Votei às folhas deste caderno mais cedo do que eu pensava: é pra onde eu me refugio, num canto excluído da sala à meia-luz de um abajur, no respaldo de um som inebriante e doce, me inclino sobre essas linhas que vão aos poucos ganhando contornos de autoria própria, própria de uma besta quadrada! Faz um tempo que eu falei para quem me ouve que não estou nos meus melhores dias e o pior para quem está nessa condição é olhar para trás e não sentir falta dos melhores, porventura eu ainda vá vivê-los. Quando é que valerá a pena existir? Eu já estou na segunda metade da minha vida, estou seniando e definhando dia após dia procurando algo para me apoiar, quero largar mão de revolver reminiscências ingratas, isso não pode fazer bem a ninguém e eu quero salvaguardar o orgulho que me resta. Ando tão azedo, amargo, como o dom de viver pode ser tão maldito, como a tinta desta caneta pode sustentar idéias tão invalorosas? E além de tudo só sei cuspir indecências, me escondo nessa máscara de castidade para devorar mocinhas indefesas e me esconder dos interlocutores, mas conversas as vezes me fazem bem, as vezes, né? Quando o assunto vem a propósito, quando o debatedor não é impertinente, mas momentos assim vem rareando em meu cotidiano e minha vontade por buscá-los vem seguindo o mesmo destino. Porém um diálogo inesperado nessa última madrugada me convidou à consciência de que não estou em melhores circunstâncias que aquela voz lamuriante e aguda do outro lado da linha...
O que posso dizer de bom sobre mim hoje? Não tenho sido bom filho, nem bom amigo, nem, muito menos, bom "historiador". Poucas coisas andam me satisfazendo e ando me negando a oportunidade de procurar outras. Acho que precisava de algo para ocupar minha cabeça, parar de pensar, esvaziar os anseios, apagar as incertezas, desenvolver virtudes! Na verdade eu não sei quem eu sou, é isso! Eu não sei quem eu sou; com certeza esse foi o maior conhecimento que extrai sobre mim daqueles minutos, esse e o fato de eu precisar de um psicólogo, mas disso eu já sabia, mesmo assim não conseguiria tentar: nem tentar saber que sou e muito menos procurar um.
Nessa busca entorpecida, minha única saída será insistir, sou teimoso afinal, pedra difícil de mover ou convencer, queria, no entanto um empurrãozinho... Todo pássaro precisa de um primeiro impulso, meu problema reside em saber se eu já não perdi essa sorte. Acho que nos meus últimos escritos eu deixei claro de entender qual, eu acho, é a minha sina, mas a vida não se resume a isso e eu tenho tantos outros mais complexos para debulhar que não posso perder meu tempo com esse! Às vezes me dá vontade de gritar bem alto, estourar meus próprios tímpanos, com verdades que as pessoas à minha frente aparentam não ouvir.
Repeti mais coisas do que escrevi novas... Ah, preciso conversar!
domingo, 19 de outubro de 2008
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