sábado, 30 de janeiro de 2010
Diálogos
- Os livros me ajudaram muito. Às vezes, ajudam mais que os seres humanos, não acha?"
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
A garota da sacada
E essa uma vez teve um dia para mim, algo realmente suntuoso e de um brilho fulgurante que por alguns minutos desembaçou a minha vista das cores foscas que minha vida ordinariamente toma. Não tenho certeza se conseguerei transpassar com primor em palavras aquela corrente que percorreu todo o meu corpo em um átimo de tempo. Um sentimento diferente que marcou profundamente a minha alma. Sabe, há fatos ou pessoas, tomadas como definitivo, em nossas existências que muitas vezes passam por ela deixando nada menos do que insignificantes pegadas na memória. Creio, desafortunadamente, que o que me passou por este dia seja um exemplo desta sorte.
Tenho não mais do que poucas linhas para narrar o acontecido antes de eu me perder em deleite com estas doces reminicências que vão e voltam sem sobreaviso. Engraçado o destino dos homens, bombardeados a todos os intantes com experiências sinestésicas sem concequencias maiores, e então, julgam-se desnorteados após uma mera visagem e após isso, nunca tornam a ser os mesmos.
Tardo a inciar o meu relato, porque o peso daquelas impressões ainda toldam minha capacidade de concentração. Este conto não trata de um assunto de literatura fantástica ou pretende devendar algum escuso mistério humano, mas antes, conta com poucos detalhes - aqueles que a fantasia ainda não violou - do conhecimento que tive no mirante de uma sacada, na última sexta-feira, com a mais bela das criaturas moldadas pelo trato divino. O porvir da encenação entusiasmaria até mesmo o amante mais envaidecido, entretanto o engenho do meu procedimento teria que desapontá-lo no segundo ato. Pois, nada mais fiz do que observá-la naquela noite escura, aonde sua alva pele era iluminada apenas pela lua e pelas poucas estrelas que a noite paulistana deixava entrever. De cabelos curtos e negros que mal conseguiam encostar os ombros nus, ela me instigava com aquela insistência no nada. O que tanto refletia?
Que consolos buscava naquele ar insípido de madrugada fria? Presumo que sua sensação de solidão não era afetada pela minha presença, por isso, me mantive queto a admirar aquele estado de graça intocado.
Juro que as linhas daquela face nunca mais me sairão da cabeça, porque não era só a inanição daqueles movimentos que me tocavam e sim, também, a sutileza dos suspiros que ela dispensava ao léu. Jamais antes, a certeza de que todos os ritos femininos, sejam com quais intentos, eram realizados com toda a virtude e elegância, ficou tão clara.
Não posso dizer que sacrifiquei uma possibilidade, não posso acreditar em um enrendo que terminava com aquela dama em meus braços; tendo somente a suspeitar de que as mesmas intenções que motivavam o meu isolamento daquela festa arruinada eram as mesmas que assolavam a heroína dos meus cantos. Logo, escrevo não em face da chance perdida, mas em função dos ternos sonhos que aquela recordação tem me despertado a cada sono.
sábado, 23 de janeiro de 2010
Imagens do Inconsciente
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Lilli
"Lili, take another walk out of your fake world
Please put all the drugs out of your hand
You'll see that you can breathe with no back up
So much stuff you've got to understand
For every step in any walk
Any town of any thought
I'll be your guide
For every street of any scene
Any place you've never been
I'll be your guide
Lili, you know there's still a place for people like us
The same blood runs in every hand
You see it's not the wings that make the angel
Just have to move the bat out of your head
For every step in any walk
Any town of any thought
I'll be your guide
For every street of any scene
Any place you've never been
I'll be your guide
Lili, easy as a kiss we'll find an answer
Put all your fears back in the shade
Don't become a ghost with no colour
'cause you're the best paint, life ever made"
Era uma dessas noites em que sabemos que nada irá acontecer, mas que, apesar do desconforto e da instabilidade moral, atentamos para a esperança que ainda nos resta. Esperança de quê? Não estou falando de mim, oculto entre essas linhas faço o mero papel de narrador. Descrevo então, no escasso talento que transparece destes vocábulos, o aparente conformismo daquela garota solitária que, encostada a mureta da sacada, aguarda o arrastar das horas frias de uma madrugada qualquer de março. Ela se chama Lilli, tem lindos olhos castanho escuro que não refletem mais que a educação na qual foi adestrada. Em um festa, uma comemoração de todo ignorada, sustentando um copo pela metade de vinho ela se empenha na promessa que fez a si mesma - seria uma noite para ser outra pessoa. Mas quem?
