemente e involuntariamente nossa cabeça trabalha compulsivamente no engendramento de uma realidade que muito tem do que somos, mas também do que não sabemos sobre nós mesmos. Afinal, como diria Freud, o sonho é a realizaçõ recalcada de um desejo reprimido. Assim, o que vivenciamos quando não estamos em nossa condição de vigília é o cosmos da transcendênica, uma região aonde convivem todos os registros de nossas experiência em harmonia/conflito com todos os nossos desejos e medos. Um carnaval que depois se converte em silêncio quando despertamos. Lembrança e Esquecimento creio, tem um pouco dessa verdade também.
De vez em quando essa troca nos toca rotinamente e não chegamos a dar atenção; percebemos sim unicamente em um estágio posterior. Como nos fala Jorge Luiz Borges quando escreve: "só possuímos aquilo que perdemos; aquilo que perdemos, esquecemos e depois lembramos", essa versão tem um pouco do que nos conta um dos heterônimos de Fernando Pessoa, Alvaro Campos. Em um poema aonde ele fala sobre uma pobre menina glutona: "Come, pequena suja, come! Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!". Sabe, tudo isso é sobre como a vivência do tempo presente se perde em sensações para acabar de olvidar-se da significação. Não constatamos a felicidade ou quiçá tristeza daquele instante efêmero para só depois descobrirmos o que estava à nossa frente e é nesse flagrante que podemos nos reconhecer como possuidores da idéia/experiência.
Nesses ínfimos minutos aonde vcs estiverem? Em que lugar as cores, os aromas, a textura, a aragem de todos esses sentidos levou vcs? Voltemos então, à horizontalidade porque a digestão de toda essa verborragia pode custar muitas das suas próximas noites. Espero ter-lhes sido util.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

"- Não tentar mudar a personalidade de alguém em 1 hora"

Não é possível mudar a personalidade de uma pessoa em uma hora? Quem levantou tal proposta, hasteou tal bandeira, defendeu tal idéia? Fomos condenados então, a existir dentro dessa pessoalidade como uma camisa de força desde o nascimento? Me aconcelharam desde a primeira idade que eu deveria ser sempre o mesmo, mas nunca me contaram o que aconteceria se eu fosse outra pessoa. Mergulhados em nós mesmos nos omitimos ao conhecimento da superfície e que espetáculos maravilhos não nos permitimos a vivenciar? Quem nos deu esses olhos, nos concedeu o olfato, tato, audição não queria que os exaurissemos em movimentos mecânicos e repetitivos, libertos desse tal utilitarismo convencional. Eles são os instrumentos previlegiados para aquilo que chamamos experiencia.
Moderados interna e externamente negamos a pontencialidade do mundo a nossa volta. Os homens movidos por um progresso irrefreado abriram mão da liberdade em favor da civilização, tolheram aquilo que os separavam dos animais para existirem como eles - instituição cunhada aqui como Coletivo Humano. A individualidade como subproduto dessa ordem é tida como um distintivo dentro de uma massa homogênea. Engano perpetuado desde as mais longíquas gerações, afinal esse traço é quase um caractere genético. Como donos de uma personalidade una tencionamos a nos fechar àquilo que nos é incompatível, pois como código pessoal ele não somente significa auto-arbítrio, mas também auto-censura. Logo, resistir às influências externas é também negar o processo pelo qual nós fomos formados.
Como é possível mudar então, uma coisa que está em constante mudança? Transformar algo que em essência esta submetido a fatores das mais diversas esferas, a experiências dos mais complexos níveis, a uma estrutura das mais frágeis? Liberdade não é apenas fazer aquilo que ser quer, é sim, do mesmo modo, dar liberdade àquilo que nos quer tocar.

domingo, 14 de novembro de 2010

Barco Bêbado

Por que tanta amargura? Eivo meus dias de pensamentos ruins e comportamentos deletérios, me pergunto quão forte podem ser os laços das relações que sustentam minha presença dentro da sociedade. Como animal político tento minimamente cumprir as minhas funções, mas me desnorteio quando o convívio social exige calor humano ou mesmo a vulgaridade de diálogos tolos. O que me faz fugir das rodas de amigos e comemorações festivas? É a curiosidade dos olhares que me cercam e a transparente leveza dos seres que contrasta com a minha agonia. Me enlevo de uma tal sensação digostosa que não me resta outra saída se não a rua e o isolamento.
Nesse quadro cujos detalhes são borrões e toda paisagem não passa de uma nuvem de vapores, a imagem de um barco sem remos e sem leme me parece atraente. Sem direção ele está submetido aos gênios das ondas e do vento e por mais tenaz que seja a estirpe a qual pertence nada pode fazer para recriar a sua condição. E tensão dessa fortuna se intensifica com a inexistencia de horizonte - o anuviamento da vistas - que lhe oculta para onde vai ou de onde saiu. Tal movimento cadente provoca uma impressão de embriaguez, como barco bêbado ele permanecerá a deriva durante toda a viagem até uma borrasca decidir um encontro com rochas ou corais. Um fim cuja falsa-originalidade somente pode revelar as profundezas do oceano.
Não foi um romance, foi um relato; não houve intrigas ou aventuras, simplesmente decepções de um enredo mal escrito e não haverá um título, apenas uma breve citação. Durante toda narrativa, trajeto, viajem ou coisa que o valha sua uníca companhia foi um reflexo animado pelo tremor da superfície do mar - um rosto de quem a familiaridade nuna lhe revelou a real identidade.


