"Influenciado pela carta de Sazonova, vc me escreve sobre "a vida pela vida". Humildemente, agradeço. Pois a carta dela, tão cheia de vida, parece-me mil vezes mais com um túmulo do que a minha. Escrevo que não há metas e vc entende que considero indispensável tais metas e que eu teria muito gosto de sair à procura delas, ao passo que Sazonova escreve que não se deve seduzir o ser humano com vantagens que ele nunca vai receber... "Devemos prezar aquilo que existe" e, segundo a opinião dela, toda a nossa desgraça consiste em sempre buscarmos os fins mais elevados e mais remotos. Se isso não é uma lógica de camponesa ignorante, é uma filosofia do desespero. Quem acha sinceramente que fins elevados e remotos são tão desnecessários ao ser humano quanto são a uma vaca, e que nesses fins está "toda a nossa desgraça", a essa pessoa só resta comer, beber, dormir ou, quando ela estiver farta, tomar um impulso bem forte e bater com a testa contra a quina de um cofre."
Um sorriso de gozo desmoderado faz me refestelar na poltrona quando da leitura das últimas linhas desta carta; não apenas a ironia ácida, mas também o profundo senso acerca do ser fundamentam minha admiração pelas letras deste escritor. Partindo do princípio de que a vida no faz entender a obras, e vice-versa, e de que esta relação dialética é essencial para compreensão do todo não posso deixar de assumir como aprendizado este curto parágrafo que transcrevo, assim como muitos dos outros contos e referências (vide memória do dia 22/11/09) deste que escreve a vida como ela é.
Marcado significativamente na minha carne está o erro de se viver a vida através do prisma sensacional dos sentidos. O vazio da vivência sinestésica só pode ser preenchido através da interpretação, afinal é "impossível abster-se de pensar" e a tradução das experiências humanas produzem a matéria essencial da vida e da filosofia. Então os fins elevados e remotos devem ser divisados no horizonte como um objetivo, digo, para aqueles possuem afã para empreender tal jornada, sim, não obstante existe aquela casta de seres que se permitem subsistir na mediocridade, para estes não tenho nada a dizer. Afinal no alto da nossa pequenice existem mundos ou realidades e afiançar-se a paradigmas limitantes nos obstruem do contato e não é possível suprimir em mim esse querer de saborear todas as coisas.
Turbilhão que pode tomar de qualquer um a segurança e a sanidade, eu admito, para alguns tal caminho seguiu-se a loucura. Mas lançar a vista ao céu e exergar apenas nuvens e estrelas, apesar do espetáculo, pode ser tão pouco para alguns/para mim. O que Sazonova teme é a decadência moral, o caos do mundo civilizado conhecido, a ruína da rotina! Nós ambicionamos a criação - eu pelo menos nunca me contentei com a síndrome de guliver.
Abandonar o lar, as condições primais de conforto e juízo, suicídio ou não me proponho a tal busca ou pelo menos não nego tais quimeras. As eternas questões que alvoroçam o âmago da humanidade não se aquetarão com a simples imobilidade. Afinal como saberemos se não tentarmos? Se puramente nos omitirmos de aludir à questão estaremos realizando um bem contra este ensejo natural que pulsa dentro de cada um de nós? Desgraça é a dúvida e a incerteza!
Não posso me poupar de agradecer a quem me apresentou presente obra, uma das coisas boas suas que ficaram, de sempre referendado escritor.
sábado, 19 de dezembro de 2009
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