"Só é nosso aquilo que perdermos; só é nosso aquilo que vivemos, depois esquecemos e depois... lembramos."
Eu penso nas coisas, eu penso nas coisas com a angústia de quem as perdeu - mas eu as tenho - eu verdadeiramente as tenhos e ninguém pode me tirá-las! Pois, se quando eu desfrutava do contato material que elas estabeleciam comigo, essa sensação concreta que se desvanece com a quebra do laço e só pode ser devolvida com uma nova reaproximação dos corpos, o que eu tenho? Não existe impressão, à posse não pode ser dada a categoria de espiritual - existe sim, a realidade do minuto - que não nos deixa mais do que uma efêmera sensação física de calor e conforto. Esse período transitório do usufruto em que não depreedemos qualquer esforço de reflexão ou que simplesmente não estimulamos a nossa percepção tende a ser apenas o prelúdio para o esquecimento ou o que eu virei chamar aqui de "possuir sem ter". Então, essa relação que se estabelece no âmbito da materialidade não nos deve ser fonte de qualquer apreço, pois ela unicamente nos fornece uma experiência sensorial, não nos permite vivenciar aquele momento dentro da sua intesidade ou completude, somos meras marionetes de sensibilidade, esvaziadas de sentimentos. Ah, mas quem me dera comer com a mesma verdade os chocolates como aquela menina suja. Saber-me realmente satisfeito e feliz com a vida e o momento flagrante e não apenas subsistir com a consternação do "ter sem possuir". Pois, é isso que nos espera, a verdadeira posse - àquela a qual nenhum ser terreno pode nos furtá-la, àquela a qual vivenciamo-nos internamente e devemos, pelo alento intestinal a qual ela nos lega, sermos eternamente gratos. Porque só quem perdeu é que pode gozar do ter, só deste patamar saberemos como é a apreciação deste âmbito incorpóreo.
Somos assim, subservientes a nossa memória e aos agrados que ela nos reserva, exatamente por sermos dependentes desta dádiva é que precisamos elevá-la ao centro de nosso ser. Não podemos nos concentrar na intangibilidade do tempo porque abdicaremos assim de viver da eternidade do instante como o gato de Beatriz o faz. Sabe, ainda hoje me pego na doce maresia do pensamento rememorando aqueles instantes que vc hoje deve ignorar... lembra, lembra quando eu segurei sua mão? Eu sei, segurei-a tantas vezes que nem eu e vc ou Ele podemos contar, porém houve uma determinada ocasição que eu segurei na sua mão com a mesma verdade da "menina suja dos chocolates" - juro por todas aqueles diálogos em que vc demonstrou compreensão - e somente agora eu consigo perceber que eu tenho a sua mão comigo: todas as saliências, reentrência, curvas e desníveis, linhas e pequenas imperfeições, todos esses detalhes eu nutro na etérea fruição do toque e que vc não pode apagar de mim. Eu não sei até que ponto isso pode ser encarado como doloroso ou o quanto de que disso eu posso constatar estar preso como o tigre na jaula visitando e revisitando fatos mortos, entretanto minha sinceridade pode confesar o quanto é prazeiroso em alguns momentos ser esse estúpido joguete da minha própria memória; o quanto de que o que eu guardo consigo não representa nem esperança, muito menos humilhação.
Logo, o que eu devo aprender está dentro de mim mesmo, não devo sofrer com a espera, não devo me fixar no tempo ou na imortabilidade, devo apreciar o instante e resgurdá-lo com todo zelo quando o for unicamente meu. Agora eu sei que eu precisava de um pouco de ti para poder ser um pouco mais eu e que a brevidade da vida significa um número menor de agonias para explorar.
domingo, 23 de agosto de 2009
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2 comentários:
nossa, um texto otimista aqui. que raro e belo.
quem é o gato de Beatriz?
(hj pensei em vc no onibus. "qria ligar para o fer".)
descobri mais pra baixo quem é o gato.
tentei te ligar. mas o cel tá na ciaxa postal e na sua casa eu deixei chamar algumas vezes e desliguei. 01:30 n é horario para ligar na casa dos outros.
vamos conversar, fer. n fuja qdo me ver em algum lugar, tá?
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