quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Los ojos de Gutete Emerita


Penetramos surdamente o reino da dor, do limiar da porta seguimos a frase iluminada em linha reta que nos guiava até a grande sala, até a imensa mesa que nos servia o singular cardápio de um milhão de vistas; olhares que exprimiam a profundidade de um sentimento lancinante. A intimidade e o cuidado nos fizeram perceber que se tratava unicamente de um mesmo olhar, um par de retinas que se repetia como os ecos de uma experiência que encontrou lugar em outro continente, isolado do nosso conhecimento até aquele momento. Um clima de luto, confidenciou uma do grupo, encobrio a todos como a escuridão das paredes que nos deixava na penumbra.
Será então, que um fato histórico localizado em tempo e espaço diferentes está completamente alijado da nossa realidade? Então, não temos culpa do genocídio armênio do início do século XX ou do massacre indígena promovido pelas Campanhas do Deserto no final do século XIX na Argentina? Em verdade, penso mesmo que carregamos até hoje nas nossas costas o peso da morte de seis milhões de judeus no pré-segunda guerra mundial. A experiência de clima denso e indigesto seria o que os hispanohablantes chamariam de pesado. Teríamos conquistado o intento de se aproximar do sofrimento daquela mulher? Creio que não.
Nossa presença naquele ambiente só teria sido notada pelos sussurros que emolduravam nosso ensaio. Um respeito e resignação que contrastaria com o atordoamento dos telespectadores de um telejornal com a mesma notícia. Ambos os lados de um parecido silêncio guardado a muito, uma mudez parecida com a burrice que nos encarcera atrás das grades da normalidade.

Nenhum comentário: