quarta-feira, 28 de março de 2012

O mundo esta feito de histórias

GOTÁN, Juan Gelman

Esa mujer se parecía a la palabra nunca,
desde la nuca le subía un encanto particular,
una especie de olvido donde guardar los ojos,
esa mujer se me instalaba en el costado izquierdo.

Atención atención yo gritaba atención
pero ella invadía como el amor, como la noche,
las últimas señales que hice para el otoño
se acostaron tranquilas bajo el oleaje de sus
manos.

Dentro de mí estallaron ruidos secos,
caían a pedazos la furia, la tristeza,
la señora llovía dulcemente
sobre mis huesos parados en la soledad.

Cuando se fue yo tiritaba como un condenado,
con un cuchillo brusco me maté,
voy a pasar toda la muerte tendido con su nombre,
él moverá mi boca por la última vez.

O mundo esta feito de histórias, a cada dia ou para ser mais específico a cada par de horas transcorre uma história que alguém a registra, mesmo apenas sobre o tênue tecido da memória, para o resto da vida. Histórias vulgares que ocupam o cotidiano da gente simples, narrações que pelo pecado do descuido seriam jogadas em uma vala comum, deixando sob terra e olvido a riqueza de detalhes observáveis apenas por lente. Desde esse ponto de vista, imagine então, o repertório perdido a cada baixa de nossos parentes mais antigos. São bibliotecas de Alexandria queimadas a cada falecimento de um ancião, já dizia o escritor senegalês Senghor. Uma linha necessita de outras para sustentar um tecido e é no coser diário da nossa vida que descobrimos o encruzilhamento de nossa linha com outras formando um rede infinita de relações. Estariamos flutuando desarraigados se nada não nos prendesse em uma existência única, diversa e coletiva.
Não somos tomados de assombro quando descobrimos conexões ocultas entre papéis velhos ou contos desinteressados? Por um toque do acaso nos es tornado visível um laço a uma trajetória alheia ou um conhecimento antigo ganha nova textura quando novos dados são a ele adicionados. Que alegria é saber que vc estave em minha vida muito antes de eu imaginar te conhecer e igualmente cogitar que eu poderia não existir ou não ser o mesmo se Ariadine não houvesse cometido o favor de nos unir no traçado resoluto de uma agulha. Essa verdade tornou-se real para mim esses dias enquanto lia um poema de Juan Gelman e pinicava a verdade sobre a constituição do mundo, não o mundo de átomos, mas o mundo das pessoas de carne e osso que necessitam tocar-se para saber que estão vivas. Somente existimos, então a partir de uma relação recíproca com o outro, onde este nos faz concreto e tangível esperando uma resposta na mesma moeda.
Esta tudo feito de palavras, de fios verbais que correm e se entrecruzam cargados de mais peso do que quando sairam e desviam de caminho ao encontro de outro para de novo se separarem e formarem cada qual à sua direção um conjunto novo e complexo de desenhos - não claros a vista - mas audíveis a ouvidos pacientes. Por isso embargamos a voz com tanta facilidade, visto que não falamos apenas de nós mesmos quando contamos nossa história, mas de toda uma multidão impercebível que esta ávida por uma audiência. Como se uma narrativa biográfica fosse uma tentativa de desampreder a andar de bicicleta; sendo no início do caminho um passo leve e tranquilo até o fim com muitas quedas sem o saber de mais nada.

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