Sabe aqueles textos que vc lê e se sente bem ? Melhor ainda são as pessoas, apesar de suas infinitas limitações, lhe fazem um bem maior ainda.. Esse post não é para algo, é para alguém.
"Se
Se, ao final desta existência,
Alguma ansiedade me restar
E conseguir me perturbar;
Se eu me debater aflito
No conflito, na discórdia...
Se ainda ocultar verdades
Para ocultar-me,
Para ofuscar-me com fantasias por mim criadas...
Se restar abatimento e revolta
Pelo que não consegui
Possuir, fazer, dizer e mesmo ser...
Se eu retiver um pouco mais
Do pouco que é necessário
E persistir indiferente ao grande pranto do mundo...
Se algum ressentimento,
Algum ferimento
Impedir-me do imenso alívio
Que é o irrestritamente perdoar,
E, mais ainda,
Se ainda não souber sinceramente orar
Por quem me agrediu e injustiçou...
Se continuar a mediocremente
Denunciar o cisco no olho do outro
Sem conseguir vencer a treva e a trave
Em meu próprio...
Se seguir protestando
Reclamando, contestando,
Exigindo que o mundo mude
Sem qualquer esforço para mudar eu...
Se, indigente da incondicional alegria interior,
Em queixas, ais e lamúrias,
Persistir e buscar consolo, conforto, simpatia
Para a minha ainda imperiosa angústia...
Se, ainda incapaz para a beatitude das almas santas,
Precisar dos prazeres medíocres que o mundo vende...
Se insistir ainda que o mundo silencie
Para que possa embeber-me de silêncio,
Sem saber realizá-lo em mim...
Se minha fortaleza e segurança
São ainda construídas com os materiais
Grosseiros e frágeis
Que o mundo empresta,
E eu neles ainda acredito...
Se, imprudente e cegamente,
Continuar desejando
Adquirir,
Multiplicar,
E reter Valores, coisas, pessoas, posições, ideologias,
Na ânsia de ser feliz...
Se, ainda presa do grande embuste,
Insistir e persistir iludido
Com a importância que me dou...
Se, ao fim de meus dias,
Continuar
Sem escutar, sem entender, sem atender,
Sem realizar o Cristo, que,
Dentro de mim,
Eu Sou,
Terei me perdido na multidão abortada
Dos perdulários dos divinos talentos,
Os talentos que a Vida
A todos confia,
E serei um fraco a mais,
Um traidor da própria vida,
Da Vida que investe em mim,
Que de mim espera
E que se vê frustrada
Diante de meu fim.
Se tudo isto acontecer
Terei parasitado a Vida
E inutilmente ocupado
O tempo
E o espaço
De Deus.
Terei meramente sido vencido
Pelo fim,
Sem ter atingido a Meta."
sábado, 30 de agosto de 2008
Passado, passado, passado...
"Eu me tornei o que sou hoje aos doze anos, em um dia nublado e gélido do inverno de 1975. Lembro do momento exato em que isso aconteceu, quando estava agachado por detrás de uma parede de barro parcialmente desmoronada, espiando o beco que ficava perto do riacho congelado. Foi há muito tempo, mas descobri que não é verdade o que dizem a respeito do passado, essa história de que podemos enterrá-lo. Porque, de um jeito ou de outro, ele sempre consegue escapar. Olhando para trás, agora, percebo que passei os últimos vinte e seis anos da minha vida espiando aquele beco deserto."
Li, chorei, envolvi-me, mas não gostei desse livro e não poderia ser diferente. No entanto essa frase me pegou pelo calcanhar de aquiles, acho que sou, no fundo, traumatizado pelo passado, não nesse nível/tipo de pisique, da qual sofre o personagem, mas mesmo assim o temo, ele me espreita e eu tremo... Não quero mais saber disso e nem de nada, quero sim um caminho florido, um pouco de ar puro e uma pêra pra um eu sozinho lembrar do que for conveniente.
