segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
Mulher em hotel no Brás, Cristiano Mascaro
Diante da câmera ela posa sem jeito, apoiada com um dos braços contra a parede, ela satisfaz a vontade de um anônimo que perscruta sua disponibilidade omissa. Esta ali para ele como estará todos os dias para qualquer um. Vemos o tédio e a indiferença em sua expressão e na posta indolente de quem aguarda com obrigação, mas também com esperança. Sobre ela cai a luz de uma das portas entreabertas, uma das tantas outras que compõe um longo corredor de portas entreabertas - todas elas entradas para quartos - único destino sobre o qual se instaura o labirinto da sua vida. Entretanto, a luz que ilumina o cotidiano de seu trabalho, rotina profissional costurada necessariamente no escuro, é também a luz da esperança primitiva, daquela mesma qualidade do foco de luz que alumbra a cabeça de cada novo recém nascido.
O jogo de oposições persiste como anseio da busca por uma saída em um corredor com apenas entradas, um embate entre contrastes em desequilíbrio contínuo. O claro e o escuro, o nascimento e a morte, a saída e a entrada fazem parte da narrativa que envolve fotografada e fotógrafo, todo enredo, então é esboçado na permissiva relação contratada entre ambos por uma módica quantia. O retrato imortalizado não é de um corpo castigado e cenho injustiçado, mas antes da ingenuidade de uma menina-moça que descolore seus projetos de amanhã nos traços infantis do nascer do sol que estampa sua camiseta. Nascimento ou poente, pois até ai, a dúvida se estabelece, como há de ser em um registro mudo de palavras de testemunha e repleto de intencionalidades de fotografo.
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