sábado, 20 de novembro de 2010

Lembrança e Esquecimento




Sobre uma superfície estofada, acomodados sob almofadas que nos envolvem em um suave odor de ervas, olhamos para o alto e o que enxergamos é uma tenda cuja cores nos elevam até a eteridade do céu. Vc sabia que um arco-ires tem muito mais do que sete tonalidades? Ele tem tantas possibilidades assim como infinitas são as possibilidades das idéias; como entidades multiformes e ao mesmo tempo metamorfosiantes. Convidativo ao corpo físico dos visitantes, esse espaço dá antes uma oportunidade à mente. O relaxamento dos músculos torna-se uma ocasião privilegiada ou antes uma porta de passagem para o campo da memória, uma ensejo de tal conveniência para a livre associação de idéias e reminicências.
Mas qual seria a relação entre lembrança e esquecimento? É possível pensar alguma coisa sem antes esquecer de todas as outras ou ainda não é imprecindível para se esquecer de um pensamento se recordar de outros? Lembrar e esquecer tornam-se logo movimentos constitutivos e indispensaveis do processo de pensar. A construção das idéias é, por excelência, uma via de duas mãos aonde existe um livre - as vezes caótico - trânsito desses excessos.
Se vc já recostou a sua cabeça e está absolvido de todas as tensões do inferno cotidiano, agora durma e sonhe, não somente sonhe, mas antes experimente em sua natureza primal o florecimento e maturação do campo das idéias. Falo obviamente, do mundo dos sonhos. Pois, é nessa esfera do onírico aonde podemos observar ou infelizmente apenas imaginar a verve deste ensaio em seu estado puro. Inconcientemente e involuntariamente nossa cabeça trabalha compulsivamente no engendramento de uma realidade que muito tem do que somos, mas também do que não sabemos sobre nós mesmos. Afinal, como diria Freud, o sonho é a realizaçõ recalcada de um desejo reprimido. Assim, o que vivenciamos quando não estamos em nossa condição de vigília é o cosmos da transcendênica, uma região aonde convivem todos os registros de nossas experiência em harmonia/conflito com todos os nossos desejos e medos. Um carnaval que depois se converte em silêncio quando despertamos. Lembrança e Esquecimento creio, tem um pouco dessa verdade também.
De vez em quando essa troca nos toca rotinamente e não chegamos a dar atenção; percebemos sim unicamente em um estágio posterior. Como nos fala Jorge Luiz Borges quando escreve: "só possuímos aquilo que perdemos; aquilo que perdemos, esquecemos e depois lembramos", essa versão tem um pouco do que nos conta um dos heterônimos de Fernando Pessoa, Alvaro Campos. Em um poema aonde ele fala sobre uma pobre menina glutona: "Come, pequena suja, come! Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!". Sabe, tudo isso é sobre como a vivência do tempo presente se perde em sensações para acabar de olvidar-se da significação. Não constatamos a felicidade ou quiçá tristeza daquele instante efêmero para só depois descobrirmos o que estava à nossa frente e é nesse flagrante que podemos nos reconhecer como possuidores da idéia/experiência.
Nesses ínfimos minutos aonde vcs estiverem? Em que lugar as cores, os aromas, a textura, a aragem de todos esses sentidos levou vcs? Voltemos então, à horizontalidade porque a digestão de toda essa verborragia pode custar muitas das suas próximas noites. Espero ter-lhes sido util.

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