E mergulhei então no Poema do Mar,
todo de astros mesclado, e leitoso, a beber
os azuis verdes, onde, a flutuar e a sonhar
um absorto afogado às vezes vai descer;

domingo, 7 de novembro de 2010

Coletivo

É tarde e meu ânimo segue sendo chacoalhado pelas veredas em que o transporte público me conduz. É tarde e a garoa fina que cai do lado de fora avisa ao meu corpo cansado que já era hora de estar em casa. É tarde e mesmo em plena conciência desse fato eu continuo perscrutando os ponteiros de meu relógio. Por que eu insisto sempre no mesmo percurso massante quando eu sei bem que uma caminhada me faria bem melhor? Envolvido em diálogos alheios e o mormaço deagradável do aperto - que nada podem contra a gélida sensação de abandono que a fórmula homogeinizante da multidão me imprime - eu escuto uma melodia suave. Quanto de razão e emoção estavam mesclados naquele ato que me colocou dentro desse coletivo? O ministério público da saúde deveria colocar como situação de risco à sanidade mental condições assim... as vezes parece que o próximo esbarro desencadeará um surto irrefreável no meu corpo e mente, ou quem sabe na figura do próprio condutor [que mal observei o rosto] se for obrigado a abrir a porta pela quarta vez na mesma parada.
O sinal fecha pelar terceira vez e eu pela sexta escuto aquela canção que me recomenda regalarte com uma rosa. Não penso na validade da proposta, tento antes me segurar na recordação gostosa que foi o seu sorriso ao se deparar com o meu buquê. Da mesma forma que me agarro a essa memória delirante tento não me desprender das barras que oferecem a segurança da minha viagem. Naquele trajeto parece que o amparo de ambas concorrem para a sustentação da minha segurança. Onde fica a fronteria entre a sanidade e a loucura? Será a próxima esquina a divisa entre esses dois estados? Uma rotina de dias tão parecidos mas com cores tão diferentes, as vezes penso que minha teoria de simulacro cenográfico ganha valia nesses ambientes públicos de tão incomoda intimidade. Então, já na exasperação da minha claustrofobia eu tento buscar as verdades pessoais daquelas feições tão díspares que hoje compõem a minha companhia ou quem sabe encontrar abrigo ignorando a hostilidade de todas aquelas expressões. Sem sucesso, afinal é dificil ser escutado em uma multidão de headphones.
Agora falta pouco para o fim do castigo que todos nós assumimos em doses ameopaticas para não surtar em objeção. Não sei mais se quero te encontrar ou estar um pouco só finalmente. Meu juízo de escolha permanece atordoado pela lembrança daquela personagem anônima que nunca cruzou suas miradas às minhas, dona de um semblante que, não duvido, comparta muitos dos meus pensamentos.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Quem me dera desaparecer antes de questionar.

Que diferença existe entre o que eu quiz dizer e o que vc entedeu, não? Apesar de lançarmos mão das mesmas palavras, compartilharmos o mesmo arsenal gesticular e bebermos do mesmo caudal cultural, ainda assim não nos entendemos, por que? Um abismo nos separa e ele foi cavado por essas ambivalências que produzimos em nossos diálogos; conversas que passam pelas banalidades do cotidiano até as grandes verdades que governam o mundo. Existem também aqueles temas sobre os quais no calamos e que a despeito da intimidade nos são tabus. Então, estamos destinados a toda vida a sermos mal entendidos?
Na verdade não, porque nós sabemos que nossas interpretações erradas nunca serão esclarecidas, simplesmente porque é mais fácil dizer "deixa pra lá". O constrangimento é evitado e não destruimos as ilusões alheias, afinal não queremos consentir com esses esquema viciado que o mundo nos colocou, certo? Eu pelo menos sempre obedeci a minha inclinação pessoal de andar contra a corrente, sabe? Lembro bem daquele dia em que vc me ensinou a verdade desse ato e corri atrás por igual caminho, não importando as concequências. Quando estaremos maduros o suficiente para entender que a dor é das experiências mais propícias pela qual nosso semelhante pode nos educar? Encerro esse parágrafo com mais essa contradição e que é a minha vida se não uma coleção delas?
Eu queria mesmo seguir minhas próprias regras e não submeter meu comportamento as convenções socias, áquele velhos protocolos que me fizeram abdicar da minha personalidade e me obrigam a mentir todos os dias para ser aceito. Mentir inclusive para vc - aquela que eu sei - nunca me ofereceu mais do que inverdades.