quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O Vermelhor e o Negro

Ah, morrer de ventura! Um plebeu como eu, vendo derramado a meus pés duas das senhoritas de maior estirpe da França! Como pode ser? O caminhos que infortunadamente a vida me fez percorrer me conduzem para aqui, neste calabouço de penúria, para o que serão os meus úlitmos dias... Sabes, minha amiga, acho que posso agradecer tal destino que a providência me proporcionou, toda minha felicidade está agora neste singelo prazer de tocar tão doces mãos conduzidas por este braços nus e delicados. Cinco anos a mais contigo é o que peço a ti, Deus todo poderoso, despótico e vingativo que as horas de vigília sob a luz da bíblia me apresentaram. A dignidade e a impassividade de minha expressão me guiarão até o cadafalso; que amarguem meus inimigos ao não divisarem em meus olhos a cor do desespero que lhes da gosto. Estes são meus últimos pensamento, registrados aqui, na primeira pessoa de Julien de Sorel.
Vinte e três anos não foram o suficiente para a conquista de meus objetivos, as glórias que me traíram as vestes vermelha e negra são contadas com sofreguidão por aquele que as perto chegou de sua posse, um pequeno-burguês filho de carpinteiro, quem diria?! A memória que me foi agraciada guarda a narrativa desta história, em um tempo infinito, tenho a certeza de que perdurará pelos séculos nas vezes em que cada leitor me legar suas horas de atenção e paixão. Meu gênio incomum e talento me trouxeram a fama que por sua vez, fez procriar tantas inimizades. Teriam me chamado de Jacobino se provas lhe permitissem e se pois, não estivessem por demais apreensivos com suas cabeças, ameaçadas que eram pela sombra da Revolução que ainda pairava sobre os céus. Intensidade, é deste adjetivo que lanço mão para descrever cada um dos percalços sofridos em minhas andaças - com ele combati a invenja, o orgulho e o desprezo; teria mais vitórias se com diligência me colocasse ao lado de Napoleão no derradeiro front.
O século XIX das dissimulações guarda consigo o erro de senhorita de la Mole em não ter se submetido desde a primeira hora ao amor que lhe fez verter lágrimas sobre a minha cabeça dessepada enquanto a enterrava na terra remechida, unicamente por suas mãos. Esta gruta então, que domina a montanha de Verrières será meu sepulcro e local de alento para o caração dos amantes fustigados que, se eu não pude me dizer guilhotinado, dirão eles isto e todas as confidências que retive amargamente.

Devo-lhe perdão e amor por desonrar-te e isto é tudo!

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