Li, chorei, envolvi-me, mas não gostei desse livro e não poderia ser diferente. No entanto essa frase me pegou pelo calcanhar de aquiles, acho que sou, no fundo, traumatizado pelo passado, não nesse nível/tipo de pisique, da qual sofre o personagem, mas mesmo assim o temo, ele me espreita e eu tremo... Não quero mais saber disso e nem de nada, quero sim um caminho florido, um pouco de ar puro e uma pêra pra um eu sozinho lembrar do que for conveniente.
Crônica para uma [história] Cretina ou coisa que o valha...
Voltou a chover, depois de um maldito mês seco, gostas de água voltaram a verter o solo. Refrescaram o ar empoeirado e intragável, umedeceram as folhas e limparam a fumaça dos meus olhos. Não sei, mas acho que minha vista esteve por algum tempo embaralhada por emoções inulteis, sentimentos desproporcionais e travessos que me arrastaram para um fosso de improbidades. Nele, meu tato e audição me revelaram o que tanto minhas retinas se esforçaram para esconder. Na espessura das convicções, nos devaneios de fantasias, no doce sabor da carne eu demorei pra enxergar uma verdade patente, me ludibriei com um mistério que talvez não exista, eu o inventei, eu o moldei, eu me propus a desvenda-lo... Oh, pra minha surpresa ele não passava de fabulações tolas em noites de carência (é, essa música que vem agora não diz nenhuma mentira), são todas consequências de se gostar de alguèm, os incovenientes, os malefícios e claro os benditos benefícios. Talvez esse seja mais um desafio, mais uma pedra no meu caminho, mais um tempo de aprendizado. Eu não sei, mas já está notei que será difícil, já está sendo aliás, ela concerteza não é uma das pessoas mais fáceis de se lidar, pode ser esse inclusive o fator de estímulo para mim, o simples anúncio de um desafio me faz enlaçar o objetivo com paixão e intensidade, é, é isso que vai me fazer fixar os olhos no final do trajeto e me impedir de desistir, isso se ela não desistir... Outra possibilidade é claro, é me deixar guiar pelos instintos, pela tentação do sexo e por todos os outros frutos da árvores proibida, mas não, não acho que seja isso, acredito e me ampararei na primeira opção: o calor da aventura e não do pecado.
"- Nunca encontrarás alguém que, como eu, demonstre tanto comprometimento, esforço e consideração...
- Eu sei."
Faltou dedicação, na verdade só ela seria o suficiente, pois é, essa palavra que me fugiu naquela tarde, que em todas as vezes na qual eu revisava esse discurso quase certo, meu senso dizia inevitável, me faltava... Bom, agora não posso mais dizer, voltar atrás, evitar minhas mágoas e disgraças, então vai para o papel. Sua complacência me acalma os ânimos e explora a minha verborragia, meu confessor favorito, a despeito dos outros, este não me chama de idiota, apesar de eu merecer tal alcunha. Em silêncio nos compriendemos, sendo assim em silêncio ficaremos. A publicação é mero fetiche de vingança, oras, o que seria mais digno mais digno a um pedido de remição público? Tropeçar tem sido para mim nos últimos anos uma grande robe, talvez uma distração dessa rotina mórbida e lúgubre, deveria ocupar minha mente com o que eu realmente gosto, mas ando sem paciência até para isso. Nem uma fotografia sua ao lado da minha suavisaria meu pranto, ele é seco e infencivo, as vezes até silencioso, qualidade de sorrateiro, mas este é diferente, ele quer estar em paz e só, se digna apenas a ser frequênte/persistente... Oras, to ficando impaciente, sinto que falta algo ao desfecho realmente, de repente só queria os meus livros de volta, não-não, eu sei que é só mais uma desculpa para ve-la novamente, isso não sai da minha mente-mente.
