sábado, 30 de maio de 2009

O Movimento esta morto!


- O Movimento Estudantil está morto e foram vcs que o mataram ! E o fazem a cada ano quando o enterram cada vez mais fundo sob pretextos pobres e exíguos. Quando desistem da luta - no momento último - vestidos de andrajos e peitos nus, entregam as armas por migalhas e regozijam a derrota. Fins de maio, todos sentados, ouvidos indiferentes assistem a mais este naufrágio... a luta foi asfixiada e este organismo agoniza e mesmo quando em impetos de coragem e veemência o movimento se mostra ainda pujante vcs simplesmente jogam em desprezo o último palmo de terra. O que vcs chamam de radicalismos minoritários eu chamo de centelhas de vida de um instrumento já desacreditado. Sentados, de vistas anuviadas, vcs somente esperam impassivos os que já se propõe a proclamar os elogios fúnebres de um lado e do outro as últimas esperanças vãs.
O Movimento está morto e vcs são os culpados. Parabéns!

sábado, 23 de maio de 2009

Diálogos

- Cadê a minha carta?
- Está no meu bolso..
- Hum.. frente e verso?
- Sim.
- Nossa, Fer..
- Eu poderia escrever um livro, querida.

Fragmentos de contos de fadas em histórias de terror.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

És por ti!

Oh, é em ti que se amparam todos os meus anseios, no balanço da rede, envolto em suas memórias me meto em enleios. São os ventos que sibilam seu nome em melodias infinitas - das mais doces que já ouvi - celebrando as maiores graças que já tive! Se os Deuses me escutam, se os Deuses existem rogo-lhes um pedido, se puderam com sapiência e benevolência te conceber deverão saber e me farão crer que algum dia eu irei de revê-la! Se sofro é por ti e se tenho esperança, acredite, é nela que sustento minhas pernas, que agora dançam intediadas e reprimidas uma valsa sem par em um silêncio e escuro secular. Cançado desta estadia longa e resentida, me mantenho inapto a outras aventuras e só penso nos dias que já houveram, no dia que ha de vir - por favor - quando poderei cantar em tuas venturas! Acordar, depois de dormir e sonhar contigo, em seu regaço. Lenvantar com toda coragem e confiaça e te pedir em dança, por entre cipós, folhas e orvalhos trilhar em ti pelos mais belos prados e cumes. Sim, não sabes, mas é só vc que me satisfaz, gritaria a verdade para os ouvidos mudos desta cidade, venderia minha alma se de novo pudesses me deixar deleitar-te em tua calma. Todavia meu destino, esta sina maldita que não escolhi, desvencilha meu corpo - dor, desatino - pulula minha mente de interditos - puta, miséria - avança minha vida para o último outubro - surdo, luto.
Quando dos primeiros passos, naquela manhã de julho, embalado em bruma, um tempo frio que fazia eriçar os pelos dos braços, a solidão dos teus caminhos reconfortava meus mais fortes desamparos. Esquecia a vida, ignorava as penas, dizia adeus para as virtudes! Ah, quanta solicitude, para vencer seus perigos somente a juventude! Me feriu, me seduziu e hoje vivo, porém estou morto se não conduzido à tua plenitude. És por vc Paranapiacaba, que me escondo da vida, me entrego a quimeras somente para desvelar o segredo em tuas trevas.

Oh, nem que eu tenhas que dever a Caronte, revela-te em tuas telas, nas noites estreladas do horizonte!

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Premissa de desejo maior (ou de como os distraídos se repelem)