Os mesmos rostos e os mesmos diálgos, não é presciso escrever sobre a motivação de cada uma daquelas pessoas que a rodeavam sem a perceberem, para entender a situação. Em um quadro por terminar, ela seria a peça mais apagada de uma alegria incontida que pinceladas macias tentavam transmitir. Assumido papel de contraste - devaneios avoados reforçavam a expressão de indiferença - uma "atriz em tanto", diriam, se aquilo fosse um teatro. Os passos que haviam guiado ela até o centro da cidade e ao hotel então, não eram os mesmos que tinha dado até aquele instante de sua vida, na verdade era na imobilidade daquela posição afastada que ela tentava se movimentar. Paradoxo incomum para um pefil de tão belos traços.
Andar sobre as teclas de um piano quando a melodia é fugaz e efusiva tende a ser mais difícil do que em uma canção lenta e melancôlica. E quem é que está afim de dançar? Outras vestes, um novo nome, não usurpavam a totalidade, o indivíduo acabava sendo o mesmo, não importava a capa. Eram duas, três da manhã, os minutos ecoavam em um labirinto de monotonia que tinha pouco a oferecer; teremos um final distinto até a próxima aurora? O que ela queria era uma companhia agradável, alguém que lhe fizesse sentir-se viva e retirasse a lembrança de quem ela era e para onde iria. Infelizmente para uma história assim, o dia seguinte não seria premissa de um destino melhor, logo, o sol já despontaria no horizonte e ela ainda se sentiria perdida, mesmo sabendo aonde estava.
Tenho o mesmo sangue que corre em suas veias, tento te conduzir aqui de cima, contudo, apesar das largas calçadas vc parece não permitir que anônimos caminhem do seu lado, como posso chegar junto de ti? Apelo, simplesmente, esteja sob a luz e no escuro, quando elas se extinguirem, olhe para cima, para o céu. Não se preocupe, eu estarei bem, se vc estiver bem!
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Desde a primeira tempestade
Por tantos anos a minha vida foi navegar por essas águas de tormentas, cessadas somente por ternos e amaldiçoados dias, que me davam assim, a pérfida esperança de uma bonança eterna. O irromper de uma nova aurora então, me apresentava o desgostoso engano de crer em promessas de mares tão traiçoeiros, aos poucos um horizonte que se mostrava acolhedor e provocante recaia em uma noite de trevas e borrasca. É de um pesar lancinante tal desventura de navegante, pois as alternativas que a vida desponta não incorrem por outros caminhos que não os do oceano, estamos sempre sujeitos às intempéries do clima. Maldita seja a sina!
É com um perdido olhar que eu me ponho a refletir, a intenção perscrutadora aqui não pode ser divisada na expressão inacabado de minha face. Tento distinguir a origem de tanta angústia e sofrimento, lástima incoerente que me enolve noite adentro. Por enquanto, posso aduzir somente as incômodas cargas que tantos temporais me trouxeram, creio realmente que estes novos fardos moldaram as feições do meu corpo e do meu caráter - um espírito modelado a dor de tantas ilusões e combates! Sabe, Srta. D'Aiglemont, não sinto a opressão deste sentimento diminuir a cada novo levante destas vagas, sinto as antes, mais impiedosas e impudicas. O que colocam em prova, minha resistência ou persistência? Sei apenas, que uma das certezas que nascem pós término do presumido última confronto com Plutão é a de estar mais forte e igualmente mais desesperançoso. Sendo assim, não é a tirania da mágoa que se abranda, mas sim a minha tolerância que aumenta.
