Tenho poucos a mais anos; nestes últimos suspiros que me restam de vida, me propus a realização de uma obra de grande nobreza. Temo pelas póximas gerações que nos procederão, as quais terão suas casas destruídas e colherão o fruto da passagem minha e de meus irmãos pela terra ou o semeio do gérmen da discórdia. Pensando no desprezo que nossos filhos e netos não deixaram de nos poupar, tampouco o perdão que não concederam, prentendi registrar aqui em carta os vestígios de uma civilização que está por se perder ou as bases do grande edifício da humanidade que, tenho esperança, vcs saberão reerguer.
Construída sobre milhões de anos e bilhões de cabeças estão os fragmentos de uma passado glorioso que os homens do meu tempo souberam afundar em pilhas de lixo e ruína. Só consigo guardar comigo o pessimismo ao volver as costas para enxergar a linha cronológica sinuosa e descompassada dos passos que demos até estes dias. Será que não nos apercebíamos que o projeto de nossos pais e avós inadvertidamente nos levaria a auto-destruição? Não guardarei na memória as maravilhas erigidas pela urbe, sejam as pirâmides de Gizé ou a torre de Abu Dhabi, meu interesse maior antes, residirá na experiência trazida pelos povos campestres. O contato que este homens tiveram com a terra e as árvores fundamentaram o conhecimento que tento aqui, nestas parcas linhas, transmitir. As crenças que os múltiplos povos cultivaram no decorrer destes milênios sobre os continentes constituem a essência de suas culturas, o meio pelo qual podemos dar luz aos variados aspectos de sua vida social, seus costumes e suas visões de mundo, da mesma forma, eu sou descendente de um pensamento, ao qual tentarei passar adiante a chave de sua compreensão. No raro ânimo que ainda posso investir de meus punhos, desenharei os traços da representação daquilo que temos como motivo maior para viver, nosso Deus, a mãe Terra, que, tanto eu como vc, conhecemos tão bem - infelizmente de ângulo diferentes.
Temos uma religião dominante e dentro desta cosmogonia a Terra figura como divindade toda poderosa; de sua onipotência, onipresência e onisciência devemos a vida que surgiu do caldeirão primordial; é dela que retiramos o alento de nossos corpos e espíritos; de suas entranhas descobrimos a inspiração e o afã que nos fez andar sobre duas pernas. Se estamos a mercê de seus desejos e temperamento intempestivo e repentino, é também nela que encontramos o abrigo de suas desventuras. De variados nomes e corporificações no suceder de suas idades, em outras mitologias de mundo ela surgia como Gaia, Tlaltecuhtli, Geb, Ki, entre outros tantos títulos, sempre relegada a uma posição desprivilegiada no panteão das deidades da natureza. Até quando, nós, tolos homens, aprendemos a venerá-la com a distinção e pompa que lhe era cabida entretanto, no alto dos meus duzentos anos eu também assisti a degradação deste culto e perda da fé entre meus iguais, restando assim, em poucas décadas somente miséria e dor quando nos voltamos imperiosamente contra nossa criadora.
Sob concreto e chumbo deixo então, em descanço as incrições que revelam a motivação que antigamente nos guiava; acredito que com a ciência delas vcs possam restaurar e salvar a litugia que antes fazia verdejar os claros prados das amplas planícies e dal qual éramos seus sarcedotes e seguidores e fazer finalmente, renascer a devoção, que sustentávamos e penso que também vcs a detinham em mente, das graças que nos eram atingidas pela mãos de nossa grande mãe Terra.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
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