Dois olhares se cruzam, dois destinos indiferentes um ao outro por um segundo compartilham o mesmo caminho; dois corpos, duas vidas, duas almas até este determinado e quiçá definitivo instantes separadas por contingências sorrateiras e intangíveis agora resvalam no surdo-mudo das ruas. Como se poderia definir ou como se deveria lidar com desejos inconstantes e incertos, sem impulso ou direção, prementes por razão e motivação, vozes inatas e caladas no interior de nossos eu's, que em momentos súbitos promovem roupantes inesperados? Alguns seres são guiados por impressões outros por chamados, mas a maioria nega os indícios/sinais que assomam nossas vistas e as vezes a embaralham para continuar seu passo rítmico e inabalável.
Um homem e uma mulher, dois individuos egocêntricos e discrepantemente dispostos a união, que não se conheciam, que nunca antes tinham se visto, que não esperavam nada desse encontro imprevisto. Que de forma análoga a tantos outros casais separados e alheios, agora trocam olhares e se tocam. Ele, de cabeça baixa e taciturno, cujo casaco de veludo desperta tensão e mistério, envolto em uma bruma de apatia, de passos pesados e distintos, como que atraído pelo caminho que traça, não transparece qualquer sensação pelo semblante ainda impassível que carrega. Ela, de pele clara e pensamentos difusos, mergulhada em trejeitos femininos, não pertuba sua noção de mundo com qualquer obstáculo físico, mantém-se distraída em seus passos firmes. A rua de paralelepípedos e cimento é a insensível moldura, um tempo fechado e nebuloso presenciará o fatídico encontro.
São mais dois anônimos que se lançam no fluxo contínuo e infinito do vai-véns. As feições distantes diminuem as distâncias entre si e por um ínfimo momento eles trocam olhares; na iminência desta colisão inevitável eles miram um ao outro profunda e atentamente. O choque dos dois corpos transpassa uma corrente de ânimo que nenhum deles esperava. Em solo estéril e destratado uma semente de esperança é plantada - lançada despretenciosamente - e em seu útero se agregam sonhos, futuros, planos e anseios que somente o acalento de dois corpos pode fazer brotar.
No minuto posterior ao encontro eles param, de sopetão e licenciosamente, simultaneamente interrompem sua marcha, porém, eles não volvem as vistas; não olham para aquele que està à suas costas, simplesmente sustentam a sua imobilidade e algidez por alguns segundos. O pretexto desta coreografia não ensaida era acessível a quem pretendesse narrá-lo: queriam, unicamente, dar passagem ao próximo transeunte que cruzavam.
Ambos por fim e desgraçadamente alcançam a suas moradias e após descasarem os ombros tensos e doloridos na poltrona central do primeiro comodo da casa, só possuem um pensamento em mente: o descontentamento e incompreensão sobre suas vidas e mais especificamente sobre o comportamento selvagem e reprovável de seus irmãos citadinos que prensados em corredores diminutos embarram uns os outros sem sequer se desculparem.

domingo, 3 de maio de 2009

Máximas

"A crítica pode mitigar o sentimento de solidão de quem escreve."

sexta-feira, 1 de maio de 2009

A palavra e a história

"Em 1532, o conquistador Pizarro aprisionou o inca Atahualpa, em Cajamarca. Pizarro prometeu-lhe a liberdade, se o Inca enchesse de ouro um grande quarto. O ouro chegou, desde os quatro cantos do império, e abarrotou o quarto até o teto. Pizarro mandou matar o prisioneiro.
Desde antes, desde quando as primeiras caravelas apontaram no horizonte, até nossos dias, a história das Américas é uma história de traição à palavra: promessas quebradas, pactos descumpridos, documentos assinados e esquecidos, enganos, ciladas. "Te dou minha palavra", segue-se dizendo, mas poucos são os que dão, com a palavra algo mais do que nada.
Não haverá o que aprender com os perdedores, como em tantas outras coisas? Os primeiros habitantes das Américas, derrotados pela pólvora, pelos vírus, pelas bactérias e também pela mentira, compartilhavam a certeza de que a palavra é sagrada, e muitos dos sobreviventes ainda acreditam nisso:
- Dizem que nós não temos grandes monumentos - diz um indígena mapuche, ao sul do Chile. - Para nós, a palavra continua sendo um grande monumento.
Em língua guarani, ñe'e significa "alma" e também "palavra".
- A palavra vale - diz um indígena aváguarani, no Paraguai - porque é nossa alma. Não precisamos colocá-la no papel, para que nos creiam.
As culturas americanas mais americanas de todas foram desqualificadas, desde o início, como ignorâncias. Em sua maioria, não conheciam a escrita. A Ilíada e a Odisséia, as obras fundadoras disso que chamam a cultura ocidental, também foram criadas por uma sociedade sem escrita, e suas palavras voam cada vez melhor. Oral ou escrita, a palavra pode ser um instrumento do poder ou ponte de encontro. A desqualificação tinha, e continua tendo, outro motivo muito mais realista: estamos amestrados para ouvir e repetir a voz do vencedor.
A propósito, vale a pena mencionar a importância que teve a palavra, uma só palavra, durante o recente processo contra os militares que executaram a matança da comunidade indígena de Xamán, na Guatemala. A carnificina ocorreu em 1995, já no período que chamam democrático, e havia uma montanha de provas que condenavam os assassinos; mas até agora o assunto deu em nada. A secretária que transcreveu o auto processual cometera um erro ortográfico na qualificação pena: ejecusión extrajudicial, escreveu. Os advogados do exército sustentaram que esse delito, escrito assim, ejecusión, não existe. O promotor protestou: foi ameaçado de morte e partiu para o exílio."

1999

Os antigos, os recentes e os novos congregam a necessidade de união dos homens em torno da palavra, sustentáculo universal das relações humanas e invólucro privilegiado da essência divina, ela atualmente porém, tem uma compreensão bem mais fluída e condicional. Para quem já defendeu os desígnios de honra, palavra e coragem, ver hoje a subversão em favor de interesses político-econômico-sociais do principal expediente humano é um grande pesar e certeza de uma premissa do pontencial de autodestruição que a humanidade gera em si mesmo. E na leitura dessa análise do micro, que, nós sabemos, inexoravelmente desembocará para o macro, eu engrandeço a obra deste e me compadeço pelo fato de nem todos os jornalistas serem como E. Galeno.