sábado, 19 de março de 2011

Adeus, Cine Belas Artes

Adeus, Cine Belas Artes
Na esquina da Consolação com a Paulista, ali está um lugar especial para São Paulo, um dos seus pontos de encontro mais tradicional, um focu de cultura e entretenimento, mas não só, é um lugar de histórias. Histórias individuais e íntimas que construíram uma memória coletiva a respeito de um dos locais mais charmosos da cidade. Falo da minha experiencia pessoal, claro, mas quantos não dariam depoimentos análogos aos meus? Ali, atrás daquelas portas de vidro corrediças, posters ornamentam as paredes vermelhas de um tom grave e sereno. Filmes que estão em cartaz e chamam atenção do grande público povoam nossas vistas ao adentrar o recinto, porém não apenas eles como os grandes clássicos também recebem um espaço reservado - naquele salão prestigioso - películas que construíram o imaginário dos cinéfilos e marcaram a história do cinema são o destaque. Entretanto não reservo essas linhas para escrever sobre meu amor ao cinema e sim para contar sobre outras paixões.
Cinema Belas Artes, uma fachada suntuosa que protege a magia da sétima arte das desilusões do mundo verdadeiro. Assim o conheci e por um bom tempo o frequentei até suas portas cerracem um dos refúgios da minha geração. Passo a entrada principal, minha posição permanece estanque a frente da biheteria até que defina meu programa. Sozinho ou acompanhado faço uma parada obrigatória no café para suprimir as horas de sono não dormidas e as do dia estressante que enfim, termina. Entretanto o motivo que tantas vezes me fez voltar àquele lugar não está unicamente nas emoções transmitidas pela grande tela e sim nas experiências vivas antecessoras de cada exibição. Subindo as escadas chegava-se ao segundo piso, tantas e tantas vezes eu perdi horas de contemplação no que considero uma das mais paulistanas paisagens de São Paulo. Sim, o fim da Paulista, alimentando o sentido centro da avenida Consolação, sempre me pareceu um dos cartões postais que melhor definem esse cosmos da cidade na qual nasci e me criei. Revelo aqui o que tantas vezes conversei com minhas companhias, verdade, aquela sacada conta muito da minha história. Apresentei-a a muitos dos meus amores e a revisitei com tantos outros, mentiria se dissesse que houvera trazido todas as mulheres da minha vida. Minha mãe nunca a conheceu e, infelizmente, tão pouco vai conhecer. Meu segredo é: com as mais importantes e ardorosas estive lá - mesmo todas tendo partido meu coração - não tenho receio em dizer que atesoro cada um dos bons momentos ali vividos. Sobre aquele terraço de mármore negro limitado por uma grande vitrine de vidro assistindo ao corredor de ônibus sempre congestionado naquele ponto, terminando a Rebouças, eu iniciei muitos dos meus romances. Aquele espaço sempre exerceu grande atração sobre mim, nunca o resisti como lugar de repouso e de sedução. Quantos não's e sim's aquele rincão resoou eu já perdi a conta. Gosto apenas de recordar que o último pedido foi aceito.
É triste, mas a vida não é como nos filmes de finais felizes e encantadores, as vezes penso: vivemos no real teatro da tragédia. Quem pode eliminar uma lembrança da mente ou quem pode inventar uma experiência não realizada? Para mim aquele sempre será o endereço do meu cinema favorito da capital paulista, disse adeus a ele como o direi ao meu ultimo e sempre grande amor! Adeus Cine Belas Artes.

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