"Queria fugir, me perder"; é verdade o que me disseram, ouvir isso em alto e bom som reanima a gente. Tenho certeza, a solução é sumir, evaporar no ar, emergir em realidades mais convincentes ou menos indiferentes, onde amuletos de solidão não toquem a toda hora, onde ser passivo de regras seja crime, onde o sucessego da comodidade não me sufoque. De novo-de novo, pensando alto-alto demais, melhor que viver o de menos... E la vêm o turbilhão, vórtice de incertezas e dúvidas, de obrigações e vontade, de desilusões e inverdades! Um dia eu escrevo um lvro e queimo todos os meus podres e acredite, eu tenho muitos, acredite, eu não presto. Ah, prefiro viver no submundo grotesco, do baixo carnavalesco ambivalente. Estou falando demais, nem sei se isso é tão bom quanto soa ser; renascer, eu posso, eu tenho que ter!
Por enquanto resta divagar, alimentar sonhos impossíveis, caçar memórias incólumes e progredir para não regressar, entretanto viver para a pessoa que vos escreve, assim como minha paixão pessoal, é volver o passado e em ambas as vertentes, tanto a profissional como a pessoal, não há nada para se orgulhar...
28/07-08/08/08
"- Nunca encontrarás alguém que, como eu, demonstre tanto comprometimento, esforço e consideração...
- Eu sei."
Faltou dedicação, na verdade só ela seria o suficiente, pois é, essa palavra que me fugiu naquela tarde, que em todas as vezes na qual eu revisava esse discurso quase certo, meu senso dizia inevitável, me faltava... Bom, agora não posso mais dizer, voltar atrás, evitar minhas mágoas e disgraças, então vai para o papel. Sua complacência me acalma os ânimos e explora a minha verborragia, meu confessor favorito, a despeito dos outros, este não me chama de idiota, apesar de eu merecer tal alcunha. Em silêncio nos compriendemos, sendo assim em silêncio ficaremos. A publicação é mero fetiche de vingança, oras, o que seria mais digno mais digno a um pedido de remição público? Tropeçar tem sido para mim nos últimos anos uma grande robe, talvez uma distração dessa rotina mórbida e lúgubre, deveria ocupar minha mente com o que eu realmente gosto, mas ando sem paciência até para isso. Nem uma fotografia sua ao lado da minha suavisaria meu pranto, ele é seco e infencivo, as vezes até silencioso, qualidade de sorrateiro, mas este é diferente, ele quer estar em paz e só, se digna apenas a ser frequênte/persistente... Oras, to ficando impaciente, sinto que falta algo ao desfecho realmente, de repente só queria os meus livros de volta, não-não, eu sei que é só mais uma desculpa para ve-la novamente, isso não sai da minha mente-mente.
"Queria fugir, me perder"; é verdade o que me disseram, ouvir isso em alto e bom som reanima a gente. Tenho certeza, a solução é sumir, evaporar no ar, emergir em realidades mais convincentes ou menos indiferentes, onde amuletos de solidão não toquem a toda hora, onde ser passivo de regras seja crime, onde o sucessego da comodidade não me sufoque. De novo-de novo, pensando alto-alto demais, melhor que viver o de menos... E la vêm o turbilhão, vórtice de incertezas e dúvidas, de obrigações e vontade, de desilusões e inverdades! Um dia eu escrevo um lvro e queimo todos os meus podres e acredite, eu tenho muitos, acredite, eu não presto. Ah, prefiro viver no submundo grotesco, do baixo carnavalesco ambivalente. Estou falando demais, nem sei se isso é tão bom quanto soa ser; renascer, eu posso, eu tenho que ter!
Por enquanto resta divagar, alimentar sonhos impossíveis, caçar memórias incólumes e progredir para não regressar, entretanto viver para a pessoa que vos escreve, assim como minha paixão pessoal, é volver o passado e em ambas as vertentes, tanto a profissional como a pessoal, não há nada para se orgulhar...
28/07-08/08/08
Esse texto tem destinos diversos, mas foi escrito a uma única destinatária.
