"Caminhando, pensava em quão frequentemente encontra-se na vida gente boa e como é lamentável que esses encontros não deixem nada, além das recordações. Acontece aparecerem num repente cegonhas no horizonte, a brisa ligeira traz os seus gritos entre tristonhos e eufóricos, e, um instante depois, por mais que fixemos avidamente a vista nos longes azuis, não vemos um ponto, não ouvimos um som sequer; assim também as pessoas, com seus semblantes, as suas falas, aparecem ligeiramente na vida da gente e submergem em nosso passado, não deixando mais que as pegadas insignificantes da memória"
Eu ando sozinho; dou longas passadas, arrasto-me desgastando as solas dos meus sapatos, pegadas profundas e rasas marcam o meu traçado, piso em falso ou com determinação. Meu caminho não é definido ou linear, muito menos progressivo, apenas sigo, talvez esteja perdido.. Não tenho ritmo ou pretenções, batidas em meu peito doloridas e rápidas marcam o compasso imperceptivelmente. Olho pra frente mas não consigo me desvencilhar do que está atrás, miro de soslaio o que eu nunca intendi muito bem. Sinto que ainda não sei marchar – jornadear me ainda é provavelmente e sempre será um mistério – mas o que posso fazer, que outra escolha me deixaram? Foi tanto já o que viajei; tantas distâncias percorridas, tantos obstáculos transpostos e ainda assim nem estou perto de saber o que significa essa eterna desventura de viver! Estava chorando agora pouco, admito, já ouvi tantas vezes a pergunta: "vc chora diante da beleza?", ela nunca foi dirigida a mim, mas sempre pensei se poderia respondê-la... Hoje chego perto de uma resolução, no entanto não tenho certeza se estas gotas que aqui verteram foram resultado da beleza que esse exerceto me trouxe ou simplesmente ao tropeço que acabo de dar e ele desgraçadamente me conduziu a memória. Penso mesmo que ambas são faces da mesma resposta que por tantas vezes ousei reivindicar ou propor. Afinal a beleza não faz distinção entre aquilo que é triste ou alegre, ela não se ampara em pólo positivo ou pólo negativo, ela é independente e autônoma. É o homem que faz juz dela por coveniência ou confusão, para ele a beleza é correlato ao yin e yang, a sua arrogância a tira de seu aparente estado de complacência e onipresença para a julgá-la. Mas não quero dar todo crédito à beleza nesse escrito; quero sim de novo volver minhas retinas para detrás, não para suspender meus passos e sim para resgatar aquilo que me foi caro e esta ficando para a insignificância como mesmo disse o russo. Rogo para os Deuses celestes ou terrestres que não usurpem isso de mim, por força da providência ou acaso; vocifero contra eles e lhes digo que não tem esse direito! Se for preciso ajoelhar, esfolarei até os ossos estas minhas falhas e alternativas humanas. Não é a destreza ou a coragem que me dominam, mas sim a angústia – este sentimento que me impele carnal e psicologicamente, domina minha faculdades mentais e físicas, esse pesar dislacera minhas entranhas e não me faz esquecer, precisarei gritar? Precisarei provar o quanto esta dor lascinante me provoca? Eu jurei por ti ser bem amado, porém só sou desgostado.
É olhar para trás em que está o meu infortúnio, é colecionar esses pedaços de mim mesmo que me desgasta, não, é querer o melhor de mim e não conseguir que vai me destruir.
Vc não é dessas reminicências que se deixam para o passado com desprezo, aquelas marcas que nos deixam com um gosto de fel na boca e sangram as cicatrizes. Quero protegê-la, quero acalenté-la, quero dar-lhe a mão; não quero ser unicamente um desses nadas que a vida te dá. Serás que não percebes e zombas comigo? Não consigo carregar mais essas fixações de que é tudo em vão, de que tudo vai passar, de que nada é pra sempre. São esses os adágios que recebemos quando iniciamos a jornada: bom, com alguma coisa nós devemos ficar, não? Ah, são tantas coisas que assomam a minha vista agora e me pertubam, zombeteiros e indiferentes, se quer calculam o que posso sentir por seus gracejos; eu posso enlouquecer, fato. Sei que não sou portador das virtudes que espera, não sou e nunca serei um exemplo para convivência, entretanto tenha em vista que eu nunca menti para ti, cada palavra, dita em sussurros ou histerias, foram esforço de expressão íntima e verdadeira.
