GOTÁN, Juan Gelman
Esa mujer se parecía a la palabra nunca,
desde la nuca le subía un encanto particular,
una especie de olvido donde guardar los ojos,
esa mujer se me instalaba en el costado izquierdo.
Atención atención yo gritaba atención
pero ella invadía como el amor, como la noche,
las últimas señales que hice para el otoño
se acostaron tranquilas bajo el oleaje de sus
manos.
Dentro de mí estallaron ruidos secos,
caían a pedazos la furia, la tristeza,
la señora llovía dulcemente
sobre mis huesos parados en la soledad.
Cuando se fue yo tiritaba como un condenado,
con un cuchillo brusco me maté,
voy a pasar toda la muerte tendido con su nombre,
él moverá mi boca por la última vez.
O mundo esta feito de histórias, a cada dia ou para ser mais específico a cada par de horas transcorre uma história que alguém a registra, mesmo apenas sobre o tênue tecido da memória, para o resto da vida. Histórias vulgares que ocupam o cotidiano da gente simples, narrações que pelo pecado do descuido seriam jogadas em uma vala comum, deixando sob terra e olvido a riqueza de detalhes observáveis apenas por lente. Desde esse ponto de vista, imagine então, o repertório perdido a cada baixa de nossos parentes mais antigos. São bibliotecas de Alexandria queimadas a cada falecimento de um ancião, já dizia o escritor senegalês Senghor. Uma linha necessita de outras para sustentar um tecido e é no coser diário da nossa vida que descobrimos o encruzilhamento de nossa linha com outras formando um rede infinita de relações. Estariamos flutuando desarraigados se nada não nos prendesse em uma existência única, diversa e coletiva.
Não somos tomados de assombro quando descobrimos conexões ocultas entre papéis velhos ou contos desinteressados? Por um toque do acaso nos es tornado visível um laço a uma trajetória alheia ou um conhecimento antigo ganha nova textura quando novos dados são a ele adicionados. Que alegria é saber que vc estave em minha vida muito antes de eu imaginar te conhecer e igualmente cogitar que eu poderia não existir ou não ser o mesmo se Ariadine não houvesse cometido o favor de nos unir no traçado resoluto de uma agulha. Essa verdade tornou-se real para mim esses dias enquanto lia um poema de Juan Gelman e pinicava a verdade sobre a constituição do mundo, não o mundo de átomos, mas o mundo das pessoas de carne e osso que necessitam tocar-se para saber que estão vivas. Somente existimos, então a partir de uma relação recíproca com o outro, onde este nos faz concreto e tangível esperando uma resposta na mesma moeda.
Esta tudo feito de palavras, de fios verbais que correm e se entrecruzam cargados de mais peso do que quando sairam e desviam de caminho ao encontro de outro para de novo se separarem e formarem cada qual à sua direção um conjunto novo e complexo de desenhos - não claros a vista - mas audíveis a ouvidos pacientes. Por isso embargamos a voz com tanta facilidade, visto que não falamos apenas de nós mesmos quando contamos nossa história, mas de toda uma multidão impercebível que esta ávida por uma audiência. Como se uma narrativa biográfica fosse uma tentativa de desampreder a andar de bicicleta; sendo no início do caminho um passo leve e tranquilo até o fim com muitas quedas sem o saber de mais nada.
quarta-feira, 28 de março de 2012
quinta-feira, 15 de março de 2012
Km 269
Sob a sorte de uma sombra que amenize o clima de verão levanto o polegar opositor e me ponho a esperar, entre as horas que passam e o desdém deixado pelos carros que me ignoram, a unica mudança na paisagem é a própria sombra a movimentatar-se ao ritmo do sol. Tenho um par de horas antes que anoiteça e eu me torne mais invisível do que estou para os automóveis de viajem ininterrupta. Essa é única certeza e não pode haver muitas quando se esta em meio a estrada pedindo carona, contando com sorte ou com a bondade alheia e a mercê das mesmas condições as quais vc espera receber ajuda. Faz-se isso porque deseja-se, faz-se isso porque não há outra maneira, faz-se isso porque tem-se que fazer; eu o faço para conhecer pessoas e dessa forma contemplo todas as outras respostas.
KM 269 da ruta 10, essa é minha casa, esse é meu mundo enquanto um bom samaritano não desviar meu destino. Preencho meus pulmões com o ar seco destes campos, essa vegetação de pradarias assoma toda a minha vista e não há uma viva alma a não ser um gaucho com seu fatigado cavalo que cruza a estrada. Segundo ele faltam uns bons kms mais para que eu cumpra a minha travessia, se kilometros fossem aqui usados como metafora para a vida, quantos teriam a história daquele homem de bigode grisalho e cabelos ocultos por um chapéu de couro mastigado? Penso nele como uma boa foto que teria guardado aquele instante, carregando com seu antebraço um termo preso junto ao corpo, o mesmo braço que leva o mate a boca e libera o outro para que maneje as rédeas. Diante de tal cenário dou menos atenção aos meus músculos magoados e aprecio aquela cadência distinta das pampas uruguaias, aquele outro tempo que imobiliza a gente e os animais. Falo como estrangeiro de coisas que não sei e que aprenderia somente da voz de um gaucho como o que agora já está embrenhado entre as gramíneis, alimento de rês, alimento, por isso, de gente também. Sou parte da paisagem, diria quem passa, mas prefiro pensar que ela é que é parte de mim porque estou de passagem.
Levo comigo não apenas a flor recolhida em um rincão da estrada, levo comigo também a pessoa que agora divide seu olhar entre a via e o meu. Levo na memória um pouco do veículo que me dirá algum dia muito de seu proprietário. Cada palavra sua é digna de nota, pois não pode-se ignorar quem te abre as portas da casa ou te levada da estrada. Não há limites para essa relação, ela depende apenas do tempo, como igual depende o hacer dedo em um dia de viagem.
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