Tenho uma dívida de fé com a vida, esta existência que há me dado tanto por muito tempo esteve afastada de meu corpo, por muitos anos não dei crédito a essa crença. Por isso, já reformado, deposito em cada efêmera experiência aquela fé que minha razão tanto renegou. Não estava apenas corrompido pelo ceticismo, ateismo, mas também pelo pessimismo que me fazia ignorar a verdade contida nos pequenos detalhes. Falo das histórias que o sinuoso rumo das águas de um riacho desenha ou do silvo do vento sob as folhas secas que aos poucos mudam a cor e textura do passeio. Linguagens que somente os retiros de solidão me ajudaram a decifrar, me revelaram todas as crônicas que hoje compõe o hino de minha religião.
Foi somente no silêncio das cordilheiras que pude finalmente escutar o meu interior, esse centro particular de cada ser no qual se oculta a paz tão almejada. Em posse somente de toscas vestes e decidido ao abandono total dos desejos da mente e do corpo me deixei por alguns minutos nesse estado ascético. Estágio de elevação que por sua própria finitude me aproximou do infinito. Condenado que estou a essa vida mundana, me decidi a utilizar cada dia de minha vida a recuperar aquela aurea etérea que os ventos frios do sul me fizeram conhecer. Sei que esse alento pode ser descoberto levantadosse cada pedra, mordendosse cada fruta ou mesmo contemplandosse cada criatura em uma concepção panteísta e fantástica da realidade, entretanto é tão difícil concentração nesses dias de insegurança.
O que sei é que de novo preciso me entregar a essa peregrinção errante e indidual, acompanhado unicamente das aspirações de meu entusiasmo juvenil e dos pedregulhos que coleciono pela estrada. Desejo que encerra as últimas linhas desse texto, que não foi um depoimento, se não uma prece por esse milagre cotidiano e maravilhoso que é a vida.
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