Compreendes isso?! Me ensina a lidar, pois eu não sei e tremo perante o desafio. Tudo se mistura, não sei distinguir o que sinto e presinto, estou perdido em meio a tantas lembranças e nódoas e, por fim, está tudo tão escuro! Será que devo parar aqui e esperar? Esperar que o vento me sopre outras aventuras? Então o que devo fazer com as quais eu ainda não terminei de viver? Me ensina a vivê-las!
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Imagens do Inconsciente
domingo, 14 de dezembro de 2008
Revolução das Plantas!
"[...]
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o
ódio."
Um a extensão do outro; quem ilustra quem? ambos se completam. Fiquei tocado com o contraste dessa foto e de forma simultânea esta passagem me veio a mente; de uma unissonância sem paralelos!
De que protegem ela? Ou será que nos protegem dela? Noto na disposição de suas folhas na tentativa de transpassar as grades um desejo de liberdade; noto uma ânsia pelo exterior; noto um sofrimento condescendente do cárcere...
É um rebento e assim como a rosa do povo rompe o asfalto, essa flor se projeta além da cela.
À revolução das plantas!
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Além do que se Vê
"Moça, olha só o que eu te escrevi
É preciso força pra sonhar e perceber
que a estrada vai além do que se vê
Sei que a tua solidão me dói
e que é difícil ser feliz
mas do que somos todos nós
você supõe o céu.
Sei que o vento que entortou a flor
passou também por nosso lar
e foi você quem desviou
com golpes de pincel
Eu sei, é o amor que ninguém mais vê
Deixa eu ver a moça
Toma o teu, voa mais
que o bloco da família vai atrás
Põe mais um na mesa de jantar
por que hoje eu vou pra aí te ver
e tira o som dessa TV
pra gente conversar
Diz pro bamba usar o violão
pede pro Tico me esperar
e avisa que eu só vou chegar
no último vagão
É bom te ver sorrir
Deixa vir à moça
que eu também vou atrás
e a banda diz: assim é que se faz!
Sei que a tua solidão me dói...
Sei aquela mesa de jantar..."
A letra dessa música é quase uma epopéia! A nível sentimental e habitual, claro, mesmo assim de uma força avassaladora e opressiva... não sei mais se estou pensando na letra ou na minha rotina, acho que ambas se misturam...
E aquele trompete na parte final? Ah, encerrando de maneira igualmente melancólica e com grande regozijo... eu diria mais: triunfal!
É preciso força pra sonhar e perceber
que a estrada vai além do que se vê
Sei que a tua solidão me dói
e que é difícil ser feliz
mas do que somos todos nós
você supõe o céu.
Sei que o vento que entortou a flor
passou também por nosso lar
e foi você quem desviou
com golpes de pincel
Eu sei, é o amor que ninguém mais vê
Deixa eu ver a moça
Toma o teu, voa mais
que o bloco da família vai atrás
Põe mais um na mesa de jantar
por que hoje eu vou pra aí te ver
e tira o som dessa TV
pra gente conversar
Diz pro bamba usar o violão
pede pro Tico me esperar
e avisa que eu só vou chegar
no último vagão
É bom te ver sorrir
Deixa vir à moça
que eu também vou atrás
e a banda diz: assim é que se faz!
Sei que a tua solidão me dói...
Sei aquela mesa de jantar..."
A letra dessa música é quase uma epopéia! A nível sentimental e habitual, claro, mesmo assim de uma força avassaladora e opressiva... não sei mais se estou pensando na letra ou na minha rotina, acho que ambas se misturam...
E aquele trompete na parte final? Ah, encerrando de maneira igualmente melancólica e com grande regozijo... eu diria mais: triunfal!
sábado, 6 de dezembro de 2008
Spleen (LXXVI)
"Eu tenho mais recordações do que há em mil anos.
Uma cômoda imensa atulhada de planos,
Versos, cartas de amor, romances, escrituras,
com grossos cachos de cabelo entre as faturas,
Guarda menos segredos que o meu coração.
É uma pirâmide, um fantástico porão,
E jazigo não há que mais mortos possua.
- Eu sou um cemitério odiado pela lua,
Onde, como remorsos, vermes atrevidos
Andam sempre a irritar meus mortos mais queridos.
