"Não será um erro crer que os sentimentos se reproduzem? Uma vez despertos, não existem sempre no fundo do coração? Aí adormecem ou despertam ao sabor dos acidentes da vida, mas aí permanecem, e esta permanência modifica necessariamente a alma. Assim, qualquer sentimento existiria apenas um dia, o dia mais ou menos longo da sua primeira tempestade."
Por tantos anos a minha vida foi navegar por essas águas de tormentas, cessadas somente por ternos e amaldiçoados dias, que me davam assim, a pérfida esperança de uma bonança eterna. O irromper de uma nova aurora então, me apresentava o desgostoso engano de crer em promessas de mares tão traiçoeiros, aos poucos um horizonte que se mostrava acolhedor e provocante recaia em uma noite de trevas e borrasca. É de um pesar lancinante tal desventura de navegante, pois as alternativas que a vida desponta não incorrem por outros caminhos que não os do oceano, estamos sempre sujeitos às intempéries do clima. Maldita seja a sina!
É com um perdido olhar que eu me ponho a refletir, a intenção perscrutadora aqui não pode ser divisada na expressão inacabado de minha face. Tento distinguir a origem de tanta angústia e sofrimento, lástima incoerente que me enolve noite adentro. Por enquanto, posso aduzir somente as incômodas cargas que tantos temporais me trouxeram, creio realmente que estes novos fardos moldaram as feições do meu corpo e do meu caráter - um espírito modelado a dor de tantas ilusões e combates! Sabe, Srta. D'Aiglemont, não sinto a opressão deste sentimento diminuir a cada novo levante destas vagas, sinto as antes, mais impiedosas e impudicas. O que colocam em prova, minha resistência ou persistência? Sei apenas, que uma das certezas que nascem pós término do presumido última confronto com Plutão é a de estar mais forte e igualmente mais desesperançoso. Sendo assim, não é a tirania da mágoa que se abranda, mas sim a minha tolerância que aumenta.
Sofri apenas em si, tanto egoísmo fez com que meu semblante estivesse por tantas vezes nublado aos outros, menos acessível serão minhas mostras de humanidade, me desengano deste modo? Não, simplesmente respeito e aceito meu fado de marinheiro errante e pedante.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
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