Isso tudo é tão efêmero e nós somos tão tolos, estamos apenas de passagem, mas temos que marcar tudo com nosso rastro de dúvidas, opiniões e atos. Acreditamos nos extremos, nos sacrificamos para alcança-los e ainda assim perdemos, nossa insatisfação, nosso egoísmo, aquele vazio impreenchível não nos deixa ganhar. Nós nascemos livres! Nossa liberdade conciste em poder escolher os próprios objetivos. Pintamos nosso quadro de vida, como artistas anônimos e estreantes; alguns finda a vida se tornam famosos, mas a grande massa de reijetados continuará desconhecida. Tivemos e temos apoio, é claro, nossas primeiras pinceladas e as últimas a menear a tela foram e serão auxiliadas, por alguéns - tão, sem ou igual talento como o nosso - e sendo assim, estes circulos de convivência que nos rodeiam fazem-nos ser como somos. Diferentes níveis/tons/graus de intensidade povoam nossas relações humanas, nos eivam de esperanças e temores, semeiam nossos conceitos e ideais. Por duros golpes nos será forçada a independência, nossos passos largos rumaram a destinos imprevistos, registrados por nossos olhos, renegados por nossa memória, sentidos em nossa carne por toda a eternidade. Contaram nossas histórias ? Celebraram nossas vitórias ?
Nessa multidão de rostos nos sentimos tão sozinhos, as vezes queremos ainda nos isolarmos mais... Damos gritos mudos de desespero e negamos ofertas de ajuda, somos complacentes com nosso sofrimento. O tempo zombeteiro nos deixa sorrisos de escárnio e rugas no rosto e as coisas parecem tender a piorar. O pessismo humano, o mal do século não nos deixa ver, através da névoa espessa de pré-julgamentos e privações, não nos deixamos ser notados e maldizemos aqueles que tentam. O olhar humano pode penetrar tão mais fundo que uma adaga cravada em peito não o faria sombra. A dor pode ser suprimida, mas o calor humano pode aquecer até as almas mais incrédulas. Esse sentimento já emergiu seres da perdição, já deu fim a richas brutais..
Por horas, a compania dos que nos gostam pode se fazer cura para todos os males, o silêncio pitoresco de dois exemplares da raça mais impetuosa que a natureza poderia gerar dão a máxima que pode fazer deles unidos e únicos. O mergulho em si mesmo pode te trazer essa resposta, mas de mãos dadas, obstáculos inesperados podem ser superados com facilidade. Um sorriso pode iluminar o dia e um simples olhar pode guiar à verdade, a desventura estará fardada ao passado.
Minha mão nem sempre e não mais poderá estar presente fisicamente, mas espiritualmente ela estará estendida...
Nessa multidão de rostos nos sentimos tão sozinhos, as vezes queremos ainda nos isolarmos mais... Damos gritos mudos de desespero e negamos ofertas de ajuda, somos complacentes com nosso sofrimento. O tempo zombeteiro nos deixa sorrisos de escárnio e rugas no rosto e as coisas parecem tender a piorar. O pessismo humano, o mal do século não nos deixa ver, através da névoa espessa de pré-julgamentos e privações, não nos deixamos ser notados e maldizemos aqueles que tentam. O olhar humano pode penetrar tão mais fundo que uma adaga cravada em peito não o faria sombra. A dor pode ser suprimida, mas o calor humano pode aquecer até as almas mais incrédulas. Esse sentimento já emergiu seres da perdição, já deu fim a richas brutais..
Por horas, a compania dos que nos gostam pode se fazer cura para todos os males, o silêncio pitoresco de dois exemplares da raça mais impetuosa que a natureza poderia gerar dão a máxima que pode fazer deles unidos e únicos. O mergulho em si mesmo pode te trazer essa resposta, mas de mãos dadas, obstáculos inesperados podem ser superados com facilidade. Um sorriso pode iluminar o dia e um simples olhar pode guiar à verdade, a desventura estará fardada ao passado.
Minha mão nem sempre e não mais poderá estar presente fisicamente, mas espiritualmente ela estará estendida...
