Saio da terra sobre a qual me ergui, da qual sorvi os nutrientes necessários paa minha sustentação e crescimento. Dela meus irmãos encontraram uma mesma origem e como eles, meus pais e os pais de meus pais semearam o fruto que hoje colhemos. Com o suor do trabalho e a orientação de sermões e preces construi-se a casa na qual moramos e da qual tiramos nosso abrigo contra as intempéries do clima e da gente. Ali aonde compartiamos o pão produzido com matéria de nosso labor fomos formados enquanto ser humanos; educados ao modos da lei e da fé. A tradição fluídas pelas palavras de nossos pais não era mais do que um surdo reverberamento da civilização que nos envolvia desde paragens alheias. Dia a dia essas homílias patriarcais nos conceberam a verdade na qual deveríamos acreditar e enquanto luz, era a única que poderia nos guiar. Refeição após refeição escutavamos as pregas a favor do trabalho e da família, de Deus e de nossa terra, sobre elas cristalizaram-se minha tenra visão de mundo. A elas respeitava porque temia a voz austera e as vezes tronitoante de nosso pai, quem à cabeceira da mesa e barba volumosa, nos revelava os mistérios da vida. Minha mãe e meus irmãos dispostos a sua vista aceitavamos sem refletir ou questionar. A saúde de todos era plena e a mesa farta atendia a necessidade de cada um após uma árduo e longa jornada de lavoura. Haveria algo mais a se rogar àqueles que nos protegiam contra os males terrenos e etéreos? O tempo era bom e nada nos faltava, principalmente ao meu sutil e inocente espírito que se animava com a perspectiva de caminhar sob a luz do sol com meus pés descalços sobre as folhas secas e banhar me desnudo às águas cristalinas do lago.
Então, me perguntas por que abandono os seios da mãe que me criou e amamentou castamente durante tantos anos? Porque entregar-se ao alvorecer de uma nova fase da vida aos augidos de uma saara distante e desconhecida? Parto pelo sabor das palavras e pelo entusiasmo de experiências que me foram negadas e ocultas. Viajo em busca da luxúria da carne e do vício. Será o vinho vazando pelos meus poros que me permitiram cultivar o obceno ou, como em tantos momentos eu o alcunhei, minha liberdade. O homem não se faz sozinho, bem o sabemos, mas tão pouco se faz em um lugar só, por isso minha ansia pelas estradas, meu destino vagabundo de vagar pelo mundo. É somente por meio desse desejo que justifico a furia com a qual abandonei minha família.
Entranto, digo, após muitos anos de meu adeus mudo, as pequenas lições dadas pela minha infancia, as nobres reminiscências criadas pela correria pelos salões claros de nossa casa não foram plantados em chão de terra batida, pedregulho ou espinhos. Guardo comigo a sapiência de uma vida, assim como levo em meu peito os lugares pelos quais passei. Com convicção dito que não há amor sem liberdade como em toda a palavra, mesmo as censuradas existem grãos graudos passíveis de serem sembrados. E se acaso ditraÍdo me perguntas: pra onde estamos indo? Estamos indo sempre pra casa.
sábado, 30 de março de 2013
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