Sofri apenas em si, tanto egoísmo fez com que meu semblante estivesse por tantas vezes nublado aos outros, menos acessível serão minhas mostras de humanidade, me desengano deste modo? Não, simplesmente respeito e aceito meu fado de marinheiro errante e pedante.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Sobre uma crença para aqueles que nos procederem
Construída sobre milhões de anos e bilhões de cabeças estão os fragmentos de uma passado glorioso que os homens do meu tempo souberam afundar em pilhas de lixo e ruína. Só consigo guardar comigo o pessimismo ao volver as costas para enxergar a linha cronológica sinuosa e descompassada dos passos que demos até estes dias. Será que não nos apercebíamos que o projeto de nossos pais e avós inadvertidamente nos levaria a auto-destruição? Não guardarei na memória as maravilhas erigidas pela urbe, sejam as pirâmides de Gizé ou a torre de Abu Dhabi, meu interesse maior antes, residirá na experiência trazida pelos povos campestres. O contato que este homens tiveram com a terra e as árvores fundamentaram o conhecimento que tento aqui, nestas parcas linhas, transmitir. As crenças que os múltiplos povos cultivaram no decorrer destes milênios sobre os continentes constituem a essência de suas culturas, o meio pelo qual podemos dar luz aos variados aspectos de sua vida social, seus costumes e suas visões de mundo, da mesma forma, eu sou descendente de um pensamento, ao qual tentarei passar adiante a chave de sua compreensão. No raro ânimo que ainda posso investir de meus punhos, desenharei os traços da representação daquilo que temos como motivo maior para viver, nosso Deus, a mãe Terra, que, tanto eu como vc, conhecemos tão bem - infelizmente de ângulo diferentes.
Temos uma religião dominante e dentro desta cosmogonia a Terra figura como divindade toda poderosa; de sua onipotência, onipresência e onisciência devemos a vida que surgiu do caldeirão primordial; é dela que retiramos o alento de nossos corpos e espíritos; de suas entranhas descobrimos a inspiração e o afã que nos fez andar sobre duas pernas. Se estamos a mercê de seus desejos e temperamento intempestivo e repentino, é também nela que encontramos o abrigo de suas desventuras. De variados nomes e corporificações no suceder de suas idades, em outras mitologias de mundo ela surgia como Gaia, Tlaltecuhtli, Geb, Ki, entre outros tantos títulos, sempre relegada a uma posição desprivilegiada no panteão das deidades da natureza. Até quando, nós, tolos homens, aprendemos a venerá-la com a distinção e pompa que lhe era cabida entretanto, no alto dos meus duzentos anos eu também assisti a degradação deste culto e perda da fé entre meus iguais, restando assim, em poucas décadas somente miséria e dor quando nos voltamos imperiosamente contra nossa criadora.
Sob concreto e chumbo deixo então, em descanço as incrições que revelam a motivação que antigamente nos guiava; acredito que com a ciência delas vcs possam restaurar e salvar a litugia que antes fazia verdejar os claros prados das amplas planícies e dal qual éramos seus sarcedotes e seguidores e fazer finalmente, renascer a devoção, que sustentávamos e penso que também vcs a detinham em mente, das graças que nos eram atingidas pela mãos de nossa grande mãe Terra.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
O Vermelhor e o Negro
Vinte e três anos não foram o suficiente para a conquista de meus objetivos, as glórias que me traíram as vestes vermelha e negra são contadas com sofreguidão por aquele que as perto chegou de sua posse, um pequeno-burguês filho de carpinteiro, quem diria?! A memória que me foi agraciada guarda a narrativa desta história, em um tempo infinito, tenho a certeza de que perdurará pelos séculos nas vezes em que cada leitor me legar suas horas de atenção e paixão. Meu gênio incomum e talento me trouxeram a fama que por sua vez, fez procriar tantas inimizades. Teriam me chamado de Jacobino se provas lhe permitissem e se pois, não estivessem por demais apreensivos com suas cabeças, ameaçadas que eram pela sombra da Revolução que ainda pairava sobre os céus. Intensidade, é deste adjetivo que lanço mão para descrever cada um dos percalços sofridos em minhas andaças - com ele combati a invenja, o orgulho e o desprezo; teria mais vitórias se com diligência me colocasse ao lado de Napoleão no derradeiro front.
