"“Soy tan feliz”, dice Sonia apoyando la mejilla en el pecho de Roland adormilado. “No lo digas”, murmura Roland, “uno siempre piensa que es una amabilidad”. “¿No me crees?”, ríe Sonia. “Sí, pero no lo digas ahora. Fumemos.” Tantea en la mesa baja hasta encontrar cigarrillos, pone uno en los labios de Sonia, acerca el suyo, los enciende al mismo tiempo. Se miran apenas, soñolientos, y Roland agita el fósforo y lo posa en la mesa donde en alguna parte hay un cenicero. Sonia es la primera en adormecerse y él le quita muy despacio el cigarrillo de la boca, lo junta con el suyo y los abandona en la mesa, resbalando contra Sonia en un sueño pesado y sin imágenes. El pañuelo de gasa arde sin llama al borde del cenicero, chamuscándose lentamente, cae sobre la alfombra junto al montón de ropas y una copa de coñac."
Todos los fuegos el fuego, Julio Cortazar.
Rescostado em um dos bancos do lado da janela, enfurnado ao fundo do coletivo, repousava minha cabeça contra o vidro. Sua qualidade fosca parecia acentuar minha indiferença em relação ao mundo externo. Estava cansado e parecia compartilhar com o resto dos passageiros o pesar daquele fim de tarde com excessão de um casal que parecia estar alheio em seu mundo de carícias e risos contidos localizado dois bancos mais a frente. Era fins de novembro e o calor daquela primavera parecia torrar as têmporas dos passantes a quem o autobus deixava para trás, porém eis que uma fisionomia se desgarra das outras e minha mirada atordada se desvia dos letreiros coloridos e chamativos das ruas do centro e se concentra naquele semblante de sombrancelhas arqueadas e bem feitas. Minha desetenção a registrou de relance, mas minha memória jamais abandonou ao olvido aquele olhar mediterrânico. Foi impulsivo - mas em qualquer um dos outros mundo eu teria agido da mesma maneira - saltei de meu acento e dei sinal, quebravamos a esquina e seu perfil aos poucos tornava-se indivisível. Queria apenas alcança-la, fazê-la crer que aquele encontro era casual e involuntário e talvez arrancar-lhe um sorriso com tamanha desfaçatez. Quiçás não me reconhecerias ou pior, meu sobressaltado movimento seria fruto de um tolo engano. Vacilo ao pronunciar seu nome, mas é seu rosto que se volta a minha direção com uma leve surpresa nos lábios. Aquele momento não nos reserva tempo, seu atraso para algum jantar à algumas quadras além dita o ritmo do ocaso. Queria revirar o passado e reviver as sendas deixadas por reminicências tão antigas, mas sua indagação educada ao relógio me nega essa oportunidade. Era verdade e eu já sabia, os desfechos são definitivos e o passar dos anos apenas confirmam as palavras já ditas.
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
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