O uníca meio que pode atestar a minha existência é o conteúdo da minha memória, pois é dentro deste caldeirão de reminiscências que se encontram o material ou a documentação necessárias ao processo de verificabilidade desta tese: a de que eu vivi antes do tempo presente. Procedimento empírico simples, mas que demanda dedicação exclusiva. Absortos neste pensamento, criamos a mesma imagem em nossas mentes - sem um sustentáculo efetivo à vida terrena, somos somente corpos a flutuar. O passado então, para mim, não é nada mais que uma âncora ou um porto seguro; o primeiro refúgio de nossa identidade.
Todo este prólogo sobre método científico me serve para penetrar no cerne da questão principal deste texto, que me ficou inculcada estes dias. À narrativa de vivência de qualquer indivíduo pertencem outros tantos seres animados, pessoas que num momento ou outro cruzaram nosssa trajetória e a marcaram de alguma forma. Às vezes indelévelmente outras tantas em algum episódio efêmero qualquer. O que me importa neste processo de investigação não é o caráter qualitativo desta marca, mas o resgate desta longa duração (não tão longa para alguns), a reconstituição deste caminho sinuoso e incerto, sabe? Infelizmente, não são todos os personagens desta estória que conseguirão deixar vestígios vísiveis em nossa lembraça. Verdade cruel ou máxima inegável, em sua maioria seriam como se nunca tivessem existido. Então, a que parte do seu mundo eu pertenço? Àquela premente em sua memória ou à relegada ao esquecimento?
O que me conforta em lembrar das pessoas é saber que elas me esquecerão. Pois - passo para a perspectiva pessoal - não existe qualquer preocupação revolvendo meu âmago que se entregue a questão da minha diferença ou não na memória alheia. Desfruto sim, da sina de ser olvidado de outrem enquanto sempre me irei recordar de vc.
sábado, 20 de fevereiro de 2010
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
Olhos de ressaca
Depois de 15 anos eu revia o mar; uma alegria intensa, que só fazia aumentar a medida que cruzávamos as ruas, tomava conta de mim. Enfim chegamos à imensidão negra e inefável, era noite, e tudo que eu conseguia divisar - as ondas, a areia e a luz tênue de distantes embarcações pesqueiras - só fazia contagiar o meu entusiasmo! Entretanto, apesar da sensação pueril que sentia, não estaria nela o ensejo para novos escritos. O alimento desta ocasião estaria antes na experiência subjetiva de tais momento, sabe?
Como o conteúdo de tantas outras conversações falo aqui somente do que senti e não do que eu vi. Me atentando a necessária brevidade do relato, pois uma prorrogação o tornaria enfadonho, destaco aqui o essencial. Foi ao alvorecer do dia seguinte, estava de novo face a face com aquele marulhar incessante, com movimentos compassados e descompassados e a cima de tudo sucedâneos com os quais me atraia para um tête-a-tête mudo. Naquele instânte eu compreendi e gozei a metáfora dos olhos de ressaca; olhos, cuja "força arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca." Então, eram os olhos do Atlântico que miravam suas vistas para mim e consumiam toda a minha atenção. Algo de maravilhoso e insólito me hipnotizou por alguns minutos, por que não me entreguei?
Aqueles lindos olhos azuis de refugo esverdeado me fizeram recordar os teus e das mostras de intensidade e encanto que tantas vezes eles me revelaram. Pois, também deste momento me veio à memória o fato de a eles também não me ter cedido. Sabe, teus olhos hoje continuam me guiando, visto que obedecendo à máxima que diz "só se tem aquilo que se perde", apercebo-me de que só agora consigo imergir em suas águas profundas.
Como o conteúdo de tantas outras conversações falo aqui somente do que senti e não do que eu vi. Me atentando a necessária brevidade do relato, pois uma prorrogação o tornaria enfadonho, destaco aqui o essencial. Foi ao alvorecer do dia seguinte, estava de novo face a face com aquele marulhar incessante, com movimentos compassados e descompassados e a cima de tudo sucedâneos com os quais me atraia para um tête-a-tête mudo. Naquele instânte eu compreendi e gozei a metáfora dos olhos de ressaca; olhos, cuja "força arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca." Então, eram os olhos do Atlântico que miravam suas vistas para mim e consumiam toda a minha atenção. Algo de maravilhoso e insólito me hipnotizou por alguns minutos, por que não me entreguei?
Aqueles lindos olhos azuis de refugo esverdeado me fizeram recordar os teus e das mostras de intensidade e encanto que tantas vezes eles me revelaram. Pois, também deste momento me veio à memória o fato de a eles também não me ter cedido. Sabe, teus olhos hoje continuam me guiando, visto que obedecendo à máxima que diz "só se tem aquilo que se perde", apercebo-me de que só agora consigo imergir em suas águas profundas.
sábado, 6 de fevereiro de 2010
Nascimento e morte
"- Nascimento e morte sempre chocam as pessoas.."
