"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo"
Tão vil e baixo quanto eu há muito, já existiram tantos outros e ao mundo ainda virão como multidões. Despiadados de si, habitando a existência como se não fossem nada e com nada, muito provavelmente, ficarão do quinhão que lhes será negado. Somo a essas hordas como seu semelhante mais renegado. Ansioso por espaços cuja aura seja timbrada pelo sucesso. Contudo, permaneço aquém de meus sonhos, caminhando puerilmente pelo chão, acostumando à poeira da qual evolui como multi-complexo conjunto celular de alto consumo energético. Vivo à sombra dos meus mais caros colegas, divisando através de vitrines embaçadas a glória alheia. Ciente disso, guardo minhas ambições para mim e meus demônios que me alimentam desse rancor e indiferença, desiludindo-me de minhas conquistas mais possíveis. Receio de pecar pela vaidade ou pela soberbia em meus discursos sem audiência. Sigo, por isso, crente em meu fracasso, orgulhoso de minha desonra, um miserável assumido que sobrevive de seus pequenos parasitismos. Não tenho porque negar o óbvio, o mais claro, a evidência mesma da minha passagem sobre o mundo. Está para mim como está para quem queira ver. Haja vista que o rasto de um miserável só é dado possível a ver por quem muito se interessa. Mais um entre os quasenadas que pesam sobre o mundo. Reconheço o meu fracasso não para que tenham pena de mim, mas para que me esqueçam. Não acredito em boas intenções e tão pouco em falsas generosidades. Reconheço meu fracasso para que eu dele mesmo me esqueça, acostumando-me finalmente com o acre gosto da experiência. Condição coerente como meu modo de andar, apresentar-se e relacionar-se com as pessoas. Reconheço tudo aquilo o que para os outros é abjeto não para ser humilde ou mais humano que meu próximo. Faço de meu discurso sincero, o mais vil produto da minha mesquinhez. Pelo reles desejo em ser muito bom finalmente em algo, mesmo que seja para o insucesso. Pedra basilar da estrutura de desamor que ergui em torno de mim, afastando de si aqueles mais impróprios para penetrá-lo. Meu mundo de metas não alcançadas, planos desfeitos, projetos inacabados e derrotas humilhantes. Tudo meu e do qual sou único responsável. Reconheço novamente meu fracasso como ato político, pois em um mundo onde predomina o esforço individual e o discurso de elogio ao sucesso pessoal, eu sou a mais mórbida vertente de sua oposição. Menos do que eu, há muitos, mas deles poucos se sabe ou quase não se viu.
quarta-feira, 22 de maio de 2019
sábado, 2 de fevereiro de 2019
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