Eu sem poder ser.
Crônica de Robert Walser: me representou um impulso, me estimulou um desejo, me acordou para a necessidade dessa vávula de escape virtual. Agradeço a pessoa que me repassou.
CARTA DE UM POETA A UM SENHOR
"Meu mui prezado senhor, com respeito à sua carta, que eu encontrei hoje à noite sobre a mesa, por meio da qual o senhor me solicita que indique hora e lugar em que possa conhecer-me, devo responder que não sei exatamente o que lhe dizer. Acodem-me este e aquele pensamento, pois sou uma pessoa, o senhor precisa sabê-lo, com a qual não vale a pena travar conhecimento.
Sou extraordinariamente descortês e, quando a bons modos, tenho-os tanto quanto nada. Conceder-lhe a oportunidade de me ver significa fazê-lo conhecido de alguém que corta a aba de seu chapéu de feltro com a tesoura, de forma a emprestar-lhe uma aparência selvagem. O senhor gostaria de ter diante de seus olhos um tipo assim esquisito?
A sua amável carta alegrou-me sobremaneira. O senhor, contudo, errou no endereço. Não sou aquele que merece receber esse tipo de cortesia. Peço-lhe: abandone imediatamente o desejo de me conhecer. A gentileza não combina comigo. Eu teria de retribuí-la; e exatamente isso eu gostaria de evitar, pois sei que a conduta cortês e bem-educada não me cabem. E também não gosto de ser gentil; isso me entedia.
Suponho que o senhor tenha uma mulher, que sua mulher seja elegante, e que na casa dos senhores haja algo como um salão. Alguém que se utiliza de expressões tão finas e tão belas quanto as suas tem um salão.
Eu, contudo, somente sou alguém na rua, no mato e no campo, na taberna e em meu próprio quarto; num salão, eu me apresentaria como um parvo. Jamais estive num salão - tenho medo de salões; e, como homem em pleno uso da razão, devo evitar o que me atemoriza.
Casa Velha
Como o senhor vê, sou sincero. O senhor é provavelmente um homem de posses e se expressa com palavras opulentas. Eu, ao contrário, sou pobre e tudo o que digo soa a pobreza.
Das duas uma: ou o senhor iria me aborrecer com os seus modos, ou eu iria aborrecê-lo com os meus. O senhor não faz idéia do quão sinceramente eu aprecio e prefiro a situação em que vivo. Mesmo pobre como sou, até hoje não me ocorreu de queixar da vida; pelo contrário: valorizo a tal ponto o que está à minha volta que sempre me esforço zelosamente por protegê-lo.
Moro numa casa velha e desordenada, numa espécie de ruína. Ela, no entanto, me faz feliz. A visão da gente pobre e de casa depauperadas torna-me feliz. Fico a pensar em quão poucos motivos o senhor tem para compreender isto. Preciso ter à minha volta um determinado peso e uma certa quantidade de abandono, degradação e desunião. Caso contrário, a respiração se me torna penosa.
Sou o que sou
A vida seria uma tortura se eu tivesse de ser fino, esmerado e elegante. A elegância é minha inimiga, e eu prefiro passar três dias sem nada comer a me enredar na temerária operação de faze uma vênia.
Prezado senhor, desse modo fala não o orgulho, mas uma pronunciada sensibilidade para a harmonia e a comodidade. Por que eu deveria ser o que não sou e não ser o que sou? Isso seria estúpido. Quando sou o que sou, estou contente comigo mesmo; e então tudo reverbera, tudo está bem à minha volta.
Veja o senhor, tudo se passa assim: um casaco novo é o bastante para tornar-me descontente e infeliz; compreenda, portanto, que eu odeio tudo aquilo que é belo, novo e refinado, e aprecio tudo o que é velho, surrado e gasto.
Não gosto de parasitas em particular; não gostaria de comer os bichos assim de repente, mas eles não me perturbam. Na casa em que moro há uma porção de parasitas, e no entanto eu gosto de morar aqui. A casa tem o aspecto de uma casa de ladrões. Quando tudo no mundo for novo e estiver em ordem então eu não vou querer viver, eu vou me matar.
