domingo, 14 de novembro de 2010

Barco Bêbado

Por que tanta amargura? Eivo meus dias de pensamentos ruins e comportamentos deletérios, me pergunto quão forte podem ser os laços das relações que sustentam minha presença dentro da sociedade. Como animal político tento minimamente cumprir as minhas funções, mas me desnorteio quando o convívio social exige calor humano ou mesmo a vulgaridade de diálogos tolos. O que me faz fugir das rodas de amigos e comemorações festivas? É a curiosidade dos olhares que me cercam e a transparente leveza dos seres que contrasta com a minha agonia. Me enlevo de uma tal sensação digostosa que não me resta outra saída se não a rua e o isolamento.
Nesse quadro cujos detalhes são borrões e toda paisagem não passa de uma nuvem de vapores, a imagem de um barco sem remos e sem leme me parece atraente. Sem direção ele está submetido aos gênios das ondas e do vento e por mais tenaz que seja a estirpe a qual pertence nada pode fazer para recriar a sua condição. E tensão dessa fortuna se intensifica com a inexistencia de horizonte - o anuviamento da vistas - que lhe oculta para onde vai ou de onde saiu. Tal movimento cadente provoca uma impressão de embriaguez, como barco bêbado ele permanecerá a deriva durante toda a viagem até uma borrasca decidir um encontro com rochas ou corais. Um fim cuja falsa-originalidade somente pode revelar as profundezas do oceano.
Não foi um romance, foi um relato; não houve intrigas ou aventuras, simplesmente decepções de um enredo mal escrito e não haverá um título, apenas uma breve citação. Durante toda narrativa, trajeto, viajem ou coisa que o valha sua uníca companhia foi um reflexo animado pelo tremor da superfície do mar - um rosto de quem a familiaridade nuna lhe revelou a real identidade.


E mergulhei então no Poema do Mar,
todo de astros mesclado, e leitoso, a beber
os azuis verdes, onde, a flutuar e a sonhar
um absorto afogado às vezes vai descer;

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