sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Deus e o Diabo na Terra do Sol
Arremedo das condições prementes para uma existência sadia, exploração da carne queimada pelas intempéries do clima e da existência, a defesa não é para uma vida confortável no ambiente urbano e das regalias que a fartura pode oferecer, trata-se sim das pré-condições para a revolução camponesa! É isso o que nos oferece o ermo miserável e entregue do sertão semi-árido, "alegoria da fome e da exploração no subdesenvolvimento", no enredo da rapsódio de Deus e o Diabo na Terra do Sol. História de um homem enleado ao destino de uma vida já condenada e aos aforismos que a fé humana pode projetar, embate de duas forças antagônicas em uma terra de ninguém, aonde só existem duas leis: a do governo e a da bala.
Quando encurralado, um animal tende a ficar a mercê das regras de seu instinto - a necessidade de sobrevivência faz este reagir com revelia e hostilidade - pois não foi a isto que Manuel, o vaqueiro estava submetido quando apunhalou o coronel? Corisco, o cangaceiro também é fruto desta sina e sua promessa de matar os homens para que não morram de fome é a expressão da "violência do oprimido que a tem como afirmação sadia de uma dignidade aviltada pela experiência da fome." É luta entre as classes que se expressa nas entrelinhas, representada pela figura do molestado aflito que tenta se levantar por suas próprias forças e pelos seus próprios caminhos. Num ambiente onde misticismo e verdades cruas se misturam ou são concequencia uma da outra, conflitos internos e críticas externas, em quem estes desgraçados devem acreditar? "A terra é dos homens, não é de Deus e nem do Diabo", são os donos do mundo os responsáveis pelo seu rumo, assim canta o cordel que apresenta os persongens desta história e amarra a trama de ambivalências, como mesmo diz Ismail Xavier.
Na terra do sol os caminhos são impostos aos homens, as escolhas dadas partem da natureza do sistema que brinda aos poderosos, que por sua vez brinca com os instintos dos fracos deserdados e desamparados. Quando Manuel parte desembestado deixando sua Rosa, ele não está fugindo de seu fado - talvez esteja correndo em direção a este. Satanás está indo em direção ao mar, à revolução que se vislumbra no horizonte.
A punhalada final estava selada a mim, como fui descobrir no ao fim da sessão... Percorrendo um longo caminho de volta, mastigando as dores.
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