sábado, 2 de outubro de 2010

Should I Stay or Should I Go?

O sol que arde sobre as costas, o asfalto que come as botas e a longa duração do tempo podem explicar a felicidade de um viajero. Não importa se os anos exulmarão uma outra verdade sobre esses dias de nomadismo, o que eu tenho agora vai me sustentar pelo resto da minha juventude. E sabe por que o que importa é o agora? Porque eu não ligo para o depois. Os pensamentos que tirei daqui não são moeda de troca para dias melhores, sua validade não depende de sua utilidade e as experiencias são demasiadamente mais sucetíveis se eu não penso nisso. Foi a caduquice que me fez dar corda para o pessimismo, me deu racionalidade quando antes o que fazia era obedecer o corpo. Era o meu livro de denúncias e poemas de Galeano debaixo do braço e a minha vontade que me guiavam.
Em cada viajem um amor diferente, uma paixão que ardia enquanto nossos corpos transpiravam. A estrada me deu muito disso e tantas vezes que em alguns momentos me desviava do que eu realmente procurava. Como diria Rilke naquelas cartas em que somente um jovem poderia ser o destinatário, "uma só coisa era necessária; a solidão, a grande solidão íntima." Eu pensava nisso e apesar de estar tão longe do eu que buscava, sabia mesmo assim quem eu era ou pelo menos imaginava saber. Porque percebo agora o quanto mudei desde a última vez, o quanto do minha antiga bagagem se perdeu pelo caminho para dar lugar a um pouco mais de material usado. Engraçado, quantas mais vezes eu escutava "Should I Stay or Should I Go?" tocando, mais me decidia por ficar para reavivar na mente as recordações esmaecidas de transgressões sem sentido, imagens de uma sutileza análoga a uma caixinha de música.
Quem foi que disse que sabedoria somente se alcança através do excesso? Se a equação dá uma razão exata eu ainda não provei; mas o quanto não aprendi de nossos usuais crimes? No final o que resta é aquela derradeira imagem de despedida da janela do micro que tanto me faz querer voltar novamente.

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