domingo, 23 de maio de 2010

O que o autor está fazendo?

Quando infante eu costumava girar, rodopiar sobre o meu próprio eixo, de encontro a aspiral-de encontro a sincope, o que eu prentedia? Minha inspiração estava no movimento pelo movimento e a minha aspiração alçava ao mundo da imaginação. Toda aquela jogo de criança contemplava na verdade o processo criativo; não era deliberado, não era voluntário, o que estava em questão em minha mente juvenil era o afã e a roda. Simples e tangível para qualquer ingênuo exemplar da minha idade, mas o que eu descobria ao poucos era o pacto tácito entre imaginação e criação. Acordo poético assinado entre artistas e o patamar etéreo sem cláusulas de restrição. Então, por que tão pequena adesão?
Questão de pouca valia para aquele que abstraia de um estado clínico efêmero as asas para a imaginação. Sim, eu diviso no estágio antecessor a perda de conciência um princípio ativo para a criação. Se nem todos os homens são iguais também nem todos os processos de produção artística o serão, logo o que tenho aqui a propor é apenas um deles, a vertigem criativa! Perceba com claridade no movimento, no silvo da brisa e no desequilíbrio dos sentidos aquilo que pode chegar a expressar um objeto de curiosidade, atração e em tantos casos, admiração. Refaça então seus passos até a idade em que essa revolta corporal era comum e encontre nestes instantes seus pensamentos mais instigantes.
Reviva aquela força motriz de idéias e imagens, perceba nos tons claros e luminosos destas miragens distorcidas da vertigem o que os homens taxados de artistas plásticos ou loucos libertários chamaram de obra de arte e não se acanhe ao revelar que a criação artística está dentro de vc, é inerente a raça humana e sua razão subjetiva de viver.

Entrada só para os amantes de Arte

É uma curta caminhada de minha casa até a estação de trem, para torná-la atrativa e menos cotidiana eu a prolongo, traço um labirinto desnecessário por puro prazer; conduzindo por ruas estreitas e convidativas, sentimento de conforto expresso pelas bucólicas e pequenas casinhas que as rodeiam. Pequenas a princípio, porque minha experiência narrada aqui manifestará labirintos que eu jamais poderia espremer de minhas tolas jornadas matinais ou até mesmo impossíveis do próprio Dedalus conceber. Uma portinhola e nada mais, é assim que começo a minha história sem mais estas delongas iniciais.
Um convite, um iluminado e instigante letreiro que destoava de toda a paisagem; a mensagem, em letras garrafais e amigáveis, dizia: “Museu Lasar Segal - Entrada só para os amantes da Arte.”. “Que tal trazer um pouco de mais de cultura à minha vida?” foi o que pensei, idéia que mal tomara forma quando cinco minutos depois eu já estava entre os quadros, entre objetos que me suscitavam perguntas, entre olhos que perfaziam retratos ou auto retratos segundo outros, afinal pode ser qualquer coisa. Mas veja, eu que tanto queria desenhar uma narrativa, acabava cá a discutir sobre gêneros de pintura. Isso, pintura! isso era o foco de minha tela, quero dizer crônica; os dois no caso, pois não foram os objetos que, como fábulas, escorreram daquela superfícieeecheeeheheh arenosa e cubista das molduras?
Na exposição então, não era mais Segall quem me guiava, deixado livre transladava por meio àquelas vielas e becos de possibilidades até eu perceber que não eram apenas composições de óleo sobre tela, mas espelhos que refletiam um pouco do que eu era e mais do que eu poderei ser, quiçá um dos corpos cadavéricos e famélicos a espiar pela janela. E desse adensamento do olhar que, como uma curiosidade Alice, eu adentrava as diferentes portas sem nem saber se a passagem era minha ou se o artista permitiria. Em uma delas um primeiro grande abalo, uma sensação de aflição provocada por uma realidade nem um pouco abstracionista. O cenário era de medo e desengano, centenas imigrantes buscando refúgio no além mar contra os orgasmos políticos que explodiam seus lares e pátrias, muitos deles irmãos de meu anfitrião.
O trauma daquelas dores e a maresia do mar me fizeram regurgitar – um vômito de preces, elogios e desejos de esperança que vertiam de mim até transbordar do quadro para de novo me materializar naquele corredor de labirintos da mente humana. Contaria um pouco mais sobre as minhas outras viagens, sobre esses outros mundos da experiência humana, mas isso demandaria tempo e paciência para dizer-lhes o que aos poucos estamos aprendendo de que "a percepção, o sentimento das nuâncias na arte é uma espécie de treinamento não consciente para a percepção de outras coisas na vida.” Antes da despedida prematura receio uma última questão a despontar na curva final de minhas elucubrações e a faço para que o apito de partida não soe sem mim a saída de meu trem: será que eu poderia chamar tudo isso de mediação ou não?

domingo, 9 de maio de 2010

Mas o que é um Parangolé?

Expressão viva, policromática e inebriente de um corpo/capa/dança sem fins objetivos; nessa experiência, o subjetivo prevalese permeado por nuâncias de racionalidade. Creio que melhor do que definir, seja por a prova o gosto de tal espalhamento artístico e sobretudo humano. Porque o que se apresenta, além das cores e movimentos é algo inconfundívelmente humano, fruto conflitantes ânsias, sentimentos, forças criativas que se degladiam para trazer a luz este ensaio de elevação!
A elaboração, a teoria por trás de tal comoção plástica tece a complexidade de um pensamento intimamente ligado ao âmago libertário. Quero dizer, a fluidez de tal criação nada mais é do que reflexo comum a todos os indivíduos, ou seja, trazemos isso dentro de nós mesmo. Se "museu é o mundo", então nosso ser é também, uma estrutura para exposição nem um pouco tradicional. Mas o que é um parangolé? Tomado pela ascensão do espírito por aquela nova manifestação concretista, mantinha dentro de mim a velha revelia contra as quebras de paradigma, porque um ou muitos dos meus eu's é intransigente, intolerante e reacionária. E apesar desta resistência intestinal eu conseguia sentir, apesar da convulção interna de idéia e condutas, a transmissão corpórea, visual, sensorial no caso, era completa, era significativa.
"Eu aspiro ao labirinto", era o que Hélio Oiticica dizia, ter como grande objetivo de vida o perder-se em si mesmo, me parece tanto com um ritmo de vanguarda como também uma proposta de suicídio da lógico, pois tudo que brota de nosso inconsciente pode ser tudo menos coerente. Assim, esse mergulho poderia trazer consigo grandes descobertas a respeito do gênero humano, entretanto estes mesmo dados se perderiam em qualquer tentativa de retorno a nossa realidade. Me mantenho são ou dou uma chance para a insanidade?