"I hurt myself today
to see if i still feel.
I focus on the pain,
the only thing thats real.
The needle tears a hole;
the old familiar sting,
try to kill it all away,
but I remember everything.
what have I become,
my sweetest friend?
Everyone I know,
goes away in the end,
and you could have it all:
my empire of dirt,
I will let you down,
I will make you hurt.
I wear this crown of thorns
upon my liars chair:
full of broken thoughts,
I cannot repair.
Beneath the stains of time,
the feelings dissapear.
You are someone else,
I am still right here."
"Naquela madrugada oficiava a missa diária da limpeza com uma violência mais frenética que a habitual, tratando de purificar o corpo e a alma de vinte anos de guerras inúteis e desenganos de poder."
"Sei perfeitamente que não tenho mais de meio ano de vida; agora, parece, deveriam ocupar-me particularmente questões sobre as trevas de além túmulo e sobre as visões que hão de visitar o meu sono sepucral. Mas, por algum motivo, minha alma não quer saber dessas questões, embora a razão compreenda toda a sua importância."
Ao levantar aquelas pesadas palpebras pela primeira vez, como as janelas de um quarto de veraneio na última manhã da primavera, o mundo se apresentou - todo ele - de um único golpe, fazendo-se presente naquela sensação de dor desafortunada que os tapas de luvas brancas davam e o clima gélido de um ambiente inóspito completava. Os dias seriam seguidos de experiências que moldariam, não somente a face, mas também o espírito deste que acabava de acordar do sono primordial. Os próximos tabefes, mais pessoais e de efeitos mais profundos seriam sentidos nos anos voejantes de sua vida faceira e ignorante, o que em um diálogo despretencioso ele ouviria chamar de "vicissitudes dos maus nascidos".
Até os suspiros dos últimos dias, empapado em seu suor febril e desvalido das forças, ele não aprendera o que a rotina cançara de tentar ensinar. Se é que o verdairo engano não era da própria vida por nunca ter entrevisto um exemplo nas ações dos que cruzaram o seu caminho - afinal a relação de aprendizado não é de mão única entre discente e doscente? Era assim por conseguinte que ele terminava os estudos: sustentado pelo leito anônimo de um quarto escuro, quando todos que o conheciam pelo nome já haviam assomados a companhia dos mortos, mantendo-se vivos apenas nos retratos amarelos que se escodiam entre seus pertences, brincava ele e criava fascínio pelos pensamentos que vinham a sua mente. Apesar de manter em seu íntimo a soberba, não haveriam mais de ouvir contar as histórias que tanto fizeram escarner as passagens da sua juventude; não se lembrava mais ou simplesmente não se importava - o certo era que não poderia ser difícil para qualquer um notar a dor que aquele homem transbordava em sua expressão.
Se ele não papeava mais com estranhos e aos poucos a rispidez e a laconia foi da mesma forma apercebida pelo conhecidos era porque ele sentia que não poderia revelar o fruto de suas meditações. Os devaneios que o avizinhamento da morte sucitava em sua cabeça deveriam por alguma razão moral, que era desconhecida nos tempos modernos, serem preservadas do conhecimento alheio. Era a febre ou a ansiedade que fazia tremer-lhe o corpo inteiro? Era o cotidiano infernal dos dias ou a compreensão de que eles se findavam que o tornavam mais taciturno e desalmado? Se as respostas faltavam, ninguém da mesma maneira demonstrava empenho para procura-las..
Aquele ancião generoso e vicejante de compaixão era apenas sombra da figura que agora esbravejava e atirava objetos para fora do aposento, gestos repentinos que o machucavam muito mais do que aos outros; a loucura que enegrecia suas retinas só era substituida depois que a porta voltava a se fechar por algumas horas... as cortinas sempre cerradas nada ocultavam porque suas condições físicas limitantes o faziam preso a seus lençóis, o movimento todo logo, estava em sua cuca. Sua memória falha não tinha mais a capacidade de lhe comover, o que o assustava estava então, era sua atividade criativa ainda viva - e nestes instantes finais - inquientante.
A morte para muitos é repelida com extrema violência, mas somente àqueles que tem muito ainda a provar da vida tem este tipo de reação, para o nosso protagonista essa idéia ensejava certa atração. Se ela não era algo cruel e maligno neste momento, era pintada com doçura e resignação. Um estágio desconhecido da existência que de ninguém nunca antes derivara um depoimento convincente. Portanto, morrer para o nosso personagem era encarado como uma instância diferenciada da vida, cuja a passagem lhe daria vitalidade e entusiasmo renovados. O que aquele vulto carcomido e pálido queria era viver, exatamente por isso ele se concentrava no óbito.
Os lampejos na memória de uma vida branca e fresca afloravam de modo inconcluso e rasteiro, seus feitos inglórios eram despachados junto com todas as venturas que ele não sabia distinguir entre a literatura lida da noites enfadonhas ou das madrugadas quentes e aconchegantes que envolviam dois corpos nus. Todas as mentiras em um instante seriam verdade, todas as pilhérias deveriam perder a graça, pois não havia comicidade em paredes brancas de um asilo e a única musica que tocava era a do desprezo das falas ouvidas nos quartos contiguos ao dele, aonde outros se aventuravam pelas mesmas contingências.
Então ele esperava e imaginava, deixaria para trás todos os desenganos e as penitências de uma vida de promessas vazia - tanto feitas como recebidas - o sofrimento que latejava em seus ossos era como o retumbar que prenunciava um novo horizonte ou pelo menos uma nova chance, suas pupilas dilatavam como por ordem natural das grandes imagens que se multiplicavam à sua frente. Era um imenso portal, a transição por um longo tunel do qual uma luz forte em seu final parecia lhe chamar, lhe convocar!...
O corpo foi encontrado algunas horas depois já sem vida, contudo um semblante pujante, repleto de esperanças, nutria o que para muitos não passavam de delírios.
Os três excertos acima são apenas um montante de impressões, estímulos eloquentes que me impulsionaram de novo para as linhas em branco do meu caderno; comichões que formigavam meus dedos ávidos por lápis e papel, como se fosse possível uma tramissão/digestão natural do que é lido, pensado e escrito.
sábado, 13 de junho de 2009
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