"Somos muitos os que andamos com o carinho estropiado, mas é preciso ter valor para tirá-lo de dentro estropiado e tudo. Acho, agora, que é algo que temos de aprender, como tantas coisas na vida."
É como um parto de alto risco, uma semente cultivada em um útero de merda que se agarra a essa possibilidade de nascimento - de vida - como se nada mais importasse. Porque sua própria existência depende dessa possibilidade; uma vida errante de solidão não alimenta um corpo com ânsias de carinho, por isso nos preparamos nesses nove meses de esperança ou duas décadas de ângustia para o que virá à luz do dia. Sinto o peso dessa necessidade, desse fruto que madura enquanto minha desesperança cercea seus ensejos de sobrevivência.
E meus passos são largos, mas lentos porque tento deixar meus ouvidos atentos para o seu derradeiro chamado que sinto, nunca escutarei. Busquei toda a minha vida o isolamente completo e absoluto porque o vazio das multidões terminava por me corromper e o cansaço que carregava comigo me impedia de me apaixonar por qualquer uma a mais passante que fosse.. E a solidão assim não me parecia tão ruim, pensando que tantos anos de desencontro comigo mesmo me fizeram tão mal, quiçá fosse a oportunidade para conhecer aquilo que o pessimismo escondia, minha salvaguarda. A melodia de seus suspiros juntaram um pouco da minha alma que estava esparramada, todavia essa procura por um retiro de pedras, frio e isolação me parece atraente. Me perdoe se sinto que tudo que tenho para dar ao mundo é esse grito surdo de felicidade que ecoará pela eternidade nesses inóspitos rincões da Terra.
Será que a humanidade aceitará mais esse ser enjeitado que procriei entre páginas garranchudas e amareladas de meus livros e anotações? Teus braços se abriram para este carinho estropiado gerado por meus amores antepassados? Não importa, saibas apenas que no próximo verão baterei sua porta e oferecerei o meu coração ignorando a reciprocidade de seu colo.
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
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