"A premência do momento sempre fazia as palavras perderem seu objetivo. Elas se avoroçavam e acabavam atingindo o alvo algumas polegadas abaixo. [...] Pois como se poderia expressar em palavras essas emoções do corpo? Como expressar aquele vazio? (Olhava a escada da sacadaa de visitas, que parecia extraordinariamente vazia) era uma sensação do corpo não da mente. As sensações físicas que acompanhavam a visão dos degraus vazios se tornara extremamente desagradáveis. O querer e não ter transmitia a todo o seu corpo uma insensibilidade, um vazio, uma tensão. Querer e não ter – querer e querer -, como isso atormentava seu coração!"
Inebriado, intediado, emocionado; o que poderia causar presente mostra de impressões? Seria mesmo este livro ou as provações que me são impostas nessa existência devastadora? Curto e profundo, como o fim que me oferece um poço de água rasa pra aquele que se aventura em sua queda; são nestes poucos segundos ou naquelas poucas linhas que um quadro peculiar se exprime. A sorte reservada pelo poço é mais certa, mas a do livro não; a última página deixa em suspenso a continuidade de vidas de que pouco sabemos (afinal o que precisaríamos saber?), mas é também nessas metáforas simples e desenfreadas, a qual da mesma forma eu humildemente lanço mão, que ele transparece os detalhes mais profundos: uma careta ou comentário não são somente isso, igualmente não o são, o vento que silva ou a luz do sol que lanceta a placidez intocada do quarto. A narração também é cheia de incógnitas e respostas à perguntas que eu não pensaria em fazer; de fato, não menos que curiosidade desperta a minha mente quanto a imagem de beleza feita da Sra. Ransay.
A surpresa fica em descobrir tanto de páginas que (mais da metade delas) prolongam-se apenas no passeio à tarde no campo e o jantar à noite, em reunião de todos os convidados, entretanto é justamente o que deveria ser a primeira parte do livro (A Janela): um quadro aparentemente monótono de uma grande comunhão franternal clivada somente por pensamentos. Uma distinção psicológica de cada indivíduo é descrita, ligados unicamente pela admiração que sentem à beleza e organicidade de sua anfitriã, uma mulher singular ou mesmo plural em todos os sentidos.
O conforto para os amantes da prosa poética de V. Woofl fica na segunda parte (O Tempo Passa). Um torpor toma conta do meu espírito logo nos primeiros capítulos. Um êxtase de sensível toque que só pode ser pertubado pelo gosto rançoso de leite estragado. Seria o meu desejo mais premente compartilhar com vc desse estranho arrebatamento, mas o destino quis que eu guardasse/sentisse esse enlevo no vazio do meu isolamento. Na história o tempo de curta e de longa duração se misturam e não adianta mais pensar em verdades imutáveis, que são o verão e o inverno, agora, os pujantes em suas linhas.
O epílogo se descortina na última parte (O Farol). Do que se deveria fazer com planos adiados por dez anos? O progresso tímido das vozes nos conta... A parte mais embargada - mesmo mais oprimidada das sensações expostas - contrasta com o vazio deixado pelo eco de unidade que existia no todo, por hora desmembrado e desvairado; mácula simbolizada pela mesa do café da manhã de lugares desocupados ou pelos degraus vazios observados demoramente.
Como um balde que transborda de angústia, de sentimentos humanos, as páginas são viradas paulatinamente, deixando um temor pela conclusão que se aproxima. Eu não conseguiria terminar esse livro sozinho, necessitava de um amparo, de algo que me guiasse pelos derradeiros versos e não me abandonasse absorto em mim mesmo: uma sinfonia precisava ser ouvida! Uma melodia que me ajudasse a sondar as palavras com mais esmero e me segurasse das forças que ameaçavam tragar-me para essa realidade aniquiladora. E assim eu tive, também, "a minha visão".
Oh, se essas páginas, se estas linhas, se esta capa dura fossem uma pessoa de carne e osso...
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
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Um comentário:
Ler o que você escreve me faz ver, além de outras coisas, que eu tenho lido pouco!..
"E o público-assíduo pede mais!"
:)
p.s.: de carne-e-osso faz falta, muita, mas Pessoa faz mais.
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