Meu corpo sacode sobre o ritmo cadenciado do vagão, enquanto miro a paisagem tediosa através das janelas tento limpar meu peito dos pesares tão meus quanto do mundo. Respiro fundo porque aquilo que congestiona minha respiração quase sai boca a fora e me faz pensar o quão egoísta é tentar digerir o desespero alheio. Tudo soa como metáfora para esse árduo fardo da vida, minha garota recosta sua cabeça sobre meu ombro e as poucos o peso sobre meu dorso torna-se menos insuportável. A locomotiva segue o caminho dado pelos trilhos e eu quero apenas desfrutar da viagem. A paisagem tediosa destes subúrbios e suas luminárias de mercúrio aos poucos tornam-se céus iluminados como os de Van Gogh e as notas metálicas produzidas pelo atrito das rodas de ferro se assemelham quase à gaita de Bob Dylan. Sou mais um passageiro, o balanço do trem carrega meu corpo e meus pensamentos são novamente parte do mundo. Meu compromisso com a realidade não está dado e se há algum ele me será apresentado aos poucos, parada à parada, como as estações dessa linha. Todo conforto que seus beijos me dão é muito mais do que um homem pode desejar, talvez todas as ambições humanas pouco tenham de verdade se comparadas as singelas promessas que a humildade de seu lar me ofertam.
A próxima estação já não é mais a minha, confundo caminho com destino e minha mente cansada não é mais responsável do que o meu desejo de que este trem não termine sua viajem jamais. É como naquela velha história sobre a folha seca, minha alegoria mais querida, encontro minha paz e meus significados mais preciosos no deslocamento. Digo isto e então, me lembro como uma lembrança sonora da frase "el camino no es camino" e por fim chegamos em nosso ponto de chegada.
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
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