Tenho receio semelhante quando tenho de pensar que preciso conhecer um homem distinto e instruído. Ao temer que eu vá apenas perturbá-lo e não venha a representar-lhe utilidade nenhuma nem entretenimento, um outro temor se aviva, qual seja (para falar abertamente e francamente), o de que o senhor venha a me perturbar e não possa ser simpático e agradável comigo.
Há uma alma na condição de cada pessoa; o senhor deve sabê-lo imediatamente, e eu devo imediatamente informá-lo: prezo muito o que eu sou, tão insuficiente e pobre quanto eu possa ser. Tomo toda inveja por estupidez. A inveja é uma espécie de loucura.
Respeite cada um a situação em que se encontra: assim cada um estará servido.
Temo ainda a influência que o senhor poderia exercer sobre mim, ou seja, receio o supérfluo trabalho interior que haveria de ser realizado para defender-me de sua influência.
Sobre mim paira o céu
Por isso, não corro atrás de novas relações pessoais, não posso correr atrás delas. Conhecer uma nova pessoa: isso demanda no mínimo um quê de trabalho, e eu acabo de me permitir dizer-lhe que eu aprecio e conforto. O que o senhor há de pensar de mim? E no entanto a questão me é indiferente. Eu quero que isso me seja indiferente.
Não desejo tampouco pedir-lhe desculpas por estas palavras. Isso seria retórico. Sempre se é indelicado quando se diz a verdade. Amo as estrelas, e a Lua é minha amiga secreta.
Sobre mim paira o céu. Tanto tempo quanto eu viva, não desaprenderei jamais de olhar para ele. Encontro-me na Terra: este é meu ponto de vista. As horas troçam de mim e eu troço delas. Não posso imaginar um colóquio mais aprazível. O dia e a noite são a minha companhia.
Privo da confiança do entardecer e do amanhecer. E com isso saúda-o cordialmente o pobre jovem poeta."
CARTA DE UM POETA A UM SENHOR
"Meu mui prezado senhor, com respeito à sua carta, que eu encontrei hoje à noite sobre a mesa, por meio da qual o senhor me solicita que indique hora e lugar em que possa conhecer-me, devo responder que não sei exatamente o que lhe dizer. Acodem-me este e aquele pensamento, pois sou uma pessoa, o senhor precisa sabê-lo, com a qual não vale a pena travar conhecimento.
Sou extraordinariamente descortês e, quando a bons modos, tenho-os tanto quanto nada. Conceder-lhe a oportunidade de me ver significa fazê-lo conhecido de alguém que corta a aba de seu chapéu de feltro com a tesoura, de forma a emprestar-lhe uma aparência selvagem. O senhor gostaria de ter diante de seus olhos um tipo assim esquisito?
A sua amável carta alegrou-me sobremaneira. O senhor, contudo, errou no endereço. Não sou aquele que merece receber esse tipo de cortesia. Peço-lhe: abandone imediatamente o desejo de me conhecer. A gentileza não combina comigo. Eu teria de retribuí-la; e exatamente isso eu gostaria de evitar, pois sei que a conduta cortês e bem-educada não me cabem. E também não gosto de ser gentil; isso me entedia.
Suponho que o senhor tenha uma mulher, que sua mulher seja elegante, e que na casa dos senhores haja algo como um salão. Alguém que se utiliza de expressões tão finas e tão belas quanto as suas tem um salão.
Eu, contudo, somente sou alguém na rua, no mato e no campo, na taberna e em meu próprio quarto; num salão, eu me apresentaria como um parvo. Jamais estive num salão - tenho medo de salões; e, como homem em pleno uso da razão, devo evitar o que me atemoriza.
Casa Velha
Como o senhor vê, sou sincero. O senhor é provavelmente um homem de posses e se expressa com palavras opulentas. Eu, ao contrário, sou pobre e tudo o que digo soa a pobreza.
