quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Seu Zé e Dona Maria da Serra do Cipó

É ali, no regaço de uma cozinha humilde que duas singelas figuras nos recebem, permitindo-nos passar, a nós e a quaisquer outros, com passos leves para frear o ranger das tábuas de madeira do assoalho. Um diminuto espaço cuja paredes enegrecidas de carvão o tornam quase claustrofóbico, sensação aliviada apenas pela janela que alcança o pasto e por José e D. Maria cujo conforto se estende através dos gestos tímidos e comentários geniosos sobre o fazer e o ser daquele lugar, a Serra do Cipó, no interior de Minas Gerais. Uma "casa velha" que, como frisava D. Maria, guarda gerações de uma família regulada pelo clima daquela região úmida e fértil. Então, paredes de taipa se tornam tão generosas e calorosas como aqueles que acarinham a todos como a menino Jesus.
Dois senhores de expressão árida e traços calejados, reclusos em um idílio de verdes campos e céus fulgurantes; das dezenas de imagem registradas de seus rostos inexpressivos, roubadas da intimidade de seu lar, não refletem dois corações maiores que a colina sobre a qual repousa suas vidas. Se soam assustados diante de flash, mostram-se muito mais humanos diante de pessoas. Incontáveis devem ser as histórias que aqueles cômodos escuros e contíguos, assim como as paredes forradas de imagens e ícones sacros, devem guardar sobre seu Zé e D. Maria. Um bem entretanto, chama a atenção mais do que qualquer outro, uma foto de moldura rara e oval cujos rostos retratado são jovens, porém também distanciados em um tempo de trajes formais e películas amareladas. Senhores taciturnos da casa que a todos que a penetram os observam. Ali, na parede lateral do primeiro ambiente, parecem zelar pela tranquilidade e paz de um casal de idosos acostumados a receber visitas.

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