domingo, 22 de dezembro de 2013

De como não ter chance alguma em uma discussão

Quem disse que expressões faciais contorcidas e tons de vozes elevados angariam pontos discussões políticas? Tudo me leva a creditá-los como artifícios de quem tão bem conduz dotes físicos como o faz com lápis de colorir ou goivas para entalhar. A poesia abdica do verbo para encarnar-se em outras linguagens, a poesia assumi aqui uma corporalidade tanto específica como atraente. Então, as palavras envolvem-se entre os meneios de mãos que agitam o ar afoitamente, disputam a atenção como se retórica e plástica se digladiassem. O fio condutor segue por um tronco bem feito até escorregar-se pelas linhas delgadas de suas pernas. Questões políticas, sociais e ideológicas são o nosso fraco, mas também a minha perdição.

"Afinal, seus arroubos feministas não me importam muito. Em suma, tudo aquilo havia sido para me explicar por que ela deixara de se sentir culpada. Bom, isso era o importante, que ela não se acreditasse culpada, que afrouxasse a tensão, que se sentisse à vontade nos meus braços. O resto é adorno, justificação; pode estar ali ou não, para mim tanto faz. Se ela gosta de sentir-se justificada, se transforma tudo isto num grave problema de consciência, e quer comunicá-lo, que que eu tome conhecimento, que a escute dizê-lo, bom, então que o diga e eu escuto. Ela fica linda com suas bochechas acesas pelo entusiasmo."

Mario Benedetti.

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