terça-feira, 27 de julho de 2010

¿Adios?

Nasceu em uma tarde fria e pesarosa, debilitado e sedento por vermes, aquela criatura não podia balbuciar mais do que alguns agudos e intermitentes pedidos de auxílio para aquela mancha negra que bloqueava sua vista. Sua protetora e progenitora atendia licenciosamente as necessidades que um foco de vida nascente clamava. Foram alguns dias ou talvez semanas - para um amor incondicional o tempo não é uma questão importante - de dedicação e oração. A fase de dependência atravessava a incerteza da sobrevivência de um físico prematuro para alcançar as frias conseqüências da liberdade.
A frieza se traduz em ingratidão e abandono; dor que é dissimulada com o orgulho e respeito pelas proezas de um espírito principiante e pujante. Auto-suficiência aqui é também desobediência de um peito robusto, asas estendidas e lá se vai a prole em sua primeira aventura. Não há despedidas nos processos biológicos naturais e por isso também não existem lágrimas. O aconchego e calor de um ninho de gramíneas e penas velhas não chegam aos residentes do céu, então, porque tanta resistência a uma certeza? Desconsolo ou desacomodação a uma nova situação? Essa é a historia de um abrigo vazio e quantos a minha vida já não teve...
Sem qualquer suspiro de angustia a madre de crias e sentimentos pródigos permanece imóvel enquanto um dos frutos de seu útero ganha o ar e mergulha para longe de seu seio. Hastes delgadas que guiam um ponto negro ao infinito do horizonte. Quadro que se repetirá não apenas em tantas outras arvores, mas também muitas vezes mais nesse mesmo galho que o desprendimento e resignação cultivou-se com tanto carinho e ternura.

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