Das duas uma: ou o senhor iria me aborrecer com os seus modos, ou eu iria aborrecê-lo com os meus. O senhor não faz idéia do quão sinceramente eu aprecio e prefiro a situação em que vivo. Mesmo pobre como sou, até hoje não me ocorreu de queixar da vida; pelo contrário: valorizo a tal ponto o que está à minha volta que sempre me esforço zelosamente por protegê-lo.
Moro numa casa velha e desordenada, numa espécie de ruína. Ela, no entanto, me faz feliz. A visão da gente pobre e de casa depauperadas torna-me feliz. Fico a pensar em quão poucos motivos o senhor tem para compreender isto. Preciso ter à minha volta um determinado peso e uma certa quantidade de abandono, degradação e desunião. Caso contrário, a respiração se me torna penosa.
Sou o que sou
A vida seria uma tortura se eu tivesse de ser fino, esmerado e elegante. A elegância é minha inimiga, e eu prefiro passar três dias sem nada comer a me enredar na temerária operação de faze uma vênia.
Prezado senhor, desse modo fala não o orgulho, mas uma pronunciada sensibilidade para a harmonia e a comodidade. Por que eu deveria ser o que não sou e não ser o que sou? Isso seria estúpido. Quando sou o que sou, estou contente comigo mesmo; e então tudo reverbera, tudo está bem à minha volta.
Veja o senhor, tudo se passa assim: um casaco novo é o bastante para tornar-me descontente e infeliz; compreenda, portanto, que eu odeio tudo aquilo que é belo, novo e refinado, e aprecio tudo o que é velho, surrado e gasto.
Não gosto de parasitas em particular; não gostaria de comer os bichos assim de repente, mas eles não me perturbam. Na casa em que moro há uma porção de parasitas, e no entanto eu gosto de morar aqui. A casa tem o aspecto de uma casa de ladrões. Quando tudo no mundo for novo e estiver em ordem então eu não vou querer viver, eu vou me matar.
Tenho receio semelhante quando tenho de pensar que preciso conhecer um homem distinto e instruído. Ao temer que eu vá apenas perturbá-lo e não venha a representar-lhe utilidade nenhuma nem entretenimento, um outro temor se aviva, qual seja (para falar abertamente e francamente), o de que o senhor venha a me perturbar e não possa ser simpático e agradável comigo.
Há uma alma na condição de cada pessoa; o senhor deve sabê-lo imediatamente, e eu devo imediatamente informá-lo: prezo muito o que eu sou, tão insuficiente e pobre quanto eu possa ser. Tomo toda inveja por estupidez. A inveja é uma espécie de loucura.
Respeite cada um a situação em que se encontra: assim cada um estará servido.
Temo ainda a influência que o senhor poderia exercer sobre mim, ou seja, receio o supérfluo trabalho interior que haveria de ser realizado para defender-me de sua influência.
Sobre mim paira o céu
Por isso, não corro atrás de novas relações pessoais, não posso correr atrás delas. Conhecer uma nova pessoa: isso demanda no mínimo um quê de trabalho, e eu acabo de me permitir dizer-lhe que eu aprecio e conforto. O que o senhor há de pensar de mim? E no entanto a questão me é indiferente. Eu quero que isso me seja indiferente.
Não desejo tampouco pedir-lhe desculpas por estas palavras. Isso seria retórico. Sempre se é indelicado quando se diz a verdade. Amo as estrelas, e a Lua é minha amiga secreta.
Sobre mim paira o céu. Tanto tempo quanto eu viva, não desaprenderei jamais de olhar para ele. Encontro-me na Terra: este é meu ponto de vista. As horas troçam de mim e eu troço delas. Não posso imaginar um colóquio mais aprazível. O dia e a noite são a minha companhia.
Privo da confiança do entardecer e do amanhecer. E com isso saúda-o cordialmente o pobre jovem poeta."
Assinar:
Postagens (Atom)