(Foto: no front eu dando uma de baderneiro na ponta de cinza)
"Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo."
Conflito deflagrado, peitos nus e palavras de ordem. Se nós jogamos flores eles respondem com bombas, se corremos eles nos perseguem. "O mundo entrou na USP" disseram, "isso nunca antes havia sido visto" redarguiram. "Nós levamos tiros e vcs querem fazer uma festa", vociferei! E pela segunda vez na minha vida ouvi aquela frase, filha das mesmas vicissitudes: "esse foi o pior dia da minha vida/nunca me senti tão mal." Serão as almas pusilânimes que negaram combate ou quiçá os tolos que ficaram e enfrentaram o fogo que me provocam essas idéias abjetas? O dia seguinte nasceu, alguns juraram que suas cores seriam diferentes, o que pude ver foram as vozes que não sabiam diferenciar entre o que ouviram e o que viram. "A FAU é pau-no-cu e seu componentes são uns escrotos" sentenciaram, pois a tarde seguinte veio a me ensinar que o MAE também era. Contudo, seria realmente possível divisar entre a comoção, revolta e ímpetos o que seria lógico e pragmático ou apático?
A noite custava a se definir, as horas definhavam meus nervos e a vontade de esconder meu rosto, aquele capuz que ocultava minhas expressões de amargura e ângustia - como as trevas carregadas das nuvens que toldaram os protestos do porvir - eram fruto dos pesares a que meu corpo esquálido era imposto carregar, aquele fardo era a preleção final da noite: sua negativa, sua ausência, sua indiferença com os sofrimentos de quem prometera compartilhar foram o rompimento dos últimos vínculos, aqueles laços, construídos desde de tempos imemoriais, que eu tanto demorei a me desapegar. Estava sozinho, assim como o Movimento, (das minorias radicais ou dos vãos esperançosos? eu não sei mais) que respirava ainda com dificuldade, pois o gás lacrimogênio não apenas sufocava os últimos atos desesperados como também anuviava as vistas dos que estavam além-muro. Reverberava por todas as barricadas, por todas as vanguardas, nas pedras que eram atiradas e nos corpos que gotejavam o brado surdo dos derrotados...
A ruína, o prejuízo e os retrocessos avançam-avançam, assim como as guardas negras do autoritarismo subservientista, dos tiros de borracha e granadas defensores do status quo das elites enclausuradas, arautos da nova ordem mundial reacionária. Entrincheirado, desprotegido no cadafalso de nossas salas de aula, só pudemos enxergar os últimos explosivos que caiam do céu, como em um destes infernos que o mundo moderno criou.
Se Brecht disse e os maus dias reanunciam por todos os cantos que estariam sozinhos aqueles que não se mobilizassem pelos outros, como posso chamar aos 78 mil ou a única que me importava que se mantiveram na letargia e inércia, inoperantes e insensíveis com seus irmãos?
quinta-feira, 11 de junho de 2009
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