O século XIX das dissimulações guarda consigo o erro de senhorita de la Mole em não ter se submetido desde a primeira hora ao amor que lhe fez verter lágrimas sobre a minha cabeça dessepada enquanto a enterrava na terra remechida, unicamente por suas mãos. Esta gruta então, que domina a montanha de Verrières será meu sepulcro e local de alento para o caração dos amantes fustigados que, se eu não pude me dizer guilhotinado, dirão eles isto e todas as confidências que retive amargamente.
Devo-lhe perdão e amor por desonrar-te e isto é tudo!
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
Death is nothing
Eram dessas insatisfações e frustrações que, como acúmulo de pedrinhas no meu bolço, tornam-se mais claras quando do drama de alguém que se aproxima do fim ou quando sua fala se remete a este. Pois, encontrar o termo de tanto anos de existência deveria mesmo ser encarado com infelicidade? Ou antes, não digo o contrário, mas como a plena satisfação do sentido que uma vida poderia ter? Creio que é no alvorecer destes últimos instantes que devemos nos assomar de dignidade e resignação para o derradeiro sermão que a vida nos presta. É neste suspiro último que apresentaremos o valor que tivemos por tantos e tantos anos de noviciado. Para muitos, essa verdade somente será revelada nos momentos finais, quando pensarmos estar ouvindo o toque dos clarins que compõe a melodia dos anjos, olvidamos assim, pouco a pouco de uma realidade tão penosa. Descontentes não, agraciados sim, com um pranto de glória e gratidão.
Penso também que tal experiência não é reservada a todos os espíritos ordenados nas fileiras da humanidade. Haverão àquele que tomada de assalto, a morte lhes poupará de qualquer juízo, após que, depois das fronteiras terrenas temo não poder mais conjecturar. Dessa forma, entrevejo apenas contentamento em um falecimento que se aproxima paulatinamente ou naquele que tem sua data marcada. Diferentemente daqueles que pensam em um calvário, prefiro imaginá-lo como redenção.
Prolongar nossa passagem por estas bandas é, acredite, também fazer recrudescer o número de nossos pesares. Como o cisnei que ao se aperceber da chegada do que serão seus momentos finais ecoa o mais belo de seus cantos, eu, igualmente, quero estar pronto e desejoso de apreço.
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
Uma noite de Julien e senhora de Rênal
Continuamos então, a encenar os belos papéis que proporcionavam gozações contidas e bons vídeos, mas nos atentavamos antes às desavenças já superadas, ou pelo menos entedidas por mim, Julien, como tal; pois me contradizia o progresso de horas de palestras travadas, onde eu via uma a uma, suas provas desprezadas. "Uma alma como a de Julien há de ser acompanhada por toda a vida por recordações como essas." No entanto, o que prendia a minha atenção durante as longas horas/minutos de silêncio era a inclinação que me levava a refletir sobre as pequenas causas em detrimento das grandes questões.
Algo que sempre me foi considerado motivo de extravagância era essa crença afiançada em um marco temporal. Efeito colateral do meu pessimismo ou não, meu desgoto por esse costume estava patente em minhas ações. Pretexto para festividade ou pura fé coletiva? Antes tal explosão de alegria imoderada fosse ocasionada pela filosofia do tempo intrísseca e não por mera convenção do calendário gregoriano. Porque, quero sua sinceridade, por um caso uma nova era se estenderá com o raiar do novo dia aos nossos olhos? Não e vc sabe, teremos no mínimo uma nova folha de calendário pregada na parede.
Essa relação do tempo/calendário com a sociedade atual me é ainda obscura, talvez a idéia de mudança ao final de cada um dos ciclos de 365 dias esteja na concepção linear e progressiva do tempo, mas não sei... Sinto antes, que minha discussão particular não teria sido abreviada tão precocemente se eu não tivesse dado-me ao trabalho de degladiar com a dama das contradições que acha graça em tais querelas.