O poder da palavra é de revolucionar. A sua ação transformadora, estimulante, propagadora me faz acreditar que esta seja o principal instrumento de posse do homem, eu não sei, aliás, como nunca sei de nada, mas essa criatura me intriga: faz uso de suas habilidades das formas mais inadvertidas e imperiosas possíveis... Esse é só o prólogo das questões que estão rondando a minha mente nesse instante. Meus dedos formigam por colocar no papel idéias ainda não maturadas o suficiente, assim todas elas compõem o baluarte da minha indagação. Estou falando, é claro, das mulheres; gênero da espécie humana, filha do homem (talvez daí derive sua força) e detentora da fala. Sabe, por muito tempo pensei que encara-las fosse um desafio equilibrado, minha inexperiência me fez crer em momentos que nós estávamos em vantagem, afinal tínhamos toda a civilização a nosso favor, (in) felizmente hoje consigo enxergar melhor, me desvencilhei de paradigmas e preconceitos, vejo com clareza que todas essas sofisticações, tradições, princípios morais foram empregados com o objetivo simples de baqueá-las, suplantá-las na sua infinita astúcia e maliciosidade. Como um jogo, colocadas as regras de maneira a nos favorecer e mesmo assim perdemos, a cada movimento de suas peças, a cada expressão despreocupada e delicada de seu semblante competitivo. Talvez estejamos diante da estratégia da "terra arrasada", um blefe que terá por fim uma reviravolta inesperada no tabuleiro, mas não tenho certeza, apenas especulações, como disse de início, essa nunca foi uma das minhas virtudes: a convicção.
Creio simplesmente que somos cativos de seus engenhos e maquinações, em suas mãos somos tolos e brincalhões, agimos por instinto e nos deparamos em uma cilada, o cadafalso se abre, mergulhamos em sua teia e isso tudo antes de conseguirmos desviar de seu olhar: penetrante e incompreensível. Por tantos outros enganos acreditei piamente que os olhos fossem janelas para o interior, chaves para o desbloqueio do segredo corporal e obtenção do significado estrutural. Mas meu erro mostrou-se gritante quando percebi que em se tratando de mulheres sabemos somente a localização da porta de entrada, entrada para o labirinto; uma trama que se desenrola em caminhos e becos, fortuitos e convidativos, porém de desfecho inatingível ou inenarrável, um enigma de violação inaudito.
Por todos os séculos da existência humana estivemos a mercê de seu trato, nunca nos obrigarão a nada, mas a deriva de nossas opções as ondas da vontade foram mais fortes e nos trouxeram à sua praia, cuspindo o fel da indecisão nos entregamos às suas delícias. Acredito que por baixo da luta de classes, adjacente a seus diversos setores, nós travamos uma batalha durante todos esses séculos. Construímos as bases da civilité ocidental sobre os instrumentos de controle desta que sempre fora uma ameaça: taxadas de ingênuas e inocentes, eram na verdade dissimuladas e cruéis, utilizaram com destreza suas ferramentas, dotadas pela natureza, comandadas por um gênio inquebrantável nos fizeram tombar frente ao combate corpo a corpo, nossa saída foi o esforço coletivo para o engendramento de uma sociedade onde impomos mecanismos de subordinação - submetidas a estas instituições – as manteremos sob vigília e tardaremos a futura rendição. Quando enfim definharmos baixa por baixa e não podermos mais desfrutar deste imperium masculino poderemos encontrar em seus rostos desafiantes, dignos de admiração, a certeza da derrota, mas por enquanto não, desfilaremos ainda mais nossos sorrisos de satisfação nas mesas de decisão.
Meu principal objetivo nesse texto é registrar algo que eu sempre soube, algo que minhas últimas leituras me fizeram desconstruir e exprimir aqui algo que ainda não nos é evidente o suficiente. Não quero propor aqui, obviamente, uma mudança radical nos damos da humanidade; não quero eliminar, logicamente, a paixão na busca por um coração correspondente (tsc tsc) e não quero, finalmente, instituir um pessimismo excludente, quero somente divulgar um sobreaviso displicente. Quando o tesouro do ifrit revelou: "não há nada que nos empeça do que queremos" ela somente estava conjurando o que todos nós haveremos de saber algum dia, que todas as mulheres são na sua imagem e essência a personificação da perfídia e todas estarão destinadas, se o devir puder, ao décimo segundo círculo do inferno de Dante. Não importa de que maneira se concretize, as mulheres trazem isso por natureza, a traição de projeção voluntária é o guia para as suas atitudes impensadas. Penso mesmo que esse trato seja fruto desse egoísmo que lhe és inerente, não estou objetivando sentimentos humanos, não acredito de forma alguma que o sexo masculino escape dessa mácula, afinal, como poderia a raça humana se refugiar dessas "dádivas" que lhe são inatas? Dessa forma elas sabem, inconscientemente sabem, de seu potencial para o perjúrio e o utilizam inescrupulosamente. Somos, logo, reféns de seus artifícios, em poder das mãos do inimigo sofreremos os males de seu contrato de maneira invariavelmente irreversível. E o que hão de fazer nós os tolos homens? Qualquer resposta além do "nada" seria deveras pretensiosa e mais um desafio lançado à altura deste tempo só lhes faria arrancar escárnios...
A narrativa humana nos mostrou a realidade dos fatos, por mais que os afrescos as pitem como cândidas e doces os eventos históricos comprovam a interferência do dedo feminino no movimento das massas e dos impérios. O que a motivação de uma Joana Dárc não fez contra as tropas inglesas? O que a sedução de uma Cleópatra não fez aos comandantes romanos? E claro, também não posso deixar de ressaltar os efeitos deletérios que agripinas, carlotas e capitus tiveram para a humanidade, os desdobramentos de simples concelhos nos condenaria a séculos de percalços e feridas. Não pretendo a partir de este paragrafo traçar um cronograma das intemperanças de seus atos que com certeza remontaria do Gênese até a nossa contemporaneidade, me seriam indispensáveis novas páginas e outras tantas fontes, mas destacar que quando o senhor Deus dos cristãos disse a Eva após a 'violação': "multiplicarei os sofrimentos de teu parto; dará à luz com dores, teus desejos te impelirão para teu marido e tu estarás sob seu domínio" nossos Deuses já tentavam nos antecipar contra o mal que estaria por vir e nos cediam as primeiras armas.
Meu texto certamente não escapará de ironias, minha intenção, como já foi sublinhado, não é criar um consenso, não pretendo com isso ser decisivo em suas opiniões e definitivamente não quero me enclausurar desta existência mundana, escrevo isso de fato unicamente para preservar na memória mais uma das lições que ainda me ensinou e para ocupar minhas madrugadas desacordadas... Voltando ao ponto de partida quero tecer mais algumas considerações sobre a palavra, se as mulheres são o que são, é porque conhecem a distinção desse instrumento. Já vi muros caírem e se erguerem por simples pronunciamentos; já distingui derrotados e vencedores por meros discursos; já tive vontade de matar pessoas por tolas frases impertinentes. Esse texto acaba não só sendo por 'elas' mas também por este substantivo feminino, no entanto este tema merece um post independente e por isso ficarei por estas linhas desejando algum dia não me sentir traído quando me referir a elas, às amazonas desumanas e depravadas!
Sinto que ainda tinha tanto a escrever sobre isso...
sábado, 18 de outubro de 2008
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