Como explircar meu apego ao pretérito, este fanatismo quase obsessivo por aqueles que já não estão mais comigo? Um afeto terno devotado a pessoas e momentos mortos; terá alguma causa ou justificativa plausíveis em tempos que a apelação material sobrepõe-se a elevação do espírito? Talvez minha fixação tenha relação com o plano infernal das vontades não atendidas, aonde o único modo de satisfazê-las estivesse orientado a instantes passados em que elas foram saciadas ou à fantasias de pleno gozo dos meus desejo mais íntimos! Dois caminhos prováveis se levarmos em consideração que ambos são alimentados pela minha memóra - faculdade que não sabe mais a diferença entre realidade e imaginação. Pois, então estarei tão afastado assim do meu nirvana pessoal? Minha afinidade aos mortos terá natureza tão simplória? Penso que não.
A dedicação expressada em meus verso, minhas cartas e desenhos não se refere às pessoas pura e simplesmentes, seres de carne e osso, tão voluveis como o nível do mar. Acredito mesmo que minha veneração a certos fantasmas - reflexos de um tempo que não volta por mais que eu clame - esteja dirigida na verdade às minhas reminiscências, bastiões imaculados da minha persistência em viver. Minhas memórias são de fato, não uma dádiva concedida pelo Olympo ou um tesouro poupado com anos de sovinice, mas o que me sobrou, aquilo que eu verdadeiramente tenho. Sabe, uma vida de 40 anos reserva alguns minutos de intenso brilho e outras tantas horas de extensa agonia, uma multidão de conhecidos e desconhecidos, seres que marcarão presença por atos falhos ou passagens de extrema significância, como aquelas primeiras vezes... Porém por dadas circunstâncias, incongruências do percurso ou do próprio discurso nos vemos afastados; separações que provocam dores lacinantes e intermitentes. Estaremos no fim da linha? O que será de mim quando não puder mais abrir esta janela que afronta minha vista com fronda de tão verdejante beleza? Meu amor reside sobre as pequenas coisas, entre elas, minhas lembraças, principalmente as mais latentes e pitorescas, detalhes deste quadro confuso e problemático que é o meu inconciente. Logo, aquela veneração não corresponde mais áquilo que está vivo, mas apenas ao que morreu e foi absorvido pelos meus poros.
A carne apodresse, a aragem varre as folhas secas do jardim, os laços se desvencilham e o amor náufraga em mentiras e promessas - então a que devo confiar meus sentidos? Posso comprometer as estruturas do meu edifício moral com material tão vagabundo?! Minhas recordações são eternas e inalienáveis, material bruto que compôs alma e corpo. Perduraram neste palimpseto mental histórias que comoverão as alianças mais longevas, motivarão os cavaleiros mais leoninos e salvarão os gênios mais corruptos! Se em mim elas tem apenas algumas décadas a mais, nestas páginas elas duraram para sempre.
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
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