domingo, 4 de outubro de 2009

21 de outubro de 1492

"Acho que voltamos ao Paraíso. Certamento, o mundo era assim no início dos tempos. Se os nativos tiverem de ser como nós que seja por meio da persuasão, e não da força. Nunca se verá o que vimos nesta terra pela primeira vez. Viemos em paz e com princípios. Não são selvagens, e também não seremos. Trate-os como faria com sua esposa ou filhos. Respeite sua crença. O furto será punico com chicote, o estupro, com a espada."

Os homens andam nus e as mulheres não tem preocupação em esconder suas vergonhas, uma criança é filha de toda a comunidade e não apenas responsabilidade de um casal. Aqui, a única ambição é o respeito, reconhecimento pelo bem comum que um destes filhos da aldeia se esforçou para oferecer a sua grande família. Não existem contendas, não existem desavenças, não existem diferenças entre a solidariedade e ações da vida cotidiana. Quem aqui chegar reconhecerá o paraíso ou o inverso do mundo ao qual ele não desejará mais regressar. Desejar corromper a pureza destes costumes será o maior de nossos pecados!
A simbiose entre os filhos desta cultura e a natureza é total, da terra retiram os frutos que suas necessidades solicitam, não usufruem mais do que precisam pois, assim sabem que sempre o terão. Em que momento, a partir de qual encruzilhada perdemos o rumos da sabedoria primal a qual estes homens parecem nunca ter se afastado? Saberemos retornar para nossas mulheres e filhos, através do oceano, e transmitir esta tradição? A candura e a bondade deve nos contagiar, mas temo que este quadro que pinto para os olhos incrédulos de Sua Majestade possa se perder, resistindo somente em nossa memória.
Encontramos, não imaginaríamos, com nossos irmãos nesta terra de imponente e exuberante belzeza, o calor e afago de sua recepção nos impressionaram e comoveram mais a mim do que a qualquer outro. Sinto que temos muito mais a aprender do que a ensinar, a Glória de Deus que trouxemos em nossas flâmulas e crucifixos devia a muito tempo antes ser conhecida por eles do que quando nos foi transmitida. Deus aqui, está em cada pedra, em cada riacho, em cada árvore - nelas, nossos anfitriões as escalam como as abraçariam, foi dela que subtrariam sua visão de mundo. Estes homens são filhos das árvores.

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