sábado, 21 de março de 2009

Los Lunes ao Sol



Segunda-Feira Ao Sol é a tradução do título "Los Lunes ao Sol", um filme sobre globalização, sobre injustiça social, sobre desespero, mas, sobretudo para dizer a nosotros como la vida es dura. Uma película estruturada em diálogos descontraídos e longos, em um espaço de ermo e abandono, nossos narradores nos trazem ao íntimo de seus âmagos e de seus dramas. Dramas análogos a de tantas outras famílias e sociedades, terreno deixado por obséquio pela sorte ao azar, uma convivência intragável com os tempos modernos.
Nossos companheiros tem nomes (Santa, José, Lino e Amador) e personalidades, definidas ou auto-destrutivas, eles poderiam ser mesmo tantos outros joões/pedros ou juans/pablos que dividem do mesmo destino: a incerteza dos próximos dias. Difícil elucida-los coletivamente, apesar da desgraça compartilhada, que em momentos os une e em outros os convulsiona, eles são retratos individuais bem discerníveis em uma multidão - notados somente quando apreendidos - através do recorte que o diretor Fernando Leon de Aranoa sugere. Principio minha resenha pelas vozes que são ouvidas porque este é o foco do filme no decorrer de toda trama ou na morosidade do enredo; não nos colocam no limiar da tragédia ou a proposta é pensar soluções salvadoras, transportam o “ouvinte” para um balcão do bar Naval no meio da conversa de quatro, às vezes cinco amigos. Todos têm aparentemente algo em comum: o infortúnio que os acomete. Dispensados do estaleiro Aurora, em uma pequena cidade industrial do norte da Espanha; mais uma daquelas empresas que se desalojam atrás de maiores incentivos, maiores lucros e mão-de-obra mais barata; um motor que alimentava a vida de milhares de homens, suas necessidades financeiras e ou vitais, agora estuporado por investimentos estrangeiros. Um movimento já bem conhecido como também bastante retratado, caso do documentário de Michael Moore, Roger & Me: a avalanche de desempregados que tudo que podem aspirar é um lugar na arquibancada para assistir às devastadoras e inexoráveis especulações do mercado. Sofrendo as adversidades de se ver sem fonte de subsistência depois dos quarenta anos, alocados das funções “produtivas”, sem perspectivas para melhores dias, resta-os subsistir no olho do furacão aonde homens/operários são meros instrumentos de trabalho, passíveis de superação, fantoches do grande jugo do capitalismo. Homens indóceis de um mundo ingrato, peças imobilizadas que não mais se sustentam por si só e tem nas vozes femininas do filme um oráculo de revelação para a realidade que os sorveu.
Questões como a fatalidade de se viver a mercê do grande capital, a infidelidade de suas mulheres ou insegurança de seus relacionamentos, os segredos dos seus convivas, a rotina da caça por trabalho são levantadas após a primeira ou terceira doses de cerveja ou quando a oportunidade (existem muitas) permite... A voz que mais destoa do grupo é também a de um dos principais personagens, Santa, interpretado por Javier Barden, é ex-liderança sindical de base, um intermitentemente inconformado e provocador tagarela. É ele quem acha a formiga, da fábula "A Cigarra e a Formiga", uma especuladora filha da mãe e entreve nos barcos fúlgidos no horizonte uma passagem para um paraíso utópico conhecido como Austrália, onde tudo é repartido e todos se sentem felizes, segundo suas próprias palavras. Para ser mais exato, o contrário da vida que eles agora levam.
Simbolismos permeiam e inundam a tela de significados e anseios, seja na luz que se apaga após o último sair, seja a urna funerária que se perde na despedida derradeira. Às vezes entender a vida parece ser mais difícil que vivê-la... Se Deus não existe – resposta a mais um dos questionamentos que rodeiam garrafas de orgulho e insatisfação – no coração destes ociosos angustiados, quem poderá resguardá-los? Ficar a deriva, como a própria existência destes indivíduos, no mar enquanto a vida passa seja em uma temporalidade indolente ou igualmente ausente parece ser a alternativa por hora.
Em contextos de crise mundial este parece ser mais um daqueles quadros que se repete a cada dia, de maneira mais violenta e sistêmica, em sucessões mais rápidas e de tal forma imprevisíveis que, como mesmo disse o historiador Wallerstein em recente artigo, em algumas décadas só restará a barbárie ou o próprio fim.

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