Sou como um camarim onde há rosas fanadas,
Em meio a um turbilhão de modas já passadas,
Onde os tristres pastéis de um Boucher desbotado
Ainda aspiram o odor de um frasco destampado.
Nada iguala o arrastar-se dos trôpegos dias,
Quando, sob o rigor das brancas invernias,
O tédio, taciturno exílio da vontade,
Assume as proporções da própria eternidade.
- Doravante hás de ser, ó pobre e humano escombro!
Um granito açoitado por ondas de assombro,
A dormir nos confins de um Saara brumoso;
Uma esfinge que o mundo ignora, descuidoso,
Esquecida no mapa, e cujo áspero humor
Canta apenas aos raios do sol a se pôr."
Colecionando memórias...
Gosto da relação que ele faz, da recordação com a sepultura, algo estéril ou inerte, porque é o que passado é ou faz: absolutamente nada! Então por que se apegar tanto a ele? Por que eu me apego tanto a ele? Não sei, não imagino do que mais sou feito – além destas memórias – as outras peças que me compõe são deveras efêmeras, inconsistentes, contrastantes demais para eu me amparar sobre elas. Por isso prefiro aquilo que ainda não me esqueci, aquilo que minha caixa-amarela protege do tempo, aquilo que minha mente não faz questão de se desfazer.
Uma cômoda imensa atulhada de planos,
Versos, cartas de amor, romances, escrituras,
com grossos cachos de cabelo entre as faturas,
Guarda menos segredos que o meu coração.
É uma pirâmide, um fantástico porão,
E jazigo não há que mais mortos possua.
- Eu sou um cemitério odiado pela lua,
Onde, como remorsos, vermes atrevidos
Andam sempre a irritar meus mortos mais queridos.
Sou como um camarim onde há rosas fanadas,
Em meio a um turbilhão de modas já passadas,
Onde os tristres pastéis de um Boucher desbotado
Ainda aspiram o odor de um frasco destampado.
Nada iguala o arrastar-se dos trôpegos dias,
Quando, sob o rigor das brancas invernias,
O tédio, taciturno exílio da vontade,
Assume as proporções da própria eternidade.
- Doravante hás de ser, ó pobre e humano escombro!
Um granito açoitado por ondas de assombro,
A dormir nos confins de um Saara brumoso;
Uma esfinge que o mundo ignora, descuidoso,
Esquecida no mapa, e cujo áspero humor
Canta apenas aos raios do sol a se pôr."
Colecionando memórias...
Gosto da relação que ele faz, da recordação com a sepultura, algo estéril ou inerte, porque é o que passado é ou faz: absolutamente nada! Então por que se apegar tanto a ele? Por que eu me apego tanto a ele? Não sei, não imagino do que mais sou feito – além destas memórias – as outras peças que me compõe são deveras efêmeras, inconsistentes, contrastantes demais para eu me amparar sobre elas. Por isso prefiro aquilo que ainda não me esqueci, aquilo que minha caixa-amarela protege do tempo, aquilo que minha mente não faz questão de se desfazer.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
MáximasDialogum
As vezes eu queria ser como o cara que canta no caminho da República até o banheiro da fflch...
- Tá feliz, hein?
- Vivo cantando.. haha.
- Tá feliz, hein?
- Vivo cantando.. haha.
Até tu Brutus ?!
É refletindo sobre isso que eu vejo o quão frágeis são as relaçõoes, como anos de convivência podem ser definidos por um dia de mau humor ou um ato falho. Deve por isso que evito tanto as pessoas, me refugio dentro desse meu enclaustro de misantropia; não queria mas me sinto tão protegido – claro deprimido e solitário também – mas principalmente resguardado das chagas de separação/afastamento/rompimento. Algumas profundas outras benignas porém nenhuma perene, infelizmente todas me estão gravadas na memória, todas me atormentam durante a noite e fazem o som do vento se assemelhar ao barulho de fantasmas; é o que na verdade todas são: sombras vivas de um passado não muito longínquo, oras pois, são somente duas décadas de existência; quiçá aos quarenta eu não consiga a dispensa dessa obrigatoriedade de viver. Mas como dizia... nem de tudo se pode fugir para sempre (a minha porta pode ser a última do quarteirão, mas nem por isso deixário de ser tocada a companhia) iguais exigiram a minha presença, outros buscarão mais, talvez ao ponto de eu não conseguir ofertar... O que quero dizer é que minha fortaleza será rompida, minhas defesas cederão e eu não terei como faltar à imposição dessas relações, algumas de longa duração outras de epílogo indefinível, entretanto todas de reciprocidade inegável.
