O uníca meio que pode atestar a minha existência é o conteúdo da minha memória, pois é dentro deste caldeirão de reminiscências que se encontram o material ou a documentação necessárias ao processo de verificabilidade desta tese: a de que eu vivi antes do tempo presente. Procedimento empírico simples, mas que demanda dedicação exclusiva. Absortos neste pensamento, criamos a mesma imagem em nossas mentes - sem um sustentáculo efetivo à vida terrena, somos somente corpos a flutuar. O passado então, para mim, não é nada mais que uma âncora ou um porto seguro; o primeiro refúgio de nossa identidade.
Todo este prólogo sobre método científico me serve para penetrar no cerne da questão principal deste texto, que me ficou inculcada estes dias. À narrativa de vivência de qualquer indivíduo pertencem outros tantos seres animados, pessoas que num momento ou outro cruzaram nosssa trajetória e a marcaram de alguma forma. Às vezes indelévelmente outras tantas em algum episódio efêmero qualquer. O que me importa neste processo de investigação não é o caráter qualitativo desta marca, mas o resgate desta longa duração (não tão longa para alguns), a reconstituição deste caminho sinuoso e incerto, sabe? Infelizmente, não são todos os personagens desta estória que conseguirão deixar vestígios vísiveis em nossa lembraça. Verdade cruel ou máxima inegável, em sua maioria seriam como se nunca tivessem existido. Então, a que parte do seu mundo eu pertenço? Àquela premente em sua memória ou à relegada ao esquecimento?
O que me conforta em lembrar das pessoas é saber que elas me esquecerão. Pois - passo para a perspectiva pessoal - não existe qualquer preocupação revolvendo meu âmago que se entregue a questão da minha diferença ou não na memória alheia. Desfruto sim, da sina de ser olvidado de outrem enquanto sempre me irei recordar de vc.
sábado, 20 de fevereiro de 2010
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