sábado, 28 de agosto de 2010

Carta não entregue

Será que vc tem medo de mim? A aparência da realidade esconde mais do que as poucas palvras que trocamos podem dizer. Sinto então, que a fronteria que nos separa é impermeavel às verdades - aquelas cruas que ardem quando jogadas no rosto - pois o que constitui a nossa relação são as solicitudes indispensaveis de um contrato entre pai e filho. Mesmo assim, os inúmeros rompimentos e omissões me fazem crer que nossa torre de concreto não é tão transparente como cristal, porém é tão frágil quanto. Entretanto creio que o que realmente te anima é que a construímos juntos.
Durante todo o tempo tento esconder o que a minhas malcriações expressam de maneira tão inequívoca. Me perdoe, minha insatisfação as vezes é tão grande como o seu conformismo. Será que o amor parternal é tudo o que nos resta? Seria o suficiente para preencher esse vazio que eu sei que vc carrega? Mas até nisso apresentamos equivalências; temos grandes vazios que nunca se perfazem, a diferença no entanto esta no que usamos para intentar completar-los. Seria grande exagero dizer que me tornei o que sou hoje por influência sua? Se vc algum dia foi a medida de todas as coisas para mim, hoje é muito do que eu não quero ser. Palavras tão pesadas como essas fariam desmorar todo esse castelo de cartas que armou com toda a paciência que não tinha. Destruiriam aquilo que mais admiro em sua pessoa, sua ternura?
Relutei em muitos momentos da minha vida dispor em papel esses pensamentos que me molestavam tanto, estimulado hoje, regurgito o que tanto popei para a minha cabeça. É um pouco dessa necessidade de manifestação que eu entendo quantas vezes vc pretendia tolher. Pretendo sair dessa casa, contra sua vontade, mas não por despeito, raiva ou rebeldia. O que reservo para vc na verdade é justamente o oposto, respeito, compaixão e carinho; então saio, porque creio que vc me deu tudo o que eu precisava.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Carinho estropiado

"Somos muitos os que andamos com o carinho estropiado, mas é preciso ter valor para tirá-lo de dentro estropiado e tudo. Acho, agora, que é algo que temos de aprender, como tantas coisas na vida."

É como um parto de alto risco, uma semente cultivada em um útero de merda que se agarra a essa possibilidade de nascimento - de vida - como se nada mais importasse. Porque sua própria existência depende dessa possibilidade; uma vida errante de solidão não alimenta um corpo com ânsias de carinho, por isso nos preparamos nesses nove meses de esperança ou duas décadas de ângustia para o que virá à luz do dia. Sinto o peso dessa necessidade, desse fruto que madura enquanto minha desesperança cercea seus ensejos de sobrevivência.
E meus passos são largos, mas lentos porque tento deixar meus ouvidos atentos para o seu derradeiro chamado que sinto, nunca escutarei. Busquei toda a minha vida o isolamente completo e absoluto porque o vazio das multidões terminava por me corromper e o cansaço que carregava comigo me impedia de me apaixonar por qualquer uma a mais passante que fosse.. E a solidão assim não me parecia tão ruim, pensando que tantos anos de desencontro comigo mesmo me fizeram tão mal, quiçá fosse a oportunidade para conhecer aquilo que o pessimismo escondia, minha salvaguarda. A melodia de seus suspiros juntaram um pouco da minha alma que estava esparramada, todavia essa procura por um retiro de pedras, frio e isolação me parece atraente. Me perdoe se sinto que tudo que tenho para dar ao mundo é esse grito surdo de felicidade que ecoará pela eternidade nesses inóspitos rincões da Terra.
Será que a humanidade aceitará mais esse ser enjeitado que procriei entre páginas garranchudas e amareladas de meus livros e anotações? Teus braços se abriram para este carinho estropiado gerado por meus amores antepassados? Não importa, saibas apenas que no próximo verão baterei sua porta e oferecerei o meu coração ignorando a reciprocidade de seu colo.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

¡¿Grande pedaço de merda, hein?!

Por que tantos conflitos internos, por que tanta tensão, por que tanta incompetência? Te colocaram para viver entre os homens para que sinta necessidade de fugir deles? Todo esse desconforto tece o nó do meu enforcamento. Renascimento na sala de jantar e toda a eternidade para reaver meu fôlego; ar que falta a um peito cansado e curvado, arco que se acentua a cada dia mais com a intemperança dessa rotina; cotidiano de uma multidão de gente que não quero conhecer, lugares que não quero visitar e coisas que não quero fazer... Então, por que continuar tentando?
Sim querida, me sinto desgraçado essa noite e esse ar gelado só me faz querer uivar, uivar durante toda a noite. Por que tudo isso, vc pergunta? Minha resposta sem sentido, assim como toda a minha vida, seria: me dou melhor com as estrelas do que com os homens.

Auuuuuuuuu!