domingo, 11 de outubro de 2009

Sobre a culpa

Culpa, peso que verga nossas espinhas e consome nossos interiores até talhar aquele vazio característico, pensando nessa mancha moral tão deletéria, me propus a desenvolver o conceito deste encargo que tolhe nossa felicidade e é inerente a natureza da humanidade. Este sentimento perveso, avesso ao orgulho e a austeridade, prende a todos em grilhões que nós mesmos concebemos, nascemos então com a estigma dessa culpa natural que deve nos afiançar em comportamentos de piedade e expiação. Como podemos então alcançar a felicidade, objetivo primeiro ambicionado pelo homem, se colocamos-nos como desmerecedores desta dádiva?
Colocando a questão sobre o prisma da coletividade, a conciência de culpa prevalesse através dos discursos que somos forçados a ingerir, seja em âmbito privado ou público, nos deparamos com procedimentos pré-fixados que devem ser seguidos sob pena do desregramento e da ilegalidade. Homilias, sejam oficiais ou institucional, nos conduzem por caminhos moldados pela culpa de obrigações não atendidas ou respeitadas, falo, claro, não só mas, principalmente do dever cívico e da cristianistas caritas que exigem da sociedade algo como uma penitência a ser cumprida por crimes nunca cometidos. Afinal, o pecado original, seja qual for a corporificação mitológica que assuma, não trata-se apenas de uma construção? Construção esta que levantada por interesses e intenções definidas não serviam a um fim prático? Não estou julgando, estou constatando. E o contrato social, não (só) o de Rousseau mas, aquele afixado na praça central, não deveria ser cumprido visando a uma ordem pública? Vivemos então, dentro uma ordenação que lança mão do conceito de culpa para racionalizar os seus princípios.
A solidariedade humana, logo, dentro dessa lógica, não pode ser encarada como propensão primal do individuo, mas apenas como preceito consuetudinário, conduta transmitida pela tradição ocidental cristã. Então, a que eu devo deduzir a indiferença geral ao próximo? Este subproduto indesejado que se dissemina por todo este grande organismo societário é resultado, a meu ver, do cancro maligno do capitalismo que corrompe o organismo por dentro! Assim, o indivíduo naturalmente mal é pervetido por esta moral abjeta e indizível do individualismo arrivista. Desta forma, abandonar a um irmão a própria sorte, renegado ao concreto frio e cinzento da poeira de escapamentos, quando este sofre e sangra, passa a atitude comum a ser tomada.

Esta crítica não é dirigida a sociedade ou ao indivíduo, ela tem como destino certo a minha própria pessoa, sou um subproduto, sou um ser manipulável, sou um espécime da raça humana.

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