"Não é comum ver livros como armas. Enquanto no dia 27 de outubro de 2011 a imprensa mostrou os alunos da FFLCH da USP como um bando de usuários de drogas em defesa de seus privilégios, nós outros assistimos jovens indignados, mochila nas costas e livros empunhados contra policiais atônitos, armados e sem identifica ......ção, num claro gesto de indisciplina perante a lei. Vários alunos gritavam: “Isto aqui é um livro!”.
Curioso que a geração das redes sociais virtuais apresente esta capacidade radical de usar novos e velhos meios para recusar a violação de nossos direitos. No momento em que o conhecimento mais é ameaçado, os livros velhos de papel, encadernados, carimbados pela nossa biblioteca são erguidos contra o arbítrio.
Os policiais que passaram o dia todo da ultima quinta feira revistando alunos na biblioteca e nos pátios, poderiam ter observado no prédio de História e Geografia vários cartazes gigantes dependurados. Eram palavras de ordem. Algumas vetustas. Outras “impossíveis”. Muitas indignadas. E várias poéticas... É assim uma universidade.
A violação da nossa autonomia tem sido justificada pela necessidade de segurança e a imagem da FFLCH manchada pela ação deliberada dos seus inimigos. A Unidade que mais atende os alunos da USP, dotada de cursos bem avaliados até pelos duvidosos critérios de produtividade atuais, é uma massa desordenada de concreto com salas superlotadas e realmente inseguras. Mas ainda assim é a nossa Faculdade!
É inaceitável que um espaço dedicado á reflexão, ao trabalho, à política, às artes e também à recreação de seus jovens estudantes seja ameaçado pela força policial. Uma Universidade tem o dever de levar sua análise crítica ao limite porque é a única que pode fazê-lo. Seus equívocos devem ser corrigidos por ela mesma. Se ela é incapaz disso, não é mais uma universidade.
A USP não está fora da cidade e do país que a sustenta. Precisa sim de um plano de segurança próprio como outras instituições têm. Afinal, ninguém ousaria dizer que os congressistas de Brasília têm privilégios por não serem abordados e revistados por Policiais. A USP conta com entidades estudantis, sindicatos e núcleos que estudam a intolerância, a violência e a própria polícia.
Ela deve ter autonomia sim. Quando Florestan Fernandes foi preso em 1964, ele escreveu uma carta ao Coronel que presidia seu inquérito policial militar explicando-lhe que a maior virtude do militar é a disciplina e a do intelectual é o espírito crítico... Que alguns militares ainda não o saibam, é compreensível. Que dirigentes universitários o ignorem, é desesperador."
Lincoln Secco
Universidade de São Paulo (USP)
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) - Departamento de História
sábado, 29 de outubro de 2011
sábado, 8 de outubro de 2011
Entre o Sorriso e o Choro,
diante de ambos minhas defesas sucumbem, a bandeira branca é levantada e os disparos cessam. Diante do arbítrio inimigo abro mão de condições pré-estabelecidas e qualquer negociação é vã diante da inevitável rendição. Reconheço a derrota, sou fraco. Minhas posições são tomadas e todo o território é ocupado sob os últimos suspiros da resistência. Somente loucos ou cegos negariam a vitória destes semblantes refletida no branco de suas retinas. Toda diatribe deve ser regida ao compasso de argumentos postos com postura e destreza, a eloquência e erudição são então, instrumentos indispensáveis em uma contenda verbal. Mas aqui também, como no amor e guerra, tudo vale.
Descobri hoje mais um calcanhar de aquiles, claudicando diante desta verdade ganhei conciência de mais uma fraqueza. Não sou nada diante de um sorriso, ou melhor, diante de sua hipérbole, aquela gargalhada contagiosa, capaz de ressoar até dentro do ambiente mais estéril e cético. Há expressão mais sincera do que um riso descontrolado? Seja a gozação pela gozação, não me interessa a armadilha que porventura pode ocultar, estou preso naquele átimo de segundo que separa a inflexão das covas de um rosto e o brilho qu emerge do smalte de seus dentes. Me entrego porque estou encantado, me submeto porque me enamorei da melodia e da expressão de uma alegria ou desespero. Vos bien sabes la verdad. Igualmente não sou ninguém diante do choro incontido, me humilho jogando meus joelhos ao chão porque a culpa recai sobre meus ombros, me responsabilizo por cada cristal líquido vertido sobre o solo, água de salmora intragável. Mudo minha opinião e me traio, porque uma vontade não é nada frente um torrente emocinal. Seja aquele choro miudo e amuado que pinga como uma torneira mal fechada ou aquela cascata que borra o rimel e a suavidade da pele deixando apenas uma face desfigurada, eu me entrego e dou meu coração para que enxugues sua angustia e cure sua mágoa. Do mesmo modo posso traduzir minha sensibilidade em lágrimas se é de alegria que estamos tratando.
Manifestações de fisionomia tão contrastantes e opostos guardam entretanto, um paradoxo intrigante. Tanto o choro como o riso podem ser juízos da alegria como da tristeza. Rio de desesperança como posso chorar de ventura e tanto um como o outro gesto se refletem em um espelho, revelação de duas irmãs separadas desde berço e que me tocam quando nada mais chamaria minha atenção ou mudaria minha decisão.
Descobri hoje mais um calcanhar de aquiles, claudicando diante desta verdade ganhei conciência de mais uma fraqueza. Não sou nada diante de um sorriso, ou melhor, diante de sua hipérbole, aquela gargalhada contagiosa, capaz de ressoar até dentro do ambiente mais estéril e cético. Há expressão mais sincera do que um riso descontrolado? Seja a gozação pela gozação, não me interessa a armadilha que porventura pode ocultar, estou preso naquele átimo de segundo que separa a inflexão das covas de um rosto e o brilho qu emerge do smalte de seus dentes. Me entrego porque estou encantado, me submeto porque me enamorei da melodia e da expressão de uma alegria ou desespero. Vos bien sabes la verdad. Igualmente não sou ninguém diante do choro incontido, me humilho jogando meus joelhos ao chão porque a culpa recai sobre meus ombros, me responsabilizo por cada cristal líquido vertido sobre o solo, água de salmora intragável. Mudo minha opinião e me traio, porque uma vontade não é nada frente um torrente emocinal. Seja aquele choro miudo e amuado que pinga como uma torneira mal fechada ou aquela cascata que borra o rimel e a suavidade da pele deixando apenas uma face desfigurada, eu me entrego e dou meu coração para que enxugues sua angustia e cure sua mágoa. Do mesmo modo posso traduzir minha sensibilidade em lágrimas se é de alegria que estamos tratando.
Manifestações de fisionomia tão contrastantes e opostos guardam entretanto, um paradoxo intrigante. Tanto o choro como o riso podem ser juízos da alegria como da tristeza. Rio de desesperança como posso chorar de ventura e tanto um como o outro gesto se refletem em um espelho, revelação de duas irmãs separadas desde berço e que me tocam quando nada mais chamaria minha atenção ou mudaria minha decisão.
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