E no entanto, a primeira vista, aparentam ser acontecimentos tão díspares - engano para os que vêem assim. Ambos os processos tem a mesma raíz, sem um o outro não seria necessário ou possível, ambos se completam no governo que é dado pela natureza; na verdade, onde um começa o outro termina. Numa corrente sucessiva e por demais fluída que carrega consigo torrentes de lágrimas, sejam elas, expressões de alegria expansiva ou tristeza contida. Porque não importa a reação convencionada pela moral contemporânea, tanto um sentimento como outro são passivos de serem dispensados em ambos os casos. E é no sentido vinculado pelo verbo desta afirmação primeira que eu inicio o meu desabafo ou hino.
Não encaro a questão como resultado de meros pontos de vista conflitantes, penso antes, que este drama me fornece uma base para sustentar minha idéia de negação do bom/ruim ou negativo/positivo. Desacreditado prisma de compreensão; neste paradigma apreende-se as insuficientes e vulgares, para não dizer bárbaras, tentativas de se julgar ou entender a perspectiva do complexo âmago humano. "Só estou chocado", eu disse, réplica que nunca contemplaria em sua totalidade a convulção de sensações psíquicas que por hora tomou o meu
intestino. No dicíonário os sinônimos para o termo 'sentimento' podem ser tanto o ódio como o amor - ambiguidade incompreensível! Incompreesível para aqueles que nunca deles padeceram, isso é certo. Nesse universo de reações neuroquímicas que atormentam o nosso sistema neurológico, a condenação por quaisquer juízos tomados de assalto deve ser repreendida.. Mas afinal, este post é sobre nascimento e morte ou as reações humanas provocadas por estes? Eu diria ambos, porque foram estes dois problemas que motivaram o meu consolo/poesia e porque no cerne destas tragédia/comédia repousa uma incerteza que me é criativa, afinal por estes dias já escrevi, desenhei, cantei, chorei..
Percebes donde eu quero chegar? Diviso em ambos os temas o renascimento, a renovação, um sem-fim de continuismos e a sigela imprecisão que permeia tais eventos na esfera da sensibilidade humana. Assim, tanto um riso de pesar como um pranto de gozo podem dar o tom da cerimônia - rito que nunca contará com a minha presença - pois prefiro me manter afastado de maternidades e velórios, lugares de acesso restrito a lobos da estepe como eu, a não ser os que ponturam e definirão a minha vida.
E no entanto, a primeira vista, aparentam ser acontecimentos tão díspares - engano para os que vêem assim. Ambos os processos tem a mesma raíz, sem um o outro não seria necessário ou possível, ambos se completam no governo que é dado pela natureza; na verdade, onde um começa o outro termina. Numa corrente sucessiva e por demais fluída que carrega consigo torrentes de lágrimas, sejam elas, expressões de alegria expansiva ou tristeza contida. Porque não importa a reação convencionada pela moral contemporânea, tanto um sentimento como outro são passivos de serem dispensados em ambos os casos. E é no sentido vinculado pelo verbo desta afirmação primeira que eu inicio o meu desabafo ou hino.
Não encaro a questão como resultado de meros pontos de vista conflitantes, penso antes, que este drama me fornece uma base para sustentar minha idéia de negação do bom/ruim ou negativo/positivo. Desacreditado prisma de compreensão; neste paradigma apreende-se as insuficientes e vulgares, para não dizer bárbaras, tentativas de se julgar ou entender a perspectiva do complexo âmago humano. "Só estou chocado", eu disse, réplica que nunca contemplaria em sua totalidade a convulção de sensações psíquicas que por hora tomou o meu
intestino. No dicíonário os sinônimos para o termo 'sentimento' podem ser tanto o ódio como o amor - ambiguidade incompreensível! Incompreesível para aqueles que nunca deles padeceram, isso é certo. Nesse universo de reações neuroquímicas que atormentam o nosso sistema neurológico, a condenação por quaisquer juízos tomados de assalto deve ser repreendida.. Mas afinal, este post é sobre nascimento e morte ou as reações humanas provocadas por estes? Eu diria ambos, porque foram estes dois problemas que motivaram o meu consolo/poesia e porque no cerne destas tragédia/comédia repousa uma incerteza que me é criativa, afinal por estes dias já escrevi, desenhei, cantei, chorei..
Percebes donde eu quero chegar? Diviso em ambos os temas o renascimento, a renovação, um sem-fim de continuismos e a sigela imprecisão que permeia tais eventos na esfera da sensibilidade humana. Assim, tanto um riso de pesar como um pranto de gozo podem dar o tom da cerimônia - rito que nunca contará com a minha presença - pois prefiro me manter afastado de maternidades e velórios, lugares de acesso restrito a lobos da estepe como eu, a não ser os que ponturam e definirão a minha vida.
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