Sinto por mim, pela minha memória não ter guardado os momentos pueris dos meus primeiros anos. Não apenas pela incompletude que agora perfaz minha identidade, mas acima disso pela perda de um refúgio incólume contra a insanidade mental. É a ingenuidade infantil o último bastião de negação ao movimento de cretinização cotidiano. Imunes a solidão inerente as multidões, os pequerruchos demonstram em sua sinceridade a afabilidade a qualquer indíviduo anônimo. Na infância não existe distinção, sobra somente a desorientação.
Exatamente pela ausência da autoconciência, os contingentes desta tenra idade são exemplares únicos de coragem e obstinação, seu temor não é pelo desconhecido e sim ao que já os tem ciente. Preservar essa fase da vida é adiar seu ingresso à Geração dos Derrotados, classe/condição inexorável que contempla todo o mundo real, destino justo ou não, ele é inapelável. Tal predestinação não pode interromper o fluxo natural do desenvolvimento humano, pois inocência aqui, não é apenas uma vitude, mas também uma dádiva.
Trato a Geração do Derrotas como um acontecimento ou fenômeno contemporâneo ao processo de urbanização e crescimento populcional desenfreado. Sinto essa aura de derrotismo expressada na marcha das grandes turbas, é aquele passo compassado e quase coreografado que eu percebo esse isolamento, sentimento contraditório ou não, ele me consome como um grande vazio. Um nuvem negra que a todos cobres, menos àqueles desobrigados às suas imposições. Expostas essas impressões, minha reação frente ao gozo sem contextura de um infante ganha sua justificativa. Não sinto compaixão ou conforto, sinto sim, um desgosto íntimo por não me ser possível acessar as mesmas sensações memoriais.
domingo, 28 de março de 2010
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