sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Uma noite de Julien e senhora de Rênal

A doçura de uma relação só pode ser descrita nos detalhes; um toque cadenciado ou um mero olhar compõe o que de mais prazeiroso é oferecido aos olhares escusos. Entretanto, o quadro do qual eu pretendo revelar algumas pincelas se furta aos tratos delicados e privilegia somente os mais violentos. Alçar-se à varanda de um amor proibido na calada da noite pode não ser mais perigoso que enfrentar a dama a qual as janelas encerram. O que se permite então, bisbilhotar pelas frestas é uma lengalenga de aproximações e rechaços, arranhões e mordidas, um jogo de inteções dúbias. O que a débil resistência da senhora de Rênal tenta impor? Não sabe que ao menor vacilo de suas convicções ela tombará frente a tentação?
Continuamos então, a encenar os belos papéis que proporcionavam gozações contidas e bons vídeos, mas nos atentavamos antes às desavenças já superadas, ou pelo menos entedidas por mim, Julien, como tal; pois me contradizia o progresso de horas de palestras travadas, onde eu via uma a uma, suas provas desprezadas. "Uma alma como a de Julien há de ser acompanhada por toda a vida por recordações como essas." No entanto, o que prendia a minha atenção durante as longas horas/minutos de silêncio era a inclinação que me levava a refletir sobre as pequenas causas em detrimento das grandes questões.
Algo que sempre me foi considerado motivo de extravagância era essa crença afiançada em um marco temporal. Efeito colateral do meu pessimismo ou não, meu desgoto por esse costume estava patente em minhas ações. Pretexto para festividade ou pura fé coletiva? Antes tal explosão de alegria imoderada fosse ocasionada pela filosofia do tempo intrísseca e não por mera convenção do calendário gregoriano. Porque, quero sua sinceridade, por um caso uma nova era se estenderá com o raiar do novo dia aos nossos olhos? Não e vc sabe, teremos no mínimo uma nova folha de calendário pregada na parede.
Essa relação do tempo/calendário com a sociedade atual me é ainda obscura, talvez a idéia de mudança ao final de cada um dos ciclos de 365 dias esteja na concepção linear e progressiva do tempo, mas não sei... Sinto antes, que minha discussão particular não teria sido abreviada tão precocemente se eu não tivesse dado-me ao trabalho de degladiar com a dama das contradições que acha graça em tais querelas.

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