Desconstruirei esse trato, o que são relações? Contratos, eu digo! De cláusulas discerníveis e irrevogáveis, contudo sem estipulação de termo. Suas conclusões estão a deriva, nesse balanço da maresia elas estão revoltas em uma dinâmica social de muitas definições. Queria eu saber das respostas, mas se quer certeza de algum fato vou ter; queria intender essa insistência, será um desafio para os homens ultrapassarem essa minha barreira de reclusão social? Tantos que a vencem e se deixam largadas pelo caminho sem um suspiro ou justificativa; eu nunca acreditei nelas, nem se quer reprovo minhas inverdades, pois que exemplum posso ser/dar, então?
Por que não ficas mais um pouco? Por que tens que sumir e levar consigo meus melhores anos? Se não é eterno, não dá! Não posso me assistir nessa lapidação, não posso deixar eu morrer aos poucos: pedaços meus espalhado às ruas, sem forças para juntá-los. Queria ter, juro, mas tantas feridas abertas já me deixam fraco e desesperado, sem vontade ou receoso de gritar... Queria apenas cantar-apenas cantar, mas eu não sou como o cara que canta no caminho da República até o banheiro da fflch. É assim que vc prefere, não é? No final é assim mesmo, elas vão e vem e eu fico: um pobre diabo! Oh, até tu brutus?! Me afirmaste tanta compaixão e confiança, me furaste, veracidade, os olhos sem eu ver e da pior forma: pelas costas... Podia ao menos ter respeitado meu luto.
Escrevo isso e lágrimas acentuam as linhas do meu rosto, aquelas das quais vc ousou um dia ter dito que sonhou. Eu ainda sou seu, faça dessa carcaça oca o que quiseres, mas não recrimine minha burra de reminiscências, é rei aquele que vive de lembranças em uma nação de desmemoriados/desmonumentalizados! Por isso eu sobrevivo a mais uma calamidade, dobrando o horizonte ainda estão os invernos vindouros. Lhe faço um último pedido: se já for tempo de ir, me faça acreditar que eu dei autênticos motivos.
Não quer deixar a chuva passar antes de ir?
Desconstruirei esse trato, o que são relações? Contratos, eu digo! De cláusulas discerníveis e irrevogáveis, contudo sem estipulação de termo. Suas conclusões estão a deriva, nesse balanço da maresia elas estão revoltas em uma dinâmica social de muitas definições. Queria eu saber das respostas, mas se quer certeza de algum fato vou ter; queria intender essa insistência, será um desafio para os homens ultrapassarem essa minha barreira de reclusão social? Tantos que a vencem e se deixam largadas pelo caminho sem um suspiro ou justificativa; eu nunca acreditei nelas, nem se quer reprovo minhas inverdades, pois que exemplum posso ser/dar, então?
Por que não ficas mais um pouco? Por que tens que sumir e levar consigo meus melhores anos? Se não é eterno, não dá! Não posso me assistir nessa lapidação, não posso deixar eu morrer aos poucos: pedaços meus espalhado às ruas, sem forças para juntá-los. Queria ter, juro, mas tantas feridas abertas já me deixam fraco e desesperado, sem vontade ou receoso de gritar... Queria apenas cantar-apenas cantar, mas eu não sou como o cara que canta no caminho da República até o banheiro da fflch. É assim que vc prefere, não é? No final é assim mesmo, elas vão e vem e eu fico: um pobre diabo! Oh, até tu brutus?! Me afirmaste tanta compaixão e confiança, me furaste, veracidade, os olhos sem eu ver e da pior forma: pelas costas... Podia ao menos ter respeitado meu luto.
Escrevo isso e lágrimas acentuam as linhas do meu rosto, aquelas das quais vc ousou um dia ter dito que sonhou. Eu ainda sou seu, faça dessa carcaça oca o que quiseres, mas não recrimine minha burra de reminiscências, é rei aquele que vive de lembranças em uma nação de desmemoriados/desmonumentalizados! Por isso eu sobrevivo a mais uma calamidade, dobrando o horizonte ainda estão os invernos vindouros. Lhe faço um último pedido: se já for tempo de ir, me faça acreditar que eu dei autênticos motivos.
Não quer deixar